Jurisprudência Renan e Temer refém
O autor é jornalista
por
Alex Ferraz
Publicada em 09/12/2016 07:14:07 – Tribuna da Bahia
No mais recente, e
dos mais bizarros, episódio envolvendo políticos brasileiros, quando o ministro
do STF Marco Aurélio Melo intimou Renan Calheiros a deixar a presidência do
Senado, ficou mais uma vez patente o comportamento titubeante, e, mais do que
isso, a dependência absoluta que o presidente Michel Temer tem de velhas e
retrógadas raposas políticas.
Renan, claramente,
DESAFIOU a corte suprema da Justiça brasileira, driblou o oficial de Justiça
encarregado de lhe entregar a intimação, fez do emissário judicial gato e
sapato, no mais autêntico estilo de devedores banais que se esquivam da corte
para não cumprir suas responsabilidades.
No entanto, e numa
decisão que surpreendeu a todos pelo “poder” de Renan, o STF, agindo
“politicamente”, decidiu praticamente criar um novo conceito constitucional e
manter Calheiros na presidência do Senado, embora sem condições de estar na
chamada linha sucessória da Presidência da República.
É opinião corrente
que o Sr, Renan, que tem 12 processos correndo no STF, dos quais, em um, já
virou réu, debochou da Justiça. Negou-se a atender uma ordem judicial, atitude
que faria qualquer um de nós, mortais comuns, ir parar imediatamente na cadeia,
mesmo não tendo qualquer antecedente processual, o que, claro, não é o caso do
presidente do Senado.
A situação deve ter
levado Lula et caterva, além de outros de partidos diferentes na mira da Lava
Jato, ao delírio. Devem estar pensando: “Tá vendo aí, que essa Justiça
brasileira não é de nada!”
Aliás, as expressões
que têm como intuito denegrir a imagem da Justiça e do Ministério Público no
Brasil – todas oriundas de gente mais acostumada com a molecagem do que com um
mínimo de dignidade – multiplicam-se geometricamente. Não faz muito tempo, o
próprio Renan, ao se sentir acossado por investigações dentro do Senado, chamou
o juiz de “juizeco” e o ministro da Defesa de “chefete” de Polícia.” Mais
recentemente, há coisas de dois ou três dias, vazou e viralizou nas redes
sociais vídeo mostrando Lula com um copo de bebida na mão (ate aí, tudo
bem...), classificando o pessoal da Lava Jato de “moleques”. Todos os que têm
culpa no cartório não perdem tempo em atacar a Justiça, o MP e, mais
diretamente, o juiz Sérgio Moro.
Até por conta disso,
e toquei no assunto recentemente na minha coluna diária nesta folha, comentei
que Lula e todos aqueles que atacam Sérgio Moro, acusando-o de “abuso de
autoridade”, se alguma dignidade tivessem, deveriam estar acampados na frente
da Polícia Federal, em Curitiba, defendendo com unhas e dentes a libertação de
TODOS os presos, inclusive empreiteiros, pois todos, pelo visto, são alvo do
“abuso de autoridade” de Moro e sua força- tarefa. Mas, que nada! Na verdade, e
desde Joaquim Barbosa e o mensalão, nenhum “cumpanheiro” pôs os pés nas cadeias
para solidarizar-se com os colegas presos, a exemplo de Dirceu e Palocci.
Fecharam-se num
hipotético nicho na confiança de que estão ACIMA da lei neste país, onde, na
verdade, o abuso de autoridade só vale para o pobre, o miserável que no mais
das vezes sequer é preso, posto que executado sumariamente (aos milhares) pela
Polícia.
Outro aspecto do
enojante episódio protagonizado por Renan, e de certa forma corroborado pelo
STF, é que, a partir da decisão da corte maior, cabe a nós entender que foi
criada uma “jurisprudência”, ou seja, qualquer mortal comum pode, agora,
desdenhar das intimações judiciais e safar-se numa boa.
Mais um detalhe: a
cada episódio envolvendo seus auxiliares ou parceiros políticos, Temer
demonstra sua fraqueza e sua total dependência de gente que, no mínimo, deveria
estar no banco dos réus. Como vimos, parece que o futuro da economia
brasileira, o futuro do País, está nas mãos de pessoas que sofrem mais de uma
dezena de processos na Justiça e que necessariamente não se destacam por
honestidade e altivez, mas sim por seu envolvimento nos piores e mais
comprometedores hábitos na vida pública (aliás, isso me faz lembrar uma frase,
não recordo de quem, que diz: “Certos políticos querem fazer na vida pública o
mesmo que fazem na privada”).
Enfim,
o desfile da jactância, da arrogância, da boçalidade, parece que, mais uma vez,
saiu vitorioso diante da lei e da Justiça. Aonde vamos parar?
Opinião
Luiz Holanda
A proteção constitucional, legal e judicial da bancada da corrupção
Publicada em 06/12/2016 08:17:40 - TribunadaBahia
Em entrevista à Rádio
Eldorado-ESPN, de São Paulo, num virulento ataque à comunidade gay e em defesa
do seu direito de ofender impunemente, o deputado federal Jair Bolsonaro disse
que tinha imunidade para falar e para roubar, dando a entender que nem a Câmara
nem o Judiciário poderia condená-lo.
Realmente, o deputado
tem razão. Nossa Constituição, nossas leis e os viciados costumes enraizados em
todos os órgãos e poderes da nação, consideram que os criminosos de colarinho
branco podem ofender e roubar impunemente. E não se trata, apenas, de meter a
mão no dinheiro público. Roubar, em sentido amplo, significa corromper, ser
corrompido, extorquir, se enriquecer ilicitamente e garantir a impunidade dos
ladrões.
A poderosa bancada da
corrupção –atualmente maioria na Câmara e no Senado-, sabe que conta com o
apoio de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para, inclusive,
aprovar o chamado projeto Frankenstein, que desfigura completamente o pacote
anticorrupção apresentado pelos valentes procuradores da República, visando,
pelo menos, diminuir o assalto aos cofres públicos praticado pela maioria de
nossos deputados e senadores.
Para tanto contam com
o aopoio de alguns ministros do STF, que fazem questão de fragilizar o próprio
poder que integram. Apoiaram a desfiguração do projeto pela Câmara dos
Deputados, que começou com a aprovação dos relatórios contrários ao parecer
apresentado pelo deputado Onyx Lorenzoni. No Senado, na calada da noite, depois
das 4 horas da madrugada, no afã de garantir a apreciação da Operação Abafa,
Renan, réu num processo criminal aberto (pro forma) pela maioria dos ministros
daquela Cirte comandou a votação do projeto pretendendo deixá-lo igualzinho ao
que foi aprovado na Câmara.
A manobra,
apresentada num requerimento de urgência assinado pelas principais lideranças
do Congresso, inclusive do PT e do PSDB, com o apoio do senador Aécio Neves,
teve origem na reunião sobre a proposta de Renan com o líder do PMDB no Senado,
Eunício Oliveira, que tinha como objetivo esvaziar a operação Lava Jato.
Se essa manobra fosse
vitoriosa, o projeto alterado pela Câmara poderia ir imediatamente à votação no
Senado, sem qualquer exame nas modificvações feitas pelo relator, por sinal
rejeitadas pelo Ministério Público e pelas associações de magistrados de todo o
país.
A bancada da corrupção sente-se protegida por alguns ministros de nossa Suprema Corte, à frente o notório ministro Ricardo Lewandowski, que, recentemente, barrou a investigação para apurar a compra de um imóvel em Miami, supostamente adquirido pelo deputado Marco Maia, segundo denúncia do ex-vereador petista Alexandre Romano. Os adversários do ministro o acusaram de se alinhar demasiadamente ao PT.
A bancada da corrupção sente-se protegida por alguns ministros de nossa Suprema Corte, à frente o notório ministro Ricardo Lewandowski, que, recentemente, barrou a investigação para apurar a compra de um imóvel em Miami, supostamente adquirido pelo deputado Marco Maia, segundo denúncia do ex-vereador petista Alexandre Romano. Os adversários do ministro o acusaram de se alinhar demasiadamente ao PT.
A abertura de
inquérito para apurar esse fato foi solicitada pelo procurador-geral da República
Rodrigo Janot. A hipótese é de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O
processo caiu nas mãos de Lewandowski, que autorizou a abertura do inquérito
mas barrou as duas principais diligências solicitadas por Janot: acesso ao
conteúdo dos celulares de Marco Maia e a cooperação internacional com
autoridades americanas para obter o documento do imóvel.
A defesa do deputado
nega que ele seja o proprietário, mas, segundo o ex-vereador, a compra do
imóvel foi um acerto com uma empresa que teria dado ao deputado R$ 2,5 milhões
para ele comprar o apartamento. Esse fato foi amplamente divulgado pela
imprensa, assim como a negativa do deputado.
O senador Romero
Jucá, também acusado de corrupção, numa gravação vazada pela Folha de São
Paulo, disse que os os ministros do STF teriam relacionado o apoio ao
impeachment de dona Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores
pela continuidade das investigações da Lava Jato.
Outro ministro,
considerado recordista em arquivamentos e abafamentos de escândalos,
principalmente quando envolve o PSDB, é Gilmar Mendes. Esse ministro é chamado
em certos círculos de Brasília de juiz-empresário. Está sempre tirando fotos ao
lado de Renan e é tido como importante colaborador na confecção do projeto que
amordaça o Judiciário, quando era presidente do STF, esquecendo-se que, se esse
projeto for aprovado, a primiera vítima será ele.
Mendes é seguido pelo
colega petista Dias Tofffoli, que, por ocasião da apreciação do recebimento da
denúncia contra Renan, tornando-o réu (pro forma, é claro), pediu vistas dos
autos sob o argumento de não tê-los recebido a tempo. Logo depois, na votação
que, por 8 a 3, recebeu a denúncia apenas pelo crime de peculato, votou
rejeição.
Não
é sem razão, pois, a afirmação do deputado Bolsonaro de que tanto ele como os
seus colegas podem ofender e roubar livremente, pois estão garantidos pela
Constituição, pelas leis e por nosso Judiciário, que jamais os punirão. O problema
é que, agora, o povo, que a tudo acompanha, começa a ocupar as ruas para
protestar contra a corrupção e a impuni9dade, e isso ninguém esperava.
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