por Fernando Duarte e Fernanda Chagas -Tribuna da Bahia
A audiência pública promovida na manhã dessa quinta-feira (21/3) na Câmara de Vereadores não arrefeceu os ânimos dos representantes do governo do estado e da prefeitura de Salvador, que mantém posições antagônicas – e correlatas ao mesmo tempo – com relação à integração entre o metrô e o sistema de alimentação, por meio de linhas de ônibus.
Negando motivações políticas, o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa, e o secretário municipal de Urbanismo e Transportes, José Carlos Aleluia, não apresentaram sinais de entendimento acerca da matéria, que deverá ser motivo de uma derradeira tentativa hoje entre o governador Jaques Wagner (PT) e o prefeito ACM Neto (DEM), após negociações entre técnicos das duas partes.
Para ambos os lados da moeda, entretanto, há o consenso de que a tarifa praticada atualmente pelo transporte público na capital baiana não deve ser objeto de reajuste para tornar o metrô uma alternativa viável para a população. Frente a frente, Costa e Aleluia postularam os pontos de vista de seus respectivos comandantes sobre o ponto de divergência.
O petista defende que o sistema metroviário soteropolitano adote um sistema similar ao utilizado no Rio de Janeiro, em que o valor da passagem inclua um micro-ônibus gratuito para quem está a 5 km das estações de transbordo – o embate gira em torno, principalmente, da linha 2 do metrô, que está em fase de licitação. Para Costa, a alimentação do metrô deve acontecer independente do atual sistema de ônibus urbano.
“Esta proposta havia sido acordada com a gestão anterior. Entendemos que a proposta garante o equilíbrio do sistema. O metrô não interferiria nas outras linhas de ônibus, que operariam como hoje”, explicou Rui Costa, trazendo, pela primeira vez, que chegou a haver entendimento entre o Palácio de Ondina e o ex-prefeito João Henrique, indicado como um dos responsáveis por atravancar a conclusão das negociações para a transmissão da linha 1 para o governo do estado e a consequente cessão para que o Executivo estadual coordene a implantação da linha 2.
O titular da Casa Civil reforçou ainda que os investimentos do governo da Bahia vão além do subsídio estatal, “como acontece em todas as cidades do mundo”, listando intervenções viárias nas imediações da Avenida Paralela, como o complexo do Imbuí e a duplicação da Avenida Pinto de Aguiar.
Do lado da prefeitura de Salvador, Aleluia sugere que deve haver a integração total entre os sistemas, com os ônibus urbanos alimentando o sistema metroviário. E esse é o principal ponto de desacordo. Enquanto Rui Costa aponta que a Bahia subsidiaria até R$ 0,95 caso micro-ônibus passassem a alimentar o metrô – com uma tarifa entre R$ 3,10 e R$ 3,90 -, a prefeitura defende a manutenção de uma tarifa similar a praticada atualmente, R$ 2,80, com o subsídio suplementar para que haja a integração.
O argumento utilizado pelo chefe da Casa Civil é que a proposta do Palácio Thomé de Souza inviabiliza a implantação do metrô. O clima é acirrado e, durante a semana, o governador Jaques Wagner chegou a indicar que os recursos reservados para a instalação do metrô na Avenida Paralela poderiam ter outro fim, caso as negociações não avançassem.
Sobre esse questionamento, Aleluia rebateu a crítica sem meias palavras. “O governador tome a decisão que quiser. O subsídio não pode vir dos passageiros”, defendeu.
Ânimos esquentam
Além da falta de entendimento entre os gestores municipal e estadual, a audiência pública rendeu polêmicas. Chamou atenção o fato de o presidente da Câmara, vereador Paulo Câmara (PSDB), se desentender com o líder da oposição, Gilmar Santiago (PT).
O mal-estar teria começado após o presidente do legislativo municipal ter encerrado antes do prazo previsto a audiência. A decisão se deu após vaias de alguns presentes. Insatisfeito com a decisão, o petista resolveu protestar e houve desavenças entre os dois. Procurados pela reportagem, ambos minimizaram.
Aliado a isso, a indefinição em torno do assunto acirrou os ânimos no parlamento. Até mesmo o líder do governo, vereador Joceval Rodrigues (PPS), afirmou que o metrô de Salvador virou “piada nacional” e cobrou uma solução para o impasse. “O metrô de Salvador virou uma piada nacional. A Câmara propôs essa audiência para entrar em um consenso, mas isso não ocorreu. Eu e todos os soteropolitanos torcemos para que os governos municipal e estadual entrem em acordo”, pontuou.
Contudo, cumprindo seu papel de “capitão” da base aliada, tendeu para o lado do executivo municipal. Em sua visão, as linhas alimentadoras é o grande nó da questão. Para ele, com a tarifa gratuita de ônibus ou o transporte oferecido sem custo pelo governo do Estado, apenas 30% dos usuários seriam beneficiadas. “Enquanto os outros 70% pagariam essa conta, que seria inflacionada pelo metrô. São muitos investimentos. O melhor sistema é aquele que vai atingir a maioria da população. Cajazeiras, por exemplo, que ficou fora do metrô, está correndo o risco de subsidiar o metrô”.
A vereadora Aladilce Souza (PCdoB) questionou o real motivo da prefeitura em não firmar acordo com o governo do estado para a transferência da gestão da linha 1 do metrô de Salvador. Ela pontua que o Estado se comprometeu a administrar os trens do Subúrbio e subsidiar a passagem das linhas de ônibus que levariam a população ao metrô.
“O discurso da prefeitura parece defender o interesse dos empresários em detrimento do interesse da população”. Mais além, o líder oposicionista acusou os empresários do sistema de transporte coletivo de Salvador de serem os principais responsáveis pelo impasse. “Os empresários de ônibus têm uma responsabilidade nisso, querem operar sozinhos o sistema de transporte na cidade. Está na hora deles darem a sua contribuição. Esse debate não pode ser visto apenas pelo lado comercial dos operadores de transporte. A Prefeitura tem que impor o que é melhor para a cidade e não para os empresários”.
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