Raphael
Tsavkko Garcia 3 dias atrás
© Adriano
Machado / Reuters
Mesmo analistas políticos
calejados andam com alguma dificuldade em acompanhar e entender essa season
finale da política brasileira em 2016.
Juristas divergem publicamente
sobre a legalidade de ações do STF, do Senado, da Câmara. Estamos diante de um
cenário absolutamente impossível
de fazer previsões de mais de algumas poucas horas. O clima geral é de
confusão, de revolta e até de desespero. Aqueles militantes políticos seguem ainda mais confusos.
Sobra ódio, falta memorando do partido
informando como devem pensar. Nem senadores do mesmo partido se entendem. Agora
imaginem o cidadão comum, aquele que não dá tanta bola pra política, que vota,
que reclama da situação do País, mas que mal lê jornal ou no máximo tem o
Jornal Nacional como referência e o Whatsapp ou o Facebook como principal fonte
de "informação" (não que a turma que se "informa" por
outros meios esteja muito melhor). Não faltam casos em que o dito "cidadão
comum" é capaz de análises políticas mais refinadas e pé no chão do que a
maior parte dos analistas com múltiplos diplomas por ser ele, em geral, o alvo
de políticos e a vítima de políticas das mais diversas.
A experiência, no caso, vem da própria pele. Mas imaginem que se entre muitos de nós (classe média, intelectuais,
acadêmicos, profissionais liberais com algum status, jornalistas, etc) a
desesperança e a desconfiança em relação à política e políticos começa a
despontar com força, imagina quem é vítima de primeira ordem de toda essa
confusão, de todas as medidas que beiram o criminoso (como teto de gastos, como
reforma da previdência que condena os mais pobres a morrerem sem nunca se
aposentar, etc)?
Alguns autointitulados
especialistas (em geral jornalistas com veia terrorista sem responsabilidade
alguma, apenas subservientes ao seu partido) começam a "temer" este
sentimento de "fora todos", de que "todos os políticos são
iguais" e etc. Antes de mais nada, o sentimento de revolta da população
contra políticos, assim como a visão de que são todos bandidos não é nova. Nem
de longe.
O esporte favorito do brasileiro
(depois do futebol) é falar mal de políticos. Sempre foi assim e provavelmente
sempre será. Claro, o que vemos é um processo de radicalização dessa
desconfiança/crítica bem brasileira (tipo quando o carioca encontra um amigo na
rua e diz pra aparecer mais e ele nunca aparece) que pode, sem dúvida, levar a
uma desconfiança, digamos, mais ativa das instituições. Não creio (ainda) no
fenômeno Trump.
Não penso que o Bolsonaro ou qualquer outro com veia mais
radical (ou mesmo fascista) tenha ainda capacidade de atrair votos suficientes
para se eleger ou sequer chegar num segundo turno.
Pode, no entanto, ganhar força
política e ter poder de barganha, mas penso que ainda exista um teto. O
problema é que não podemos viver de esperanças de que o extremo não vença e não
temos muitas opções para combater esse crescimento do extremismo político,
especialmente porque o extremismo tem se manifestado também à esquerda.
Um extremismo petista que há
tempos eu chamo de forma jocosa de neoPTcostalismo, mas que tem
realmente tomado ares de patologia grave. Voltando à questão da desconfiança: o
problema maior não é sua existência ou mesmo seu aumento, e sim a completa e
absoluta falta de alternativas.
Não há nenhuma alternativa viável
que se possa vislumbrar, nem vindo da direita, nem da esquerda. Um lado tem
apenas o radicalismo de Bolsonaro, o PSDB carcomido de sempre ou alguma
porcaria minoritária risível como o homem do Aerotrem ou algum pastor. Do outro
lado líderes de DCE que não passaram dos anos 90 e são incapazes de ver o quão
são ridículos ou Lula, o salvador da pátria envolvido até o pescoço em
corrupção, mas com uma legião de fanáticos.
O flaxflu político em que estamos
imersos cria dois polos absolutamente radicalizados, mas com uma imensa parcela
da população no meio sendo forçada a escolher um dos lados -- especialmente
diante da completa desmoralização de políticos e mesmo da política -- e pese
minha crença (porque no fim é isso, uma crença, uma esperança) de que os
extremos ainda não tem tanto poder de atração, é impossível saber até
quando.Diante da continuidade do impasse entre poderes e da completa corrosão
da política brasileira em que realmente poucos ou quase nenhum se salva(m) é
muito difícil ver maneiras de sair da crise em que nos metemos -- e cada vez
mais soluções estremas parecem ser as únicas.
Estamos diante do perigo real de
erosão ou mesmo implosão das bases da democracia brasileira e o que sairá disso
é muito difícil de prever.
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