quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Opinião e manchetes que geram controvérsias.


  • Descrição: alexandre schwartsman
    Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é
    doutor em economia pela Universidade da Califórnia.
    Escreve às quartas, semanalmente.
    Medidas econômicas parecem não conversar entre si

Andressa Anholete/AFP
Descrição: Brazilian President Michel Temer (R) and Finance Minister Henrique Meirelles (L) announce new measures to stimulate the economy, in the Planalto Palace on December 15, 2016 in Brasilia. / AFP PHOTO / ANDRESSA ANHOLETE
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Michel Temer

21/12/2016 02h00

Não há dúvidas de que o Brasil tem sérias dificuldades no que se refere à sua capacidade de crescimento sustentável. Passamos, é verdade, por um período de desenvolvimento mais acelerado entre 2004 e 2011, quando o ritmo médio de expansão chegou a quase 4,5% ao ano, correspondente a aumento de 3,3% ao ano da renda per capita, mas há bons motivos para crer que naquele momento crescíamos mais do que nosso potencial.

Com efeito, a taxa de desemprego, que beirava 11% da força de trabalho em 2003, caiu para 7,5% no começo de 2012, o que só é possível quando o produto se expande além da taxa sustentável no longo prazo.

Obviamente isso não é um problema se o desemprego inicial é (como era) elevado, já que permite incorporar trabalhadores originalmente às margens do processo produtivo, fator, aliás, que foi o principal responsável pela melhora da distribuição de renda no período.

No entanto, mesmo duradouros, tais episódios acabam encontrando seus limites, como observado entre 2011 e 2014, quando, apesar dos estímulos à demanda associados à agora órfã Nova Matriz, o produto cresceu a um ritmo bem mais modesto (1,7% anual), correspondente a menos de 1% ao ano de expansão da renda per capita. Uma vez esgotada a capacidade ociosa, representada principalmente (mas não só) pelo desemprego, o crescimento passa a depender de fatores como a qualificação da mão de obra e a melhora da produtividade.

Não há motivo (nem espaço) aqui para repetir o excelente artigo de Alexandre Scheinkman e Marcos Lisboa publicado sobre isso no domingo (18) nas páginas da "Ilustríssima", que recomendo enfaticamente. Os autores mapearam de forma detalhada os fatores que nos impedem de crescer de forma mais acelerada no longo prazo, essencialmente ligados a restrições do lado da oferta da economia.

À luz disso, alguém poderia concluir que o pacote da semana passada –ao atacar, ainda que timidamente, algumas destas restrições– teria efeitos sobre o crescimento. Não é minha opinião.

Não se trata, é bom deixar claro, de medidas equivocadas (com exceção de mais uma tentativa de fazer com que o BNDES reative a economia). Ao contrário, individualmente a maior parte delas faz sentido, ao facilitar transações (até mesmo o pagamento de impostos, atividade incrivelmente custosa no país), mas há ao menos dois problemas.

O primeiro é que as medidas não parecem conversar entre si. Fica a impressão de que, premido pela fraqueza da atividade econômica, por um lado, e pela Lava Jato, por outro, o governo divulgou um conjunto pouco concatenado de propostas para responder às críticas de foco excessivo na questão fiscal.

O outro é que, na atual conjuntura, com o desemprego elevado e capacidade ociosa de sobra (fatores que têm contribuído para trazer a inflação para baixo), a expansão do produto não está restrita pelos gargalos de oferta. Em outras palavras, hoje (e friso o "hoje"), a retomada não depende de elevarmos nosso potencial.

Nada contra, mesmo porque, quando a retomada vier, a questão da sustentabilidade retornará, mas esta só virá na esteira da redução de juros, que já começou e será tão mais intensa quanto maior o sucesso da reforma fiscal. Há uma saída, mas é estreita e exige, mais que nunca, perseverança no esforço de conserto das contas públicas

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Descrição: nizan guanaes

Publicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC.
Escreve às terças-feiras,
a cada duas semanas.

Nesta crise, a gente tem que ir de santo e de turma de santos

Fernando Vivas/Folhapress
Descrição: Ruas do Pelourinho, um dos maiores cartões postais de Salvador, decoradas para os festejos de São João, nesta quarta-feira (22)
Ruas do Pelourinho, em Salvador, decoradas para os festejos de São João

20/12/2016 02h00

 

Esta é minha última coluna do ano.

Minhas colunas nesta Folha têm sido, como me disse rindo Mario Sergio Conti, de um otimismo irritante e descolado da realidade. Kkkkk. Ele tem razão.

É que eu sou empreendedor, e o empreendedor opera no campo do milagre. E milagre é com a senhora, minha santinha.

Eu nasci no Pelourinho, em Salvador, e tinha seis anos quando ocorreu o golpe militar de 1964. O Brasil só saiu da ditadura quando eu estava saindo da faculdade. As chances matemáticas de eu estar aqui agora eram baixíssimas. Obrigado, minha santinha.

Empreendedor no Brasil tem que fazer milagre do milagre. Deve ser por isso que Abilio Diniz reza tanto e compartilhou conosco suas preces no seu novo e imperdível livro ("Novos Caminhos, Novas Escolhas").

Nesta longa crise brasileira, a gente tem que contar com santa Terezinha, são Judas Tadeu, santo Expedito, santa Rita de Cássia... A gente tem que ir de santo e de turma de santos.

É claro que a gente tem que fazer a nossa parte: temos de ter resiliência, cortar os custos, modernizar os processos, fazer uma faxina no nosso "mindset" e trabalhar tanto quanto o João Doria.

Mas, por outro lado, temos que ter muita fé. Minha mulher é corintiana. E eu aprendi com ela a acreditar em gol no último minuto do segundo tempo.

Depois deste ano de "dois mil e dezechega", 2017 vai ser uma década. E uma década duríssima. (Olha que beleza, Mario Sergio Conti, eu sendo pessimista.) E, a meu ver, a melhor forma de enfrentar o ano que entra é nos prepararmos para o pior.

Administrar hoje no Brasil é a gestão criativa do pessimismo.

No caso do nosso grupo, vamos juntar todas as empresas em um só prédio. Vamos economizar no aluguel, compartilhar despesas, reunir talentos, aproveitar bastante nossas sinergias e aprofundar a nossa cultura de excelência.

Não estamos inventando a roda. A Omnicom, nosso parceiro global, faz isso com muito sucesso em Londres, Los Angeles, Berlim. Portanto, vamos entrar em 2017 com uma tesoura de custo nas mãos e uma alavanca na outra.

Minha santa Terezinha do Menino Jesus, peço que o Brasil e seus filhos cheguem vivos e inteiros ao final de 2017. Que atravessemos essa pinguela e cheguemos bem em 2018.

E, como isso só pode acontecer com muita luta nossa e milagre vosso, eu recorro à senhora, minha santinha, na esperança de que esse pedido meu e de meus leitores seja atendido.

Durante boa parte dos dias deste ano, eu saí do meu escritório nos Jardins e fui até a sua igreja na rua Maranhão, em Higienópolis, onde assisto à sua missa das 19h e depois volto para trabalhar ou jantar com a minha família.

No turbilhão deste país de milhões de desempregados e juros estratosféricos, com milhares de empresas fechando todo mês e tantos clientes nossos sofrendo, esse encontro diário consigo, minha santa Terezinha, tem sido, para mim, um remanso e a providência divina que me ajudou a sair vitorioso de ano tão conturbado.

Sou um líder, tenho que comandar mais de 2.000 pessoas diariamente. Passar rumo, norte e fé. E, quando eu fraquejo, é a senhora, menina de 24 anos, fisicamente frágil e moralmente gigante, quem me coloca de pé e me faz seguir em frente, sem me deixar vergar.

Muita gente lendo isso vai achar cafona. Mas a felicidade é cafona.

E por isso, a vós entrego, minha santa das rosas, esse ano de 2017. Com suas pétalas, seus perfumes e seus tantos espinhos

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