Colunista e membro do Conselho
Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros.
Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e
quintas-feiras.
Andres Stapff/Reuters
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Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil
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22/12/2016 02h00
A etapa é de testes.
Em todos os setores com envolvimento, direto ou indireto, nos últimos
acontecimentos. Cada qual dando passos além do seu limite legal, ético ou
moral, para ver até onde consegue elevar o seu poder sobre as demais
instituições.
O que antes podia ser
abuso, leviandade e prepotência, passou a constituir uma luta de cabeças
transtornadas pela sua "autoridade", ou de grupos com ganância de
poder. Fase que se insinuou com a desvairada flor carnívora apresentada pelo
procurador Deltan Dallagnol, com 14 pétalas venenosas emitindo flechas
acusatórias a um nome no centro –contra o qual, Lula, o obcecado acusador
imaginava estar apresentando provas, mas só trouxe palavras alheias e compradas
por liberdade, ou ilações suas. Um delírio televisivo.
Passados dois anos de
vale-tudo e alguns meses de luta por predomínio institucional, esse estado de
coisas começa, enfim, a enfrentar reações de fato. No devido lugar: o
Judiciário. Trata-se agora de requerimento da defesa de Dilma Rousseff, ao
Ministério Público Eleitoral, para que o ex-presidente da Andrade Gutierrez,
Otávio Azevedo, seja ao menos investigado. Há um esforço, bastante numeroso,
para que prevaleça a explicação de que Azevedo equivocou-se em afirmações, mas
não cometeu falso testemunho. A atenuação também tem base falsa.
Otávio Azevedo
mentiu. Ao acusar, em sua delação, a campanha de Dilma de receber da Andrade
Gutierrez R$ 1 milhão ilegais, Azevedo elaborou a falsidade, com o pormenor de
um encontro entre ele, Edinho Silva e outro petista, para acertar a doação.
Atitude de mentiroso profissional e, parece claro, de espertalhão fazendo mais
agrados premiáveis aos promotores e ao juiz da Lava Jato.
A defesa de Dilma
apresentou ao TSE comprovante do pagamento de R$ 1 milhão. Não foi em dinheiro,
foi em cheque. Nominal: para Michel Temer. O tal encontro com Edinho Silva e
seu companheiro não existiu. Convocado ao TSE, Azevedo alegou equívoco. Mas
equívoco não inclui encontros não havidos, pedidos não feitos, nem nomes de
pessoas cuja citação as complicaria.
Mais simples, e não
menos sugestivo, um outro equívoco atesta a condição de mentiroso de Otávio
Azevedo. Verificada a divergência entre o valor declarado pelo depoente e o
documentado, como dinheiro da Andrade Gutierrez destinado a Aécio Neves, veio o
aumento: é, não foram R$ 12,5 milhões, foram R$ 19 milhões. Mais 50% que ele
subtraíra, no seu jogo de dedo duro para um lado e proteção para o outro.
O empenho em negar os
falsos testemunhos de Otávio Azevedo decorre do possível risco de serem anuladas
as suas delações premiadas. Foi a punição que Sergio Moro e vários promotores
da Lava Jato mencionaram bastante, defendendo-se do perigo de premiarem com a
liberdade acusações mentirosas. O precedente não avaliza a confiança da Lava
Jato, nem sua atitude posterior.
O doleiro Alberto
Youssef, delinquente desde a adolescência, foi importante na grande bandalheira
do Banestado, o banco do Estado do Paraná. Ganhou a liberdade, já naquele caso,
sob a condição de não voltar ao crime, ou não teria mais direito a premiação.
Voltou e ficou, até ser preso pela Lava Jato. Está em casa desde novembro.
Sérgio Moro foi juiz no primeiro caso.
Renan Calheiros
testou o Supremo. Luiz Fux, do Supremo, interveio no Congresso, em um teste sem
precedente no regime democrático. O Ministério Público, por meio da Lava Jato,
testa a Constituição nos seus gloriosos capítulos 5º e 6º, dos deveres e
direitos. E por aí vão outros testes. Otávio Azevedo põe Sergio Moro e a Lava
Jato em teste.
Michel Temer testa a resistência do país e a tolerância dos cidadãos.
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