por Alexa Salomão |
Estadão Conteúdo
Foto: Agência Brasil
Nos últimos 12 meses, cerca de R$ 1 trilhão deixou
de circular na economia brasileira. Essa montanha de dinheiro equivale aos
créditos bancários que foram sendo pagos pelos devedores e não retornaram ao
mercado na forma de novos empréstimos, bem como à expansão natural do mercado,
que não ocorreu. Isso significa uma queda de 25% em relação ao que deveria
estar circulando se a economia estivesse operando em níveis
"normais". O volume de crédito bancário que gira na economia hoje é
equivalente ao disponível em 2012. Para os especialistas, isso mostra que o
Brasil vive uma "crise de crédito" e não sairá da recessão se esse nó
não for desatado. O levantamento foi feito pela gestora de recursos Rio
Bravo Investimentos, com base nas variações do estoque de crédito monitorado e
divulgado pelo Banco Central. O curioso é saber o que motivou o levantamento. O
economista da Rio Bravo, Evandro Buccini, ficou incomodado porque os
indicadores de confiança na economia permaneciam otimistas, mas os índices
sobre a situação atual não melhoravam. E pior: a recessão se aprofundava.
"Fomos checar as componentes do nosso modelo, que traça cenários, e nos
deparamos com essa queda no crédito. Está explicado: sem crédito, sem dinheiro,
a economia não vai mesmo reagir", diz. Segundo Buccini, a partir
desse dado, fica mais claro que, apesar de União, Estados e municípios estarem
com sérios problemas nas contas públicas, que precisam ser sanados, o fiscal
não é cerne da recessão. O que vem corroendo a economia é o que a literatura
econômica chama de "credit crunch", crise de crédito. No caso do
Brasil, originada e realimentada pela explosão das dívidas. A economista
Zeina Latif, da XP investimentos, há meses alertava para essa questão e lembra
que o enrosco tem duas pontas.
Reunião do Conselhão, já na gestão Temer | Foto: Marcos Corrêa / PR
De um lado estão devedores enforcados. Cerca de 22%
do orçamento familiar está comprometido com o pagamento de juros de dívidas e
praticamente metade das empresas tem geração de caixa inferior às suas despesas
financeiras. Ou seja: os tomadores de crédito precisam digerir altas
concentrações de dívidas. De outro lado estão os bancos, que já renegociaram
débitos, ainda temem o calote e não querem - nem podem - correr o risco de
emprestar mais em meio a uma recessão sem prazo para terminar. Trata-se exatamente
do que parece ser: um círculo vicioso, que só vai se encerrar com o pagamento
das dívidas. Quando Zeina falou na primeira reunião do Conselhão, em
Brasília, que a "lua de mel" com o mercado estava em risco, e o
governo precisava ser mais ágil para reanimar a economia, tratava, em parte,
dessa questão. "Apesar de o fiscal exigir atenção, também temos uma crise
de crédito que pode até evoluir para risco de insolvência (termo financeiro que
significa risco de os devedores darem calote)", diz ela. O minipacote
anunciado na semana passada, se for efetivado, pode dar alívio, mas está longe
de resolver o problema, diz Zeina. Monica de Bolle, pesquisadora do
Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, dedicou um recente
artigo no Estado sobre o tema e reforça: "O diagnóstico sobre as causas da
recessão estava errado: o Brasil sofre com uma crise de crédito. Todos estão
muito endividados: famílias, empresas, municípios, Estados e, inclusive, a
União." Ela lembra que o tempo de digestão de altas concentrações de
dívidas pode ser longo e penoso. O que acelera o alívio é uma eventual
intervenção dos governos. Guardando-se as devidas proporções, Monica lembra que
os Estados Unidos viveram um "credit crunch" com o estouro da bolha
imobiliária, em 2008. A diferença é que lá os bancos foram arrastados, o que
não ocorreu aqui, pelo menos até agora. Para sair dela, o governo
americano gastou US$ 850 bilhões para socorrer bancos e empresas, mais US$ 4
trilhões com o "quantitative easing", programa de aquisição de
títulos soberanos lastreados em hipotecas, e derrubou o juro a 0,25% - até
a semana passada. A economia americana agora entra nos eixos - oito anos e US$
5 trilhões depois. "Sem chance de o Brasil, neste momento, fazer algo
minimamente parecido", diz Mônica.
Com placar de 53 x 16 votos a PEC dos Gastos foi aprovada no
Senado no segundo turno.
O fato gerou protestos em todo país e o texto congela os
gastos com saúde e educação por 20 anos.
É decididamente um governo ao congelar os gastos públicos se
apropriar do direito de futuros mandatários de escolher os parâmetros sobre a
escolha de em quais vetores realizarem maiores investimentos.
O governo argumenta que é uma aposta em longo prazo para
controlar as contas públicas, sem precisar fazer corte de gastos ou aumentar
impostos.
Será que o objetivo vai ser alcançado?
Enquanto isso técnico do Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicada aponta que em 20 anos a saúde pode receber a menos R$743 bilhões e a
Educação em 10 anos perderá mais de R$32 bilhões.
E o social como
ficará?
O que se pode esperar de um governo
no poder sem ter sido votado? E o desastre está à vista...cadê os paneleiros?
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Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.Como o teto de gastos do governo deve explodir57 de 76Alan Marques - 2.jun.2016/FolhapressO teto de gastos do governo corre grande risco de desabar logo em 2019, primeiro ano do próximo presidente. Em termos práticos, será muito difícil fazer com que a despesa caiba no limite agora imposto pela Constituição.Os gastos com Previdência continuariam a crescer mesmo com esta reforma dura, e as despesas de saúde e educação terão um piso. O restante terá de se acomodar em um espaço cada vez menor. Algo vai espirrar de modo explosivo.O teto deveria durar pelo menos até 2026. Logo em 2018, no entanto, será necessário cortar gastos em valor equivalente a tudo o que o governo federal investirá em obras neste 2016 (isto é, cerca de R$ 44 bilhões ou 0,7% do PIB).Em 2019, a conta do talho sobe para R$ 77 bilhões ou 1,1% do PIB (tudo em valores relativos ao PIB de 2017). É o equivalente a quase três Bolsas Família. A mais do que se gasta com seguro-desemprego e abono salarial. A três quartos de toda a despesa com aposentadorias de servidores federais.De onde vêm esses números?O "teto" na prática congela a despesa federal em valores de 2017, em termos reais (isto é, haverá correção apenas pela inflação). Caso a economia, o PIB, cresça segundo o estimado, o gasto do governo como fatia do PIB deve diminuir de 19,3% do PIB para 15,3% do PIB em 2026.Caso seja aprovada na íntegra a reforma proposta pelo governo, o gasto com Previdência e benefícios assistenciais (Loas) passaria dos 8,9% do PIB deste 2016 para 9,13% em 2019, caindo então até 8,8% em 2026. São projeções da Secretaria da Previdência.Suponha-se que não haverá aumento de despesas com saúde e educação (nem pode haver redução, pela lei, em termos absolutos, de valor "em dinheiro"). Mas, como proporção de um PIB que se supõe crescente, essas despesas também cairiam.Ainda assim, as despesas mínimas com saúde e educação somadas às da Previdência reformada vão engolir progressivamente fatia cada vez maior da despesa federal (que vai cair mais rápido, em relação ao PIB).Será preciso cortar no resto, cada vez mais, ano a ano, até 2026.No quinto ano do teto, em 2021, seria preciso cortar 1,8% do PIB: o equivalente a quase 70% do gasto com os salários de servidores federais na ativa.São apenas exemplos. Não é preciso cortar em bloco, em só um tipo de despesa, é claro. Mas nota-se o tamanho do problema, enorme mesmo que seja aprovada na íntegra a reforma dura da Previdência, enorme mesmo que não se eleve em nada a despesa com saúde e educação.Adianta aumentar impostos? Não, caso o teto esteja em vigor: as despesas estarão congeladas. A arrecadação extra seria utilizada para reduzir o deficit do governo (despesa acima da receita).Cada vez mais economistas reputados e tidos como liberais, ortodoxos ou o apelido que se dê, acreditam que será necessário cobrar mais impostos a fim de reduzir o deficit mais rápido, permitindo assim uma redução também mais rápida dos juros, em tese.De qual imposto se fala? CPMF.
Reduzir o deficit, portanto, não
resolve o problema de fazer com que a despesa não estoure o teto. Não evita o
conflito político tremendo que sobrevirá com a necessidade de fazer cortes
gigantescos de gastos, se é que isso será, na prática, factível.
Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais
importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e
econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Quando se imaginaria que
veríamos o Congresso sob domínio de aventureiros?
18/12/2016 02h00
Dois em cada três brasileiros desejam a renúncia de
Michel Temer. Só dez em cada cem lhe concedem a graça de um apoio, proporção
verificada ainda antes dos "vazamentos" da Lava Jato sobre Temer.
Única preocupação que de fato o inquieta e mobiliza, essa fragilidade crescente
será revertida em grande parte, na opinião de Temer e ao seu redor, com o
aproveitamento promocional durante o recesso parlamentar e judicial, de agora a
fevereiro. Providências nesse sentido já estão em curso, dirigidas a setores da
imprensa e da TV. Mas não falta o "outro lado".
O aproveitamento do recesso está nos planos também
dos opositores a Temer e às suas alegadas reformas. Partes importantes dos
movimentos sociais planejam aproveitar este período para organizar, com redes
de internet e com o setor sindical, reações aos retrocessos originários do
governo Temer.
Entre o otimismo aflito e a remobilização
pretendida, os políticos deixaram sinais sugestivos e vão recolher em seus
Estados, queiram ou não, impressões influentes. Deputados e senadores deixaram
claro que as dúvidas sobre a permanência de Temer estavam cada vez menos sutis.
No PSDB, sócio do governo, e no DEM as menções a Fernando Henrique eram claras
quanto a acontecimentos possíveis, ou previstos, para 2017. No PMDB, Nelson
Jobim foi citação corrente, inclusive como solução a que o PT não se oporia.
Foi nos dois esteios da própria base governista, portanto, que a substituição
de Temer se tornou cogitada no Congresso.
Em seus Estados, o que os deputados e senadores vão
encontrar será a figuração em carne, osso e voz daquele desequilíbrio esmagador
entre Temer e a expectativa dos brasileiros. É um velho consenso em política,
embora nem sempre confirmado, que os parlamentares de volta dos recessos não
são os mesmos que o iniciaram. A repetir-se mais uma vez a influência dos
conterrâneos, já se sabe em que rumo os acontecimentos virão.
Mas é muito difícil entender como o Brasil
permitiu-se chegar à baixeza cultural e política que ostenta –e levou-a ao
paroxismo nas duas últimas semanas. Só países muito chinfrins se deixam
estropiar por um governo inerte e incapaz, repleto de exemplares da pior
condição moral. E ver sem reagir a sua já insuficiente indústria desintegrar, o
comércio fechar portas incontáveis, o investimento fugir, o futuro apodrecer
antes de ser.
E o povo sofrido perder outra vez, como nos 500
anos anteriores aos poucos em que pela primeira vez deixara de perder. E
perdida a pequena melhoria, é o desemprego de volta, é a queda dos salários, o
atraso do pagamento. É a perda de direitos. É a pobreza de volta à miséria.
E quando se imaginaria, retirada a ditadura, que
nas altitudes das instituições democráticas assistiríamos —passivos, como se
apenas víssemos um filme— ao Congresso sob o domínio de aventureiros e
presidido por um réu e acusado em numerosos inquéritos? E esse Congresso, o
Ministério Público e o Judiciário a se engalfinharem na disputa de desrespeitos
e abusos de poder.
Nesse país ensandecido, e vergonhoso, faz-se o
teste definitivo dos militares: se têm resíduos dos tempos cucarachos ou se,
como parece, passaram adiante do país em civilização.
Como descobriu o "Drive Premium",
informativo de Fernando Rodrigues e equipe, na quarta-feira Michel Temer
recebeu João Roberto Marinho para jantar. Foi a segunda vez, sendo a primeira
logo ao tomar posse. Mas o que Temer queria agora? Queixar-se de certo
noticiário da TV Globo. Quer conter as divulgações negativas para sua imagem.
Poderia, talvez, incomodar-se um pouco com as informações negativas sobre a
situação do país.
Na mesma quarta, opositores faziam uma
reunião em São Paulo, inclusive com presenças ilustres, para examinar hipóteses
de mobilização.
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