Presidente corre para
evitar debandada de tucanos da base
Agência O
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Globo -3 horas atrás
Diante do desgaste causado pelas denúncias da cúpula da Odebrecht
envolvendo seu nome e os de líderes do PMDB, o presidente Michel Temer
intensificou o processo de reaproximação com os tucanos. Ele se reuniu nesta
segunda-feira com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o líder do
governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP). No domingo, já se encontrara
com o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).
Na reunião no Palácio do Jaburu, Temer afirmou aos tucanos que está
disposto a nomear Imbassahy ministro da Secretaria de Governo. Porém, antes de
oficializar a decisão, quer costurar melhor a indicação com os partidos do
centrão (PP, PSD, PR, PTB, entre outros) que também são da base aliada.
Para o encontro com os tucanos, Temer adiou por algumas horas sua viagem
para São Paulo, onde à noite participou, ao lado do governador Geraldo Alckmin,
de um evento no Palácio dos Bandeirantes. A cerimônia foi organizada pelo Lide
(Grupo de Líderes Empresariais), coordenado pelo prefeito eleito de São Paulo,
o tucano João Doria.
No café da manhã com Aécio, Temer discutiu a questão de Imbassahy e a
necessidade de se aprovar nesta terça-feira no Senado a PEC do teto, que
estabelece um limite para o crescimento de gastos públicos, além da Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017, em sessão conjunta do Congresso.
Segundo dirigentes tucanos e peemedebistas, Temer queria anunciar a
nomeação de Imbassahy só em fevereiro, após o recesso e a eleição da Mesa da
Câmara, para não afrontar líderes do centrão, que também querem comandar a
Casa. Mas, com o agravamento da crise e notícias de que setores do PSDB
estariam pregando o desembarque do governo, Temer deve antecipar esse anúncio.
— O Aécio e o Aloysio foram lá hoje para dizer a Temer que não é
possível continuar assim, que ele tem que se impor e parar com esse vai-volta.
E não é pelo bem do PSDB, é pelo bem do seu governo — disse um dos dirigentes
tucanos.
Líderes do PMDB descartam a possibilidade de debandada dos tucanos por
causa do episódio Imbassahy e do agravamento da crise causado pela divulgação
de delações da Odebrecht.
— Se houver desembarque do PSDB, vamos ter uma revolução de rua no
Brasil. Ninguém aguenta mais outras confusões — avalia um dos líderes do PSDB
no Congresso, que esteve com Temer no final de semana.
O centrão iniciou nesta segunda-feira um movimento para contestar a
intenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de tentar se reeleger
ao cargo. Ontem à noite, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), protocolou na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa uma consulta sobre a
viabilidade da reeleição para um mandato-tampão, caso de Maia.
Mais cedo, Jovair já havia afirmado que entrará com
recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Maia, caso oficialize sua
candidatura. Ontem, galhardetes de campanha de Jovair à presidência da Câmara
apareceram em postes da Esplanada dos Ministérios. Ele, assim como outros
líderes do centrão, rebelaram-se contra a intenção de Temer de nomear Imbassahy
para a Secretaria de Governo. Na visão de Jovair, isso favoreceria a reeleição
de Maia, uma vez que Imbassahy passaria a apoiar o atual presidente da Câmara.
Cinco ameaças que pairam
sobre o governo Temer
14 horas
atrás
Apesar de ter pouco tempo de vida, o governo Michel Temer já passa por
sua maior prova de fogo.
O novo capítulo da crise que atinge em cheio a gestão do peemedebista
foi escrito na sexta-feira, com o vazamento da delação de Cláudio Melo Filho,
ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. Ele acusa Temer e
vários de seus ministros de envolvimento em um esquema de repasse de recursos
em troca de favores à empreiteira - o que os políticos negam.
Analistas sugerem ser prematuro antecipar o fim do governo Temer.
Contudo, segundo prevê a Constituição, se ele deixasse o cargo antes do dia 31
de dezembro deste ano (por renúncia ou cassação), haveria novas eleições.
Depois disso, caberia ao Congresso eleger o novo presidente indiretamente.
Confira
cinco ameaças que pairam sobre a gestão.
1) Delações da Odebrecht
O vazamento do conteúdo do acordo de delação premiada de Melo Filho caiu
como uma bomba no governo Temer.
Nele, o ex-executivo cita 51 políticos de 11 diferentes partidos. Sobre
Temer, diz que o atual presidente pediu pessoalmente R$ 10 milhões a Marcelo
Odebrecht, dono da empreiteira, para as campanhas do PMDB em 2014. O nome do
peemedebista é mencionado 48 vezes na delação.
Temer negou "com veemência" as acusações.
"O presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas
acusações do senhor Cláudio Melo Filho. As doações feitas pela Construtora
Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE.
Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente", diz o
comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto também na sexta-feira.
Em carta enviada nesta segunda-feira ao procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, Temer pediu rapidez nas investigações e classificou como
"ilegítima" a divulgação de trechos vazados de acordos de delação.
"O fracionado ou porventura lento desenrolar de referidos
procedimentos pré-processuais, a supostamente envolver múltiplos agentes
políticos, funciona como elemento perturbador de uma série de áreas de
interesse da União", disse.
Melo Filho também citou dois ministros da alta cúpula do governo e muito
próximos ao presidente: Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco, secretário
de Parcerias de Investimentos. Ex-ministros, como o senador Romero Jucá
(ex-Planejamento) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) também são
mencionados no material.
Nomes da alta cúpula do PMDB, partido de Temer, também foram citados,
como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o líder do partido na casa, o
senador Eunício Oliveira. Todos negam irregularidades.
A delação de Melo Filho é apenas uma de outras 77 envolvendo executivos
da Odebrecht. O acordo de leniência foi assinado pela empreiteira com os
procuradores da Lava Jato no último dia 1º de dezembro.
Mas para que as delações sejam homologadas por Teori Zavascki, ministro
do STF (Supremo Tribunal Federal) e relator dos processos relacionados à
operação na corte, os executivos precisam apresentar provas e prestar
depoimentos para confirmar o que apresentaram de forma resumida na negociação.
Nos bastidores, aliados do governo Temer já discutem pedir a anulação da
delação de Melo Filho, a exemplo do que ocorreu com a do ex-presidente da
construtora OAS, Leo Pinheiro, que também vazou na imprensa.
Ao custo jurídico - se comprovada a irregularidade, o presidente poderia
perder o cargo em última análise - soma-se, principalmente, o custo político,
já que o governo pode não aguentar a pressão das ruas ou a erosão de sua base
de apoio no Congresso.
2) Julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE
O TSE deve julgar no começo do
ano que vem a ação contra a chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer em
2014.
A ação é de autoria do PSDB. O
partido defende que Dilma e Temer cometeram abuso de poder político e econômico
e tiveram a campanha à reeleição abastecida com recursos desviados da
Petrobras.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro
Herman Benjamin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), relator do processo,
afirmou que a apresentação do relatório-voto da ação deve acontecer em
fevereiro.
A decisão sobre quando será
apresentado o relatório-voto será anunciada nesta terça-feira.
Se julgar a ação procedente, o
ministro também terá de decidir se cassa Dilma ou se cassa a chapa Dilma-Temer.
Mas o voto de Benjamin terá ainda
de ser apreciado por seis outros ministros que compõem o plenário da corte,
presidida por Gilmar Mendes, ministro do STF.
3) Pressão das ruas
Outro risco que tem o potencial
de abreviar o governo Temer pode vir das ruas.
Mas isso dependerá de uma adesão
mais ampla aos protestos contra o governo.
Uma pesquisa do Datafolha
divulgada nesta segunda-feira revelou que a rejeição ao presidente disparou.
Segundo o levantamento, 51% dos
brasileiros consideram o governo de Temer "ruim" ou
"péssima", frente a 31% em julho.
Já os que veem a gestão como
"regular" somam 34%, uma queda em relação aos 42% da pesquisa
anterior, quando o peemedebista ainda era presidente interino.
O índice dos que avaliam o
governo como "ótimo" ou "bom" caiu de 14% para os atuais
10%. Não souberam opinar 5% dos entrevistados.
De acordo com o Datafolha, metade
dos brasileiros veem Temer como autoritário e 58%, desonesto. Já 65% julgam o
presidente como falso (65%), muito inteligente (63%) e defensor dos mais ricos
(73%).
Em uma escala que vai de zero a
dez, a nota média dada ao governo é de 3,6.
Além disso, 63% da população
afirma querer que Temer renuncie imediatamente para que eleições diretas sejam
realizadas.
A pesquisa foi feita antes dos
novos detalhes da delação da Odebrecht envolvendo o peemedebista.
Em setembro, logo após o
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, milhares foram às ruas contra
Temer e pediram novas eleições.
Já no fim do mês passado, as
principais capitais do país registraram protestos contra a PEC do teto dos
gastos, a anistia para o caixa dois eleitoral e o atual governo.
4) Deterioração da economia
A recessão prolongada também vem testando a paciência dos brasileiros
com Temer.
Segundo a mesma pesquisa do Datafolha, a população avalia negativamente
as perspectivas da economia.
Nos últimos meses, a situação econômica do país piorou na opinião de 65%
dos brasileiros e se manteve estável para 25%. Somente 9% disseram que houve
melhora.
Para 66%, a inflação vai aumentar; 19% acreditam que ficará como está e
11% preveem queda.
Já 67% esperam por um crescimento do desemprego, enquanto 16% afirmaram
que o índice vai diminuir e 14% que ficará estável.
Em relação ao poder de compra, 59% acreditam que vai cair, 20% que não
vai mudar e 15% que aumentará.
O pessimismo é compartilhado pelo mercado.
Segundo um comunicado do banco Itaú Unibanco, "as reformas fiscais
continuam a avançar, mas a incerteza política cresceu".
"A atividade econômica decepcionou negativamente, por isso
reduzimos nossa expectativa do PIB para 2017. A inflação continua a cair, a
taxa de câmbio permanece próxima ao equilíbrio e esperamos que o Banco Central
acelere o ritmo de corte dos juros em janeiro", informou o banco em nota
enviada à imprensa nesta segunda-feira.
No trimestre encerrado em setembro, o PIB (Produto Interno Bruto, ou a
soma de riquezas produzidas pelo país) recuou 0,8% em relação aos três meses
anteriores, a sétima queda consecutiva nessa comparação.
Já de acordo com o último boletim Focus, mediana das estimativas do PIB
feita com base nas opiniões das instituições financeiras e divulgada toda
semana pelo BC (Banco Central), a economia vai crescer apenas 0,7% no ano que
vem, ante a 0,8% previsto anteriormente. Foi a oitava queda consecutiva.
Além disso, o desemprego subiu para 11,8% no terceiro trimestre (julho a
setembro). Trata-se da maior taxa de toda a série histórica da Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). Atualmente, o Brasil soma 12 milhões de desocupados.
Com o objetivo de neutralizar o impacto das delações da Odebrecht, Temer
decidiu acelerar o anúncio de um minipacote econômico, com a previsão de criar
200 mil postos de trabalho nos próximos quatro anos.
As medidas giram em torno da facilitação de crédito e devem ser
anunciadas ainda nesta semana.
Paralelamente, o governo quer aprovar nesta terça-feira - ou seja, antes
do recesso do Congresso, em 16 de dezembro - a LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) de 2017 e a admissibilidade da Reforma da Previdência pela
Constituição de Constituição e Justiça da Casa.
Outro foco de Temer é votar ainda nesta semana a PEC do teto dos gastos
em segundo turno no Senado.
5) Perda de apoio político
Ainda que conte com o Congresso a
seu favor - cenário diferente do de Dilma, por exemplo -, Temer precisa evitar
a todo custo a debandada dos partidos aliados, sobretudo do
"centrão".
Formado por representantes de 12
siglas (PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL), o
"centrão" consiste em um bloco informal de cerca de 200 deputados
governistas do chamado "baixo clero" e vem sendo o fiel da balança de
governabilidade do peemedebista.
Recentemente, porém, houve
atritos entre o grupo e o Palácio do Planalto. Um deles foi a indicação do
deputado Antonio Imbassahy, do PSDB, líder do partido na Câmara, para ocupar o
cargo de Secretaria do Governo no lugar deixado por Geddel Vieira Lima.
O "centrão" também está
de olho na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, atualmente
ocupada por Rodrigo Maia (DEM-RJ), em fevereiro do ano que vem. Maia é
candidato à reeleição.
"Aumentamos de 10% para 20%
o risco de Temer cair, mas, apesar desse risco ter aumentado, ele ainda
permanece baixo. A variável-chave para saber se isso deve acontecer vai
depender se haverá protestos significativos nas ruas pedindo sua saída ou se
ele perderá apoio no Congresso. Mas ambas as hipóteses permanecem pouco
prováveis", informou um comunicado divulgado pela consultoria de risco
político Eurasia Group.
"Com a economia não dando
sinais claros de uma recuperação robusta, os congressistas sabem que se Temer
cair (...), a recessão pode se arrastar para 2017. Isso pode se provar
desastroso para quem está tentando se eleger em 2018 em um contexto no qual os
eleitores estão irritados com a classe política e as fontes tradicionais de
financiamento para as campanhas das construtoras secaram."
"Com menos de dois anos para
as eleições de 2018, o principal ativo de Temer no Congresso é de o que a
maioria dos legisladores veem no sucesso de sua gestão a única forma de evitar
um cenário de 'terra arrasada'", finalizou a nota.
obs:postagens sem fotos
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