Com área 32 vezes maior que Salvador, o município irá receber cerca de R$ 10 bilhões de investimentos
O município de
Jaborandi, no Oeste da Bahia, está mudando o mapa da produção de leite
no Brasil, antes dominado pelos estados de Minas Gerais, Paraná e Goiás.
Com área 32 vezes maior que Salvador (9.994,593 km2 contra os 309 km2
da capital) e pouco mais de nove mil habitantes, o município está
prestes a receber cerca de R$ 10 bilhões de investimentos para
construção do maior empreendimento para a produção de leite do país, a
unidade produtiva da AgriBrasil, de acordo com informações divulgadas na
segunda-feira (26) pela coluna Farol Econômico.
A região já abriga a fábrica da
Leitíssimo, que produz com tecnologia, sistema de manejo e gestão da
Nova Zelândia, desde 2001.
Mas, afinal, o que é que Jaborandi tem?
A secretária de Agricultura e Meio
Ambiente de Jaborandi, Maria Alice, resume em poucas palavras os
atrativos da cidade. “O clima, a abundância de água, o solo e a
topografia da região são altamente propícios à criação do gado e da
alimentação para este rebanho”, analisou a gestora, que acredita que a
instalação da fábrica da AgriBrasil deve impulsionar a atração de novos
empreendimentos do setor para a região.
“Em breve, vamos nos transformar em um
polo de produção de leite e derivados na Bahia e, por que não, do
Nordeste?”. O secretário de administração de Jaborandi, Porfírio José
Forgaça Neto, também pequeno produtor de leite, explica o que chama de
“combinação perfeita entre abundância de água, clima apropriado e solo
fértil”.
Segundo ele, o terreno local é plano e
facilmente manejável, a região está localizada em cima do segundo maior
aquífero do Brasil (Aquífero Urucuia), as estações são bem definidas
com boa quantidade de chuvas e possibilidade de planejamento para o
plantio e a colheita, além da alta insolação (cerca de 2.750 horas de
sol por ano).
“Essa combinação influencia bastante para se conseguir um leite de primeira qualidade”, afirma.
Segundo o presidente do Sindicato das
Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados (Sindileite), Paulo
Cintra, além dessas características, o município encantou os holandeses
da AgriBrasil, cuja produção em seu país de origem é bastante limitada
pela baixa disponibilidade de terra para expansão.
“Na Holanda, eles só podem criar mil
vacas por fazenda, então eles já extrapolaram esta cota na unidade
deles. Na Bahia, eles vislumbraram uma possibilidade enorme de
expansão”.
Ainda segundo o presidente do
Sindileite, o objetivo inicial da indústria holandesa é a exportação. “A
ideia deles é produzir somente leite em pó e praticamente 100% para
exportação. Vão mandar para o Porto de Ilhéus e enviar para a China.
Então, a princípio não creio que se torne um polo do setor com produção
de derivados. Pelo menos não a curto prazo”, disse.
Agribrasil
Representantes da empresa AgriBrasil
Holding tiveram reunião com o governador Rui Costa, na última
quinta-feira, 22. O governo se comprometeu a fazer a estrada de acesso à
Fazenda Jatobá arrendada pela AgriBrasil, e a estrutura de energia
elétrica, além de apoiar a indústria na construção de edificações e na
outorga de água.
AgriBrasil vai investir cerca de R$ 2
bilhões na primeira etapa do empreendimento, podendo alcançar os R$ 10
bilhões em alguns anos. O levantamento financeiro já foi concluído,
sendo uma parte dos recursos provenientes do Fundo de Desenvolvimento do
Nordeste (FDNE), parte captada pela iniciativa privada e cerca R$ 200
milhões da própria empresa AgriBrasil.
Na última sexta-feira, o Inema
concedeu a licença para a primeira unidade integrada para a produção de
leite, que vai ocupar uma área de 15,8 milhões de metros quadrados na
Fazenda Jatobá. A área total arrendada é de 244 milhões de metros
quadrados, que deve abrigar as próximas etapas do empreendimento.
Leitíssimo
A Fazenda Leitíssimo, já instalada em
Jaborandi desde 2001, possui uma fábrica própria de garrafas pet para o
envaze do leite longa vida. O sistema implantado é o da vaca a pasto, em
piquetes irrigados por pivô central. Cada pivô abrange uma área de 56
hectares, com três ou quatro casas de vaqueiro, sistema completo de
ordenha com tanque refrigerador e rebanho próprio de 600 vacas.
A vaca é um diferencial. O gado foi
“fabricado” aqui mesmo na Bahia, partindo da aquisição no mercado local
de vacas girolando, jersey e holandesa. Com o uso sistemático de sêmem
de touro neozelandês, foram, ao longo dos últimos anos na Bahia, fazendo
a vaca que existe hoje, de cor variada e, por enquanto, sem raça
definida. A ideia é se aproximar da “kiwi-cross”.
Diferenças
Entre a produção de leite já realizada
pela Fazenda Leitíssimo e a recém-chegada AgriBrasil, existem algumas
diferenças. A AgriBrasil promete realizar uma produção horizontalizada,
ou seja, toda a cadeia produtiva deve estar sob o cuidado da própria
empresa.
“Diferentemente da Leitíssimo, eles
vão fazer a produção assim como na Holanda. Além disso, toda a
alimentação do gado são eles próprios que vão produzir - milho, caroço
do algodão, etc", , afirmou o presidente do Sindileite, Paulo Cintra.
“Além disso, a Fazenda Leitíssimo cria
gado a pasto e o gado holandês é totalmente preso em estábulos com
alimentação em cocho. Os processos são diferentes, mas trazem resultados
bem proveitosos”, acrescentou o dirigente.
Fonte: Correio