É senador pelo DEM-GO.
Escreve aos sábados,
a cada duas semanas.
Escreve aos sábados,
a cada duas semanas.
Mandato é
concessão dos eleitores, e não direito de propriedade
Alan Marques/Folhapress
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Coletiva de imprensa com Michel Temer, Renan Calheiros e Rodrigo Maia
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17/12/2016 02h00
Credibilidade é palavra-chave em política. Sem ela,
não se governa. E o panorama presente do Brasil confirma essa assertiva:
Poderes em conflito interno e com os demais, cada qual buscando um jeito de
escapar às denúncias incessantes de corrupção.
São as mais variadas possíveis e atingem o Estado
em seu conjunto: tráfico de influência, roubo, obras superfaturadas, salários
exorbitantes, acima do teto constitucional, obstrução de Justiça etc.
E o resultado é o que vemos: a impossibilidade de
obter da sociedade apoio a reformas indispensáveis, que, impondo sacrifícios,
reclamam sua adesão. Entre outras, a previdenciária, a trabalhista e a
tributária. A PEC do teto dos gastos públicos, já aprovada na Câmara e no
Senado, não será suficiente para recolocar a economia nos trilhos e fazê-la
crescer novamente.
O PT a arruinou, indo da destruição da Petrobras e
de outras estatais à rapina dos fundos de pensão, lesando aposentados e viúvas.
Lula, Dilma e amigos desviaram bilhões, em prol de um projeto criminoso de
perpetuação no poder, ora exposto pela Justiça.
Mas o impeachment de Dilma Rousseff só aconteceu
porque a população brasileira, indignada com tantos escândalos, foi às ruas e
deu o seu recado: Presidência da República, Congresso e Esplanada dos
Ministérios não podem se transformar em trincheira de portadores de
prontuários. Essa sentença depôs o PT.
Consumado o impeachment, é, pois, intolerável que o
quadro se mantenha. Não basta apresentar propostas econômicas; é preciso
autoridade moral para implementá-las. E não a temos.
O Congresso está na berlinda, alvo de delações que
atingem algumas de suas figuras mais graduadas. E o próprio presidente da
República vem dando sinais de queda livre no quesito credibilidade.
Até aqui, apenas descrevo uma realidade, assim como
um médico examina uma radiografia. Provocado nesta semana a me manifestar sobre
esse quadro, propus eleições imediatas no âmbito federal: para presidente da
República, deputados e senadores.
Só com a renovação do ambiente político, por meio
da participação direta da sociedade, será possível engajá-la num projeto de
reformas profundas e de longo prazo. É hora de um gesto maior do presidente,
convocando um recall, por meio de uma proposta de emenda à Constituição,
antecipando as eleições.
Mandato não é direito de propriedade; é concessão
dos eleitores. E eles tem dado reiteradas manifestações de que não confiam em
seus atuais representantes. Com novas eleições, tem-se a oportunidade de levar
aos eleitores propostas e estratégias de longo prazo, sem as quais não se
governa.
A crise reclama ações rápidas e contundentes. Não é
possível planejar o futuro, consertar erros do governo que derrubamos e
restabelecer a confiança no futuro ostentando um contencioso com a Justiça.
Governabilidade depende hoje menos de apoio numérico de votos no Congresso que
do apoio das ruas.
A paralisia administrativa decorrente da falta de
credibilidade agrava a crise e estimula forças obscurantistas recém-derrotadas,
que investem no caos e no retrocesso.
Os políticos de verdadeiro espírito público –e os
há, em maioria– não devem recear as urnas. Não há mais espaço para o populismo,
que levou à ruína diversos governos latino-americanos, permitindo que maus
gestores chegassem à Presidência da República.
Não há democracia sem políticos dignos
desse nome. E são eles que devem cumprir a missão incontornável de sanear a
vida pública, reconciliando-a com a população.
É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências
sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no
governo Lula.
Escreve aos sábados.
Escreve aos sábados.
Crise abre via
expressa para o PSDB
Alan Marques/Folhapress
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Michel Temer e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
durante cerimônia em Brasília
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17/12/2016 02h00
Desde o final de 2015, a perspectiva de tomada do poder
pelo PMDB carregava em si o ideário pessedebista, evidenciado no documento
"Uma ponte para o futuro". Depois, à medida que o impeachment se
aproximou, firmou-se pacto implícito, entre os dois partidos, de passagem
efetiva do bastão em 2018. Mas, com o recrudescimento da Lava Jato, que atinge
em série os homens do presidente, parece que Michel Temer precisará entregar de
imediato o osso.
A queda do
ex-deputado José Yunes, na quarta (14), configurou a quinta baixa no
núcleo central pouco numeroso da presidência Temer. Antes do primeiro-amigo, já
tinham caído Romero Jucá e Henrique Alves, defenestrados ainda na interinidade
temerista, Eduardo Cunha, preso há dois meses em Curitiba, e Geddel Vieira
Lima, soterrado nas obras do edifício La Vue. Restaram Moreira Franco,
secretário-executivo de Investimentos, e Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa
Civil, ambos devidamente listados nas delações em curso.
O movimento de substituição de peemedebistas por
emplumados de bico longo ficou claro com a perspectiva de colocar o deputado
Antonio Imbassahy (PSDB-BA) na Secretaria de Governo, antes ocupada por Geddel,
apesar de ele, Imbassahy, estar incluído no rol de beneficiários da Odebrecht.
Também o zum-zum-zum de que o tucanato quer ganhar
o Planejamento, dirigido por um interino desde a saída de Jucá, mostra o grau
de compromisso do PSDB com a atual gestão, em detrimento dos interesses do
governador Geraldo Alckmin, único vitorioso nas eleições municipais de outubro
e, por isso, desejoso de se afastar do barco federal adernado.
Contra a perspectiva alckmista, Aécio Neves e José
Serra firmaram acordo para permanecer na embarcação temerária e controlar o
partido. "O país precisa que esse governo dê certo. Para isso, precisa ter
o PSDB unido", escreveu em nota o chanceler Serra, ao comemorar a prorrogação do
mandato de Aécio à frente da agremiação na quinta (15).
O problema é saber até que ponto o próprio PSDB
sairá vivo do dilúvio odebrechtiano. Dos principais caciques pessedebistas em cena,
apenas Fernando Henrique Cardoso, não por acaso fora da competição política
direta desde 1998, está ausente das listas malditas. Porém como o PSDB tem uma
quantidade de quadros bastante superior ao plantel do PMDB (nomes como Tasso
Jereissati, Armínio Fraga e Pedro Malan seguem a salvo da enxurrada), é
possível que sobre alguém para dirigir o país.
Outra dúvida é se Temer, acusado
diretamente nas colaborações premiadas, continuará viável como biombo do plano
pessedebista. Daí o aquecimento de FHC para uma eleição em 2017, embora com a
idade a lhe pesar nas costas. Quem viver, verá.
É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do
"Painel" e correspondente da Folha
em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
Escreve às quintas.
Escreve às quintas.
Congresso sente o cheiro
das quentinhas de Curitiba
Eraldo Peres - 7.dez.2016/Associated Press
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O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), denunciado na Lava Jato
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15/12/2016 10h46min
Um dos maiores problemas do Brasil é que nunca
corruptos poderosos tiveram medo de cadeia.
A reação cangaceira no Senado de Renan Calheiros
(codinome "Justiça" na planilha de
corrupção da Odebrecht) e na Câmara de Rodrigo Maia (o
"Botafogo") contra a Lava Jato são tentativas desesperadas de voltar
a esse passado.
A Lava Jato é hoje o único elemento integrador do
país depois das mentiras e da recessão de Dilma Rousseff, da posse de um Temer
suspeito e de seu gabinete podre e das demonstrações de corporativismo
retrógrado do Congresso, com um batalhão de clientes do departamento de
"operações estruturadas" da Odebrecht.
A ordem do ministro do Supremo Luiz Fux para que a
Câmara volte à estaca zero
na análise do pacote de dez medidas contra a corrupção desfigurado pelos
parlamentares pode parecer intromissão na "independência" de um
Legislativo dependente de uma empreiteira.
Mas ela vai ao encontro do anseio das 2 milhões de
assinaturas que apoiam as medidas. Assim como de outros milhões que protestaram
nas ruas pela punição de corruptos e corruptores nos últimos meses.
Hoje temos, entre outros, Sérgio Cabral, José
Dirceu, Antonio Palocci, Eduardo Cunha e Marcelo Odebrecht presos. As provas
contra eles até aqui se mostraram irrefutáveis.
Renan "Justiça" ainda não foi condenado a
nada. Mas age como se estivesse sentindo o cheiro das quentinhas ao querer
intimidar os procuradores com tentativas de puni-los por abuso de poder.
O projeto seria legítimo não fosse patrocinado pelo
próprio Renan e agora. Quem não deve não deveria temer, certo?
Denunciado na Lava
Jato e alvo de outros 11 inquéritos diversos, o presidente do Senado
tenta suas últimas cartadas para se proteger e angariar o apoio da turma de
citados na operação.
Nas próximas semanas assistiremos ao
"espetáculo do desespero". Quando mais e mais delações mostrarem como
uma empreiteira mandava no país financiando campanhas e a vida desses citados.
Com sua dinâmica própria, apoio popular e dezenas
de delatores já pegos no anzol, a Lava Jato mostra ser cada vez menos provável
que protelações e esperneio geral livrem seus investigados. Assim como não
livrou, no final, o chefe da gangue, Marcelo Odebrecht.
Dizem que gênio solto jamais retorna à lâmpada. A
Lava Jato está no caminho de confirmar essa regra.
A coluna sai do ar nos próximos meses
por conta de uma temporada de estudos fora do país.
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