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Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é
doutor em economia pela Universidade da Califórnia.
Escreve às quartas, semanalmente.Medidas econômicas parecem não conversar entre si
Andressa Anholete/AFP
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O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Michel Temer
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21/12/2016 02h00
Não há dúvidas de que o Brasil tem sérias
dificuldades no que se refere à sua capacidade de crescimento sustentável.
Passamos, é verdade, por um período de desenvolvimento mais acelerado entre
2004 e 2011, quando o ritmo médio de expansão chegou a quase 4,5% ao ano,
correspondente a aumento de 3,3% ao ano da renda per capita, mas há bons
motivos para crer que naquele momento crescíamos mais do que nosso potencial.
Com efeito, a taxa de desemprego, que beirava 11%
da força de trabalho em 2003, caiu para 7,5% no começo de 2012, o que só é
possível quando o produto se expande além da taxa sustentável no longo prazo.
Obviamente isso não é um problema se o desemprego
inicial é (como era) elevado, já que permite incorporar trabalhadores
originalmente às margens do processo produtivo, fator, aliás, que foi o
principal responsável pela melhora da distribuição de renda no período.
No entanto, mesmo duradouros, tais episódios acabam
encontrando seus limites, como observado entre 2011 e 2014, quando, apesar dos
estímulos à demanda associados à agora órfã Nova Matriz, o produto cresceu a um
ritmo bem mais modesto (1,7% anual), correspondente a menos de 1% ao ano de
expansão da renda per capita. Uma vez esgotada a capacidade ociosa,
representada principalmente (mas não só) pelo desemprego, o crescimento passa a
depender de fatores como a qualificação da mão de obra e a melhora da
produtividade.
Não há motivo (nem espaço) aqui para repetir o excelente artigo
de Alexandre Scheinkman e Marcos Lisboa publicado sobre isso no
domingo (18) nas páginas da "Ilustríssima", que recomendo
enfaticamente. Os autores mapearam de forma detalhada os fatores que nos
impedem de crescer de forma mais acelerada no longo prazo, essencialmente
ligados a restrições do lado da oferta da economia.
À luz disso, alguém poderia concluir que o pacote da semana
passada –ao atacar, ainda que timidamente, algumas destas
restrições– teria efeitos sobre o crescimento. Não é minha opinião.
Não se trata, é bom deixar claro, de medidas
equivocadas (com exceção de mais uma tentativa de fazer com que o BNDES reative
a economia). Ao contrário, individualmente a maior parte delas faz sentido, ao
facilitar transações (até mesmo o pagamento de impostos, atividade
incrivelmente custosa no país), mas há ao menos dois problemas.
O primeiro é que as medidas não parecem conversar
entre si. Fica a impressão de que, premido pela fraqueza da atividade econômica,
por um lado, e pela Lava Jato, por outro, o governo divulgou um conjunto pouco
concatenado de propostas para responder às críticas de foco excessivo na
questão fiscal.
O outro é que, na atual conjuntura, com o
desemprego elevado e capacidade ociosa de sobra (fatores que têm contribuído
para trazer a inflação para baixo), a expansão do produto não está restrita
pelos gargalos de oferta. Em outras palavras, hoje (e friso o
"hoje"), a retomada não depende de elevarmos nosso potencial.
Nada contra, mesmo porque, quando a
retomada vier, a questão da sustentabilidade retornará, mas esta só virá na
esteira da redução de juros, que já começou e será tão mais intensa quanto
maior o sucesso da reforma fiscal. Há uma saída, mas é estreita e exige, mais
que nunca, perseverança no esforço de conserto das contas públicas
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Publicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC.
Escreve às terças-feiras,
a cada duas semanas.
Escreve às terças-feiras,
a cada duas semanas.
Nesta crise, a gente tem
que ir de santo e de turma de santos
Fernando Vivas/Folhapress
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Ruas do Pelourinho, em Salvador, decoradas para os festejos de São
João
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20/12/2016 02h00
Esta é minha última
coluna do ano.
Minhas colunas nesta Folha
têm sido, como me disse rindo Mario Sergio Conti, de um otimismo irritante e
descolado da realidade. Kkkkk. Ele tem razão.
É que eu sou
empreendedor, e o empreendedor opera no campo do milagre. E milagre é com a
senhora, minha santinha.
Eu nasci no
Pelourinho, em Salvador, e tinha seis anos quando ocorreu o golpe militar de
1964. O Brasil só saiu da ditadura quando eu estava saindo da faculdade. As
chances matemáticas de eu estar aqui agora eram baixíssimas. Obrigado, minha
santinha.
Empreendedor no
Brasil tem que fazer milagre do milagre. Deve ser por isso que Abilio Diniz
reza tanto e compartilhou conosco suas preces no seu novo e imperdível livro
("Novos Caminhos, Novas Escolhas").
Nesta longa crise
brasileira, a gente tem que contar com santa Terezinha, são Judas Tadeu, santo
Expedito, santa Rita de Cássia... A gente tem que ir de santo e de turma de
santos.
É claro que a gente
tem que fazer a nossa parte: temos de ter resiliência, cortar os custos,
modernizar os processos, fazer uma faxina no nosso "mindset" e
trabalhar tanto quanto o João Doria.
Mas, por outro lado,
temos que ter muita fé. Minha mulher é corintiana. E eu aprendi com ela a
acreditar em gol no último minuto do segundo tempo.
Depois deste ano de
"dois mil e dezechega", 2017 vai ser uma década. E uma década
duríssima. (Olha que beleza, Mario Sergio Conti, eu sendo pessimista.) E, a meu
ver, a melhor forma de enfrentar o ano que entra é nos prepararmos para o pior.
Administrar hoje no
Brasil é a gestão criativa do pessimismo.
No caso do nosso
grupo, vamos juntar todas as empresas em um só prédio. Vamos economizar no
aluguel, compartilhar despesas, reunir talentos, aproveitar bastante nossas
sinergias e aprofundar a nossa cultura de excelência.
Não estamos
inventando a roda. A Omnicom, nosso parceiro global, faz isso com muito sucesso
em Londres, Los Angeles, Berlim. Portanto, vamos entrar em 2017 com uma tesoura
de custo nas mãos e uma alavanca na outra.
Minha santa Terezinha
do Menino Jesus, peço que o Brasil e seus filhos cheguem vivos e inteiros ao
final de 2017. Que atravessemos essa pinguela e cheguemos bem em 2018.
E, como isso só pode
acontecer com muita luta nossa e milagre vosso, eu recorro à senhora, minha
santinha, na esperança de que esse pedido meu e de meus leitores seja atendido.
Durante boa parte dos
dias deste ano, eu saí do meu escritório nos Jardins e fui até a sua igreja na
rua Maranhão, em Higienópolis, onde assisto à sua missa das 19h e depois volto
para trabalhar ou jantar com a minha família.
No turbilhão deste
país de milhões de desempregados e juros estratosféricos, com milhares de
empresas fechando todo mês e tantos clientes nossos sofrendo, esse encontro
diário consigo, minha santa Terezinha, tem sido, para mim, um remanso e a
providência divina que me ajudou a sair vitorioso de ano tão conturbado.
Sou um líder, tenho
que comandar mais de 2.000 pessoas diariamente. Passar rumo, norte e fé. E,
quando eu fraquejo, é a senhora, menina de 24 anos, fisicamente frágil e
moralmente gigante, quem me coloca de pé e me faz seguir em frente, sem me
deixar vergar.
Muita gente lendo
isso vai achar cafona. Mas a felicidade é cafona.
E por isso, a vós entrego, minha santa das rosas, esse ano de 2017. Com
suas pétalas, seus perfumes e seus tantos espinhos
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