É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências
sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no
governo Lula.
Escreve aos sábados.
Escreve aos sábados.
Alan Marques - 22.dez.2016/Folhapress
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Presidente Michel Temer entre os ministros Henrique Meirelles (esq.) e
Dyogo Oliveira (dir.)
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24/12/2016 02h00
Apesar de algum possível alívio a ser trazido pela
liberação das contas inativas do FGTS, no conjunto da obra o bando peemedebista
que se apossou do poder demonstra surpreendente audácia. Quanto maiores os
sinais de perigo, mais atiçam o fogo que crepita sob a cadeira presidencial.
Nesta quinta-feira (22) Michel Temer declarou que
aproveitava a "baixa popularidade para tomar medidas impopulares".
Talvez tenha achado astuta a tirada suicida do publicitário Nizan Guanaes e decidiu acolhê-la mesmo
depois que a Folha mostrou a
efetiva disparada da reprovação a seu
nome (11/12).
À frente de um ilegítimo mandato
semiparlamentarista, seria de se esperar que o chefe de governo tivesse ouvido
com mais atenção o recado emitido pela Câmara dos Deputados na terça-feira
(20). Ao aprovar, por 296 a 12, proposta que aliviava a situação dos Estados, a
Casa mostrou o risco de quebrar as unidades da federação em nome de uma
austeridade extrema. Os nobres deputados podem até se distanciar da opinião
pública, como ficou claro no gorado projeto de anistia ao Caixa 2, mas
dificilmente contrariam o humor popular.
Ao recusar o cancelamento de reajustes já acordados
com servidores e o aumento da contribuição previdenciária de funcionários, os
parlamentares buscaram amenizar a indignação dos bem organizados sindicatos do
setor público. Caso contrário, os grêmios poderão funcionar como catalisadores
da crescente rejeição popular ao ajuste fiscal.
A frustração com a falta de recursos nos hospitais
e escolas estatais poderá engrossar os confrontos violentos, que ocorrem quase
que dia a dia no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.
Contudo, em vez de acenar com algum alívio aos
cofres regionais, ao menos enquanto o PIB patina, Temer duplicou a aposta,
reafirmando que as contrapartidas vetadas pela Câmara serão repostas na negociação
individual de cada governador com o Ministério da Fazenda. Não satisfeito, o
presidente ainda mandou apresentar, embora sob a forma de projeto de lei, a
reforma trabalhista que tende a tornar letra morta a CLT.
Talvez a clique planaltina tenha se impressionado
com a facilidade para passar o teto dos gastos. Ocorre que a população ainda
não entendeu o significado do congelamento orçamentário. Já a reação provocada
pela reforma da Previdência, cuja natureza parece ter sido rapidamente
apreendida, deve ter apimentado bastante o caldo de raiva que se forma contra a
atual gestão.
Quem sabe, por outro lado, os peemedebistas queiram
provar aos colegas tucanos que sacrificam, desde logo, qualquer possibilidade
de disputar a Presidência da República em 2018. Para isso, como dizia Drummond,
arriscam "pôr fogo em tudo", inclusive em si mesmos.
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