ANÁLISE
Contexto de
crise no Supremo é de autofagia institucional
OSCAR VILHENA VIEIRA
DE COLUNISTA DA FOLHA
DE COLUNISTA DA FOLHA
09/12/2016 02h00
A crise política protagonizada pelo Supremo
Tribunal Federal nesta semana foi consequência de um somatório de problemas
institucionais e imprudências pessoais, em especial de um claro processo de
exacerbação das individualidades dos magistrados em detrimento da colegialidade
que deveria marcar a vida de qualquer tribunal.
No ano passado, para que se tenha uma ideia, quase
90% das decisões do Supremo foram tomadas pelos gabinetes de seus ministros,
sendo o plenário responsável por menos de 3% das decisões.
É nesse contexto que devemos compreender a falta de
cerimônia do ministro Marco Aurélio Mello em proferir uma decisão monocrática,
em sede cautelar, que simplesmente afastou de seu posto o presidente do Senado
Federal.
A justificativa do ministro foi de que já havia um
consenso dentro do tribunal de que aqueles que se encontram na linha sucessória
da Presidência da República deveriam dela ser afastados caso viessem a ser
tornar réus. O fato é que esse consenso não existia. Até porque o julgamento,
apesar da sua urgência, foi interrompido por pedido de vista do ministro Dias
Toffolli, em novembro, também sem qualquer cerimônia.
A esses equívocos, que se tornaram prática comum
dentro do tribunal, somou-se o petardo lançado por Gilmar Mendes contra seu
colega de bancada, acirrando ainda mais a fratura dentro do STF.
Não surpreende, nessas circunstâncias, que o
presidente do Senado tenha se sentido à vontade para afrontar a decisão de um
ministro do Supremo, sem que isso lhe tenha causado qualquer consequência, além
de alguns puxões públicos de orelha.
Nos momentos finais do julgamento também causou
certa perplexidade a preocupação manifesta por Luiz Fux sobre as eventuais
consequências do afastamento do presidente do Senado para o bom andamento das
propostas de reforma em tramitação no Congresso, em detrimento da função
precípua do tribunal que é guardar a Constituição.
Nesse contexto de autofagia
institucional, o Supremo pode estar perigosamente colocando em xeque a própria
autoridade de árbitro imparcial da crise política na qual estamos metidos, para
se transformar em mais um partícipe deste imbróglio. E isso é tudo o que não precisamos
no momento.
Para ex-ministro Carlos Velloso,
Supremo acertou no caso Renan
Pedro Ladeira - 6.ago.2015/Folhapress
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O ex-ministro do STF Carlos Velloso durante evento em
Brasília, em 2015
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FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
08/12/2016 22h05
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e advogado Carlos
Velloso opinou que o plenário do STF decidiu corretamente ao reverter a decisão
individual do ministro da corte Marco Aurélio de afastar o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado.
À Folha Velloso discordou da decisão monocrática de Marco
Aurélio por entender que não havia urgência no caso de Renan e disse que o
Senado não afrontou o STF ao não acatar de imediato o afastamento determinado
individualmente pelo ministro.
Mesma linha de argumentação foi defendida pelo ministro Celso
de Mello, que teve voto apoiado pela maioria do Supremo.
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Para Velloso, o colegiado do STF cumpriu adequadamente seu
papel no julgamento do caso. "O Supremo Tribunal Federal mostrou que é uma
corte que tem como missão guardar a Constituição e que a principal atividade
nessa missão é a de estabelecer um equilíbrio entre os Poderes, é a de fazer um
papel de moderação."
"Em um momento como esse, há que se pensar no
fortalecimento das instituições, portanto no fortalecimento da República. O
Supremo mandou bem, mandou bem no momento delicado em que se encontrava",
completou.
Velloso afirmou que um dos requisitos para concessão de
liminares na Justiça é o do "perigo da demora", e que tal condição
não estava presente no caso de Renan.
O ex-ministro ressaltou que em primeiro lugar na linha de
substituição do presidente da República está o presidente da Câmara, então não
havia risco iminente de Renan assumir a chefia do Executivo Federal.
O ex-magistrado também lembrou que ainda não foi concluído o
julgamento do STF sobre a possibilidade de um réu na Justiça entrar na linha de
substituição do presidente da República, apesar de já haver votos suficientes
pela proibição.
Segundo ele, os ministros ainda podem mudar suas posições
quando esse processo voltar ao plenário do STF, após o pedido de vista do
ministro Dias Toffoli.
Quanto ao fato de o Senado não ter cumprido imediatamente a
decisão de Marco Aurélio pelo afastamento de Renan, Velloso disse que essa
"foi a medida possível em um momento delicado".
O ex-ministro do STF ressaltou que a Mesa Diretora do Senado
não chegou a afirmar que iria descumprir a liminar, apenas apontou que iria
esperar a deliberação dos outros ministros componentes do plenário do STF sobre
o caso.
"Não se tem aí um caso comum. É
hora de começar a pensar na República, que não pode ser arranhada",
opinou.
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