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Joaci Góes
O
Supremo e a Lava-Jato
Publicada em
22/12/2016 07:34:34
A crise, sem precedentes em nossa História, de
credibilidade dos poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário-,
convoca nossa Suprema Corte para um teste definitivo: corresponder aos desafios
das montanhas de processos da Operação Lava-Jato, ou apequenar-se no julgamento
popular como um poder de mobilidade paquidérmica, integrado por representantes
de grupos de interesses, dedicados à satisfação de seus apetites entre pequenos
e ferozes.
A manutenção do foro privilegiado para titulares
dos poderes é uma serôdia excrescência da tradição brasileira de atribuir às
elites a “vantagem” de serem julgados por juízes de qualificada toga. Algo como
um julgamento entre pares, percepção que levou o Supremo a ser visto como
acintoso abrigo seguro dos criminosos engravatados. Tanto que a maioria dos
crimes imputados a essa casta privilegiada saiu impune pela larga avenida da
prescrição.
No caso da Lava-Jato, como a grande maioria dos
implicados pertence ao Congresso e à curul do Executivo, ao Supremo Tribunal
Federal caberá julgá-los, tarefa exigente de um desempenho muito superior ao
que caracteriza sua morosa e leniente trajetória, se quiser corresponder, como
é seu dever, às expectativas gerais de moralização da vida pública nacional,
hoje objeto de estupefação mundial. Parece que o ministro-relator Teori
Zavascki, como enfaticamente declarou, está decidido a corresponder ao grande
desafio de debulhar em tempo recorde a copiosa papelada que lhe enviou o juiz
Sérgio Moro, personalidade que ingressa com passo firme na galeria dos grandes
vultos da Pátria.
Como produto de nosso viciado sistema de escolha
dos integrantes dos colegiados judiciários, o sentimento popular dominante é o
de que a sinfonia de desencontros orquestrada, recentemente, na Suprema Corte
decorre do esforço contorcionista de alguns ministros de corresponderem ao
dever de gratidão com seus patronos, para grave prejuízo da sua imagem pública
e da Instituição, fator conducente ao escárnio e ao desapreço da opinião
esclarecida.
Na vasta pauta das reformas de que o País tanto
necessita, os critérios para ingressar na magistratura devem ser compatíveis
com as atribuições quase divinais que a sociedade confere aos juízes, senhores
de baraço e cutelo de nossas vidas e interesses. O juiz de primeiro grau, além
de um mínimo de dez anos de prática jurídica, deve ter reputação ilibada e
escolhido em eleições diretas pela OAB, depois de submeter-se a concurso. A
escolha, então, dos integrantes dos tribunais não pode depender, como hoje, do
Executivo, e nos casos dos tribunais superiores, também, do Senado, para evitar
as trapalhadas de pagarem com a toga as respectivas indicações, procedimento
que tanto os tem rebaixado no apreço da opinião pública nacional.
Observe-se que o surto recente de prestígio do
judiciário decorre do exemplar desempenho de alguns poucos juízes,
numericamente inexpressivo, quando comparados à bovina manada que,
majoritariamente, continua aderente às viciadas rotinas que a rebaixam no
apreço geral.
A medalha de ouro neste revirar de ponta-cabeça das
peculatárias práticas nacionais vai para o Ministério Público Federal e a
Polícia Federal, ambas as instituições lavando a alma nacional. O Ministério
Público dos estados, bem como as respectivas polícias estaduais, precisam se
inspirar em seus congêneres federais, se quiserem crescer no apreço da
sociedade. É facilmente perceptível a omissão de membros do Ministério Público
Estadual na apuração de desvios de toda sorte, praticados por agentes dos
governos locais, estaduais e, sobretudo, municipais. Prefeitos bandidos
continuam aliciando promotores para não verem as mazelas que se praticam
debaixo dos seus olhos, para grave prejuízo popular, como se observa em vários
municípios baianos.
A Operação Lava-Jato, em curso, passa a representar
o maior desafio a nossa Suprema Corte. Ou atua com o vigor que é do seu dever e
o povo brasileiro espera, ou sai pelo ralo da história, como um poder
apequenado que ignorou a lição de Goethe: “O maior de todos os erros é permitir
que as coisas menores impeçam a realização das maiores.
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