segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A sociedade espera justiça e transparência no resultado conclusivo das operações.




Delação da Odebrecht entregue ao Supremo tem cerca de 800 depoimentos

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Agência O Globo

 

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© Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

A Procuradoria Geral da República entregou na manhã desta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) os documentos da delação dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht, empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. A papelada e arquivos eletrônicos - que abrangem cerca de 800 depoimentos - estão numa sala do STF.

A entrega foi feita de forma discreta, da qual participaram servidores da PGR e do STF. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, não estavam presentes.

A delação está sob sigilo. Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava-Jato no STF, homologá-la ou não.

Uma pequena parte da delação já foi vazada, mas foi o suficiente para envolver nomes importantes da República, como o presidente Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e vários ministros e parlamentares.

Hoje, o tribunal tem sua última sessão do ano, e só volta a funcionar plenamente em fevereiro de 2017.

Janot acelerou os trabalhos de colher os depoimentos após críticas de vários ministros do STF em relação às investigações conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, durante sessão ocorrida em 1º de dezembro. O episódio desagradou o procurador-geral, que resolveu contra-atacar. Acionou vários procuradores para dar mais agilidade e concluir os depoimentos da Odebrecht a tempo de entregá-los ao STF ainda este ano.

O tribunal ficou sabendo de última hora dos planos de Janot e, às pressas, escolheu um lugar para guardar os depoimentos. O material é vasto, possuindo vários volumes.

Assim que tomou conhecimento, a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, baixou algumas orientações. Ela determinou a criação de uma força-tarefa para ajudar o ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava-Jato no STF. Ele terá um reforço de pessoal e de espaço físico para trabalhar. Somente o relator e seus juízes auxiliares terão acesso ao material.

Com os depoimentos em mão, caberá a Teori ouvir os delatores ou seus advogados para saber, por exemplo, se eles foram coagidos ou não a delatar. Também poderá devolver parte do material a Janot caso ache que ele deva ser complementado.

O mês de janeiro é de recesso no STF, mas o relator poderá usar esse tempo para adiantar o trabalho. Caso Teori homologue os acordos, a Procuradoria-Geral da República poderá prosseguir com as investigações, usando os depoimentos para embasar novas investigações.

 

Está tudo armado para evitar que Lula seja candidato”

Descrição: EL PAÍSDescrição: EL PAÍS


Alba Casas   

 

Descrição: Tarso Genro, em Madri

 

© uly martín Tarso Genro, em Madri

Não foi um bom ano para o Brasil: o país acumula uma queda do PIB de 4%; a presidenta Dilma Rousseff foi deposta em setembro em um julgamento político; e as labirínticas tramas de corrupção colocaram em xeque o Governo que a substituiu. A saída do túnel, segundo Tarso Genro, natural de São Borja, no Rio Grande do Sul, passa por uma inescapável renovação política. “A crise econômica não será superada sem que a política seja”, opina o ex-ministro da Educação, de Relações Institucionais e da Justiça nos Governos de Lula (2002-2009), governador do Rio Grande do Sul, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e um dos maiores defensores do Fórum Social Mundial de Porto Alegre.

Para Genro, o impeachment se baseou em uma “retirada arbitrária da presidenta pela simples formação de uma maioria política no Congresso brasileiro”, já que “não houve delito de corrupção nem abandono de suas obrigações presidenciais”. Em sua opinião, o PT e seus dois principais líderes, Lula e Rousseff, sofreram uma campanha de descrédito por parte da mídia “que formam um oligopólio no Brasil”. E, segundo o ex-governador, essa foi a principal causa do descalabro do PT nas eleições regionais de outubro.

Pergunta. O descrédito não se deve aos casos de corrupção?

Resposta. Todos os partidos perderam credibilidade no Brasil devido aos processos por corrupção, que é sistêmica e endêmica. Mas o PT não é o principal partido acusado de corrupção nem seus cargos são os que estão sendo majoritariamente processados. A atenção se concentrou no PT porque estava no poder, o que é compreensível. Mas Rousseff não caiu devido à corrupção.

P. Por que Rousseff não se demitiu antes de ocorrer o impeachment?

R. Para Rousseff, e para uma parte significativa de sua equipe, era difícil acreditar que o PMDB [seu aliado no Governo] fosse traí-la porque o vice-presidente fazia parte do PMDB. Mas a traição se baseou exatamente nisso: o vice-presidente queria o poder.

P. Já em 2014, o sr. defendeu a necessidade de o PT dar uma guinada à esquerda e romper a coalizão com o PMDB. Por quê?

R. O esgotamento do modelo de desenvolvimento e as mudanças da economia mundial iam impedir que toda a população melhorasse, que foi o que caracterizou o Governo de Lula. Era necessária uma reforma tributária para manter as políticas sociais, reduzindo a dependência do financiamento internacional. E para isso não podíamos contar com o PMDB. Mas minha posição não foi majoritária no PT.

As palavras socialismo e socialdemocracia perderam seu sentido

P. Michel Temer [atual presidente] tem possibilidades de acabar seu mandato?

R. As pesquisas dão um alto índice de desaprovação ao presidente, que está sendo acusado por empresários de arrecadação ilegal de fundos para sua campanha eleitoral. Algo de que nenhum empresário acusou Lula.

P. O sr. conhece o homem por trás do político. Acredita que Lula é capaz de cometer os crimes do qual é acusado?

R. Lula tem cinco processos e nenhuma prova sólida contra ele. Se houvesse, já estaria preso.


R. Está tudo armado para impedir isso. Mas o poder judiciário no Brasil tem uma tradição respeitável. Nós esperamos que seja possível demonstrar nas instâncias superiores que Lula não tem responsabilidades penais.

P. A divisão dos poderes está falhando?

R. O Supremo Tribunal Federal tem ministros honrados, mas que assumiram posições políticas diante da crise. Portanto, há um desequilíbrio, mas não há ainda uma ruptura. Para retomar o equilíbrio precisamos de novas eleições presidenciais. Para que haja uma presidência legítima e para reformar a política.

Se houvesse alguma prova sólida contra Lula, ele teria sido preso

P. O sr. era vice-prefeito de Porto Alegre quando se realizaram os primeiros orçamentos participativos em 1988. Como se pode estimular hoje a participação da população na política?

R. Com respeito e atenção a suas demandas. Quando as pessoas sentem que são ouvidas, participam. Se não manipuladas, não. Ou participam uma vez e saem às ruas.

P. Que futuro tem a esquerda na América Latina depois do triunfo de Mauricio Macri na Argentina e da oposição na Assembleia Nacional da Venezuela?

R. As palavras socialismo e socialdemocracia estão perdendo o sentido em nível global. Acredito que houve uma mudança generalizada na estrutura do capital, o que mudou a estrutura de classes. E os políticos não mudaram sua visão de mundo nem seus projetos. O Brasil falhou na hora de encontrar uma saída para a crise dentro do sistema de capital global. Mas essa saída também não foi encontrada em nenhum outro lugar.



'Grisalhão' e 'Encostado' seguem incógnitos em planilha

FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO

18/12/2016 02h00 - Atualizado às 12h15

Já se sabe quem eram "Todo Feio", "Caju" e "Las Vegas". Agora, resta descobrir quem são "Encostado", "Duvidoso", "Casa de Doido" e muitos outros.

Os três últimos nomes constam em planilhas de pagamentos da Odebrecht apreendidas pela Operação Lava Jato neste ano. Essas tabelas mostram pagamentos para dezenas pessoas identificadas apenas por apelidos, em somas milionárias.

As planilhas estavam com a secretária Maria Lúcia Tavares, primeira funcionária da construtora a colaborar, ainda no começo do ano. Ela atuava junto ao departamento de operações estruturadas da Odebrecht, considerado por investigadores como "um setor de propinas".

No último fim de semana, com a divulgação de detalhes dos depoimentos do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, foi revelado que, segundo o novo delator, Todo Feio era o ex-deputado paraibano Inaldo Leitão; Caju, senador Romero Jucá (PMDB-RR) e Las Vegas, o ex-assessor de Dilma Rousseff Anderson Dornelles. Todos negam ter recebido dinheiro.

A delação dele e dos outros ex-dirigentes da empreiteira ainda precisa ser homologada pelo Supremo.

A lista apreendida revela uma predileção por denominações de características físicas (há nomes como "Grisalhão", "Baixinho", "Comprido"), relativas a animais ("Abelha", "Faisão") e até referências futebolísticas (há o "Flamenguista" e o "Timão").

Em alguns casos, associam o nome a obras da empreiteira. Ao lado de "Bobão", por exemplo, e da anotação de um repasse de R$ 150 mil, consta o nome "Canal do Sertão - lote 4".

Também há duas menções a aparentes pagamentos em países vizinhos. O codinome "Duvidoso" está ao lado de "Dutos Argentina", em US$ 100 mil, e "Taça" faz referência ao Peru.

A maioria das planilhas envolve repasses no período da campanha eleitoral de 2014.

Há uma série de valores para "Mineirinho", o que, suspeitam investigadores, é uma referência à campanha à Presidência de Aécio Neves (PSDB) naquele ano. Por meio de sua assessoria, o tucano disse desconhecer as planilhas mencionadas e que as doações à campanha ocorreram dentro da lei.

TROCADILHOS

Os operadores também levavam codinomes. Os pagamentos das planilhas apreendidas com a secretária estavam sob a jurisdição das contas "Dragão", "Kibe", "Paulistinha" e "Carioquinha".

Dragão seria o chinês Wu-Yu Sheng, que deu nome a uma das fases da Lava Jato, a 36ª, em novembro, e Kibe, Adir Assad, que está preso e já foi condenado.

Maria Lúcia Tavares disse em depoimento que não sabia quem era os codinomes dos beneficiários das planilhas, com exceção de "Feira", que se referia à Mônica Moura, mulher do marqueteiro do PT João Santana.

Segundo a secretária, apenas seus quatro superiores tinham conhecimento.

Ela afirmou que se comunicava com os distribuidores de dinheiro por meio de um sistema de informática próprio, que funcionava em um computador separado.

"Sempre quando os prestadores iam levar o dinheiro, havia a indicação do endereço, do valor, da senha e da pessoa que iria recebê-los", disse em depoimento, segundo a transcrição.

Nas tabelas, as senhas geralmente são alimentos, como "lasanha", "panqueca" e "beterraba", mas havia palavras como "trambolho", "titios", "supervisor" e "remédio".

Uma das senhas, "acarajé", virou nome de fase da Lava Jato, a 23ª, que prendeu João Santana, em fevereiro.

Antes da divulgação dos depoimentos de Cláudio Melo Filho, uma série de apelidos da Odebrecht já havia sido revelada em março em um conjunto de planilhas apreendidas com o ex-executivo Benedicto Barbosa Júnior, da Odebrecht Infraestrutura.

Nessas tabelas, havia menções a mais de 300 políticos de 24 partidos que se beneficiaram de pagamentos em campanhas eleitorais de 2010 a 2014.

Não há ainda como precisar, porém se os valores foram efetivamente repassados nem se referiam a doação legal, caixa dois, ou propina.

Havia vários trocadilhos, como "Ovo", para se referir ao governador catarinense Raimundo Colombo (PSD), e "Eva" para um deputado estadual do Rio Grande do Sul, Adão Villaverde (PT).

Os políticos citados vêm negando ter recebido dinheiro de maneira ilegal. A Odebrecht não se manifesta a respeito.

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