terça-feira, 12 de março de 2013

A relação Dilma e Wagner

Coluna A Tarde:

: Tudo leva a crer que o governador Jaques Wagner dificilmente abandonará o governo em março do próximo ano, desincompatibilizando-se para disputar eleição, de senador ou deputado federal. Observa-se que as relações entre ele e a presidente Dilma Rousseff estão a cada dia mais próximas, como mais uma vez foi comprovado quando, na semana passada, ela o convidou para acompanhá-la, na comitiva que se deslocou para Caracas, onde participaram da cerimônia fúnebre de Hugo Chávez.

Foi num pé e voltou no outro para comemorar o Dia da Mulher e anunciar a desoneração da cesta básica. Uma excelente medida, mas, de outro modo, tem todos os ingredientes, dentro da cesta, de que se trata de uma medida político-eleitoral. De uma forma ou de outra foi uma boa decisão.

Dentro da cesta básica possivelmente esteja, invisível, o governador Jaques Wagner que já foi convidado, e aceitará se o tempo aconselhar que a decisão deva ser esta, para ser o coordenador da campanha eleitoral de Dilma no Nordeste, região determinante para seu projeto eleitoral. Impõe esta escolha os movimentos de Eduardo Campos, presidente do PSB e governador de Pernambuco. Campos não diz que sim ou que não, mas continua a se articular mirando a Presidência da República.



Dilma precisa de Wagner porque, como reflete Lula, se Campos entrar na disputa no mínimo haverá segundo turno, com ele ou com o tucano Aécio de Neves, que está a se mover a partir de Minas. Como já foi pretendente na campanha anterior, barrado no PSDB pelos paulistas, agora Aécio está sozinho e terá o apoio obrigatório do tucanato de S.Paulo até porque Luiz Ignácio Lula da Silva projeta ser candidato ao governo de São Paulo. Se conseguir e se Dilma se eleger, vai dar ordens na República.

Com a política cearense confusa, Eduardo Campos com sonhos maiores, o grande nome e único do nordeste passa a ser Wagner que fará da Bahia uma espécie de cabeça de ponte eleitoral para entrar nos estados nordestinos. Ademais, há três questões que recomendam a ele aceitar a tarefa:

1-facilita seu trabalho de eleger seu candidato ao governo da Bahia. Não há segredo que, dos quatro nomes indicados pela Executiva do partido, a sua preferência recai em Rui Costa, seu chefe da Casa Civil e companheiro desde a época do sindicato petroquímico;

2- Ganhará dimensão na região e também nacional, além de Dilma transformar Salvador no seu quartel-general político-eleitoral e,

3- Se Dilma se eleger Jaques Wagner será fatalmente ministro do seu governo, e forte. No de Lula ele ficou com um ministério fraquinho, o do Trabalho, só ganhando dimensão quando ocupou o posto de ministro de Relações Institucionais, onde realizou um trabalho elogiável, porque estava justo na atividade em que sabe melhor desempenhar: articulação política. E ser um excelente articulador é importantíssimo para a campanha eleitoral de Dilma no próximo ano e também para o seu governo se reeleita for.

Aqui, o governador vê e não dá maior importância às articulações dos pré-candidatos ao seu cargo, na rota precipitada por Lula ao lançar a candidatura de Rousseff à reeleição. Sabe ele que os demais candidatos têm conhecimento sobre quem é seu candidato in pectrori. Ainda ontem, o secretário de Planejamento, José Sérgio Gabrielli, em entrevista a este jornal, que inicia uma série de entrevistas com os pré-candidatos já postos. O secretário, ao falar, leva a vantagem de conhecer, em razão da sua secretaria, os projetos baianos de importância e as possíveis soluções para os entraves que dificultam o processo de crescimento econômico e social da Bahia.

Gabrielli, no entanto, cometeu um erro ao estocar a oposição no estado declarando que “A oposição na Bahia está meio raquítica e com discurso vazio”. Errou por não ter nada a ganhar com a declaração, não que seja fora de sentido, mas por não ser o momento certo para tocar em questões políticas sobre adversários que sequer sabe se os enfrentará porque ele é apenas e por ora um pré-candidato. A oposição está dispersa, mas em outubro ganhou a Prefeitura de Salvador com ACM Neto, ganhou o segundo município da Bahia, Feira de Santana, com José Ronaldo, venceu em cidades de porte médio e por aí foi. Não é aconselhável menosprezá-la antes de começar a campanha político-eleitoral.

Em Salvador, os oposicionistas, com ênfase nos três partidos principais, DEM, PSDB e PMDB, se uniram e, seguramente, no momento certo também procederão de igual modo. Portanto, como pretendente, Gabrielli concedeu a entrevista como pré-candidato que pode e deve criticar seus adversários, no momento certo. Era de a sua obrigação desviar-se da pergunta jornalística. Pelo menos por ora.

O assunto deste texto, no entanto, não é este. É Dilma e a sua aproximação cada vez maior com Wagner. Não estou por trata de pré-candidatos. No momento.



*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (12)

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