domingo, 17 de março de 2013

Coluna A Tarde: Nilo está na raia

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Com a sucessão escancarada na Bahia e em diversos estados, assim como para a Presidência da República, na última quinta feira Luiz Ignácio Lula da Silva anunciou que “é hora de o PT governar São Paulo”. Era o que planejava. Colocou-se, então, como personagem principal das inserções políticas do partido na TV. Um forte sinal de que é ele que será o candidato. Anunciou que “o PT foi o partido que fez mais pelo Brasil”. Não há, então, razão para que possíveis pretendentes aos governos estaduais não aparecerem em cena. Aqui na Bahia, os pré-candidatos do PT, oficializados pela Executiva da legenda, são quatro, mas, na verdade, são seis. Os oposicionistas ainda não se movimentaram.



Os quatro oficializados são da legenda. Os dois outros, não. Um dele, que talvez fosse o mais forte dentre todos, o vice Otto Alencar, mandou-me uma mensagem, declarando que, na verdade, “mira o Senado”. Como é fortíssimo no interior, tem lá as suas razões para a escolha da senatória, mas não as explicou. O que complementa o time governista é outro nome também muito forte, que surgiu no cenário há mais de um ano. Trata-se do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, um político afável com estreita ligação com o governador Jaques Wagner, além de cultivar ótima relação com os deputados estaduais, independente dos partidos que integrem. Tanto faz governista como oposicionista.



Marcelo Nilo desponta como forte candidato ao governo, mas tudo dependerá do governador, que tem sua preferência pessoal, do seu próprio partido. É preciso, no entanto, ver com o PT baiano chegará à campanha (a oficial) para o governo. Se estiver forte, é claro que Wagner ficará aprisionado ao candidato que a Executiva do partido escolher em prévias que fatalmente fará. Se ele, porém, sentir que a oposição estará fortalecida no processo, na medida em que ainda não começou a se movimentar (o que foi confundido com “raquitismo”), ele poderá se voltar para oferecer apoio a um candidato de um partido aliado (porque o alinhamento em tese não serve apenas para a sustentação do governo) e apresentar um nome que não seja do PT.



Se Alencar se dispuser a ser o candidato, não há dúvida de que será ele. Como, até aqui, não demonstra interesse, a não ser para o Senado, a escolha poderá recair sobre Marcelo Nilo pelo somatório de virtudes políticas que exibe e livre passagem pela esmagadora maioria dos deputados estaduais. Nilo é do PDT, um partido pequeno, mas, no somatório de apoios, se torna forte.



O presidente da Assembleia, de forma recorrente, afirma que é pré-candidato e chegará até onde puder, embora reconheça que as suas possibilidades, que para ele são boas, irão depender de circunstâncias que somente aflorarão no próximo ano. A precipitação da sucessão de 2014 é um absurdo. Ideia de Lula que não se vincula apenas a colocar Dilma Rousseff como candidata à reeleição, mas ele próprio como candidato ao governo de São Paulo. Lula vem com esta manobra há tempos. Ele fará aliança com o diabo para sair candidato forte ao governo paulista porque foi dessa maneira que agiu em relação à prefeitura paulistana. Lançou um poste (ele é especialista em postes) para a prefeitura, Fernando Haddad, que jamais havia disputado uma eleição, e com habilidade saiu fazendo alianças à direita à esquerda até bater na porta da mansão do diabo. Foi recebido com sorrisos e champanhe por Paulo Maluf, uma figura detestada em boa parte do segmento político e da população, que cultiva o cinismo como poucos. Está crivado de suspeitas (talvez mais do que isso) envolvendo corrupção aqui no Brasil e no exterior. Maluf é tão hábil que nunca foi punido e, pelo visto, jamais será.



Assim, vê-se agora que Lula pensava nele quando lançou Dilma e abriu a porteira da sucessão com estranha precocidade. Com de tolo não tem nada, saber o que faz. Seu objetivo é garantir Dilma em novo mandato na Presidência e conquistar o governo do principal estado da federação. Se seus planos estiverem corretos e se os fados o favorecerem, ser um mito para ele será coisa boba, pouca coisa. Ficará na historia como o operário que conquistou e comandou o Brasil.



Assim posto, vê-se que o processo está aberto a partir de uma trama de Luiz Ignácio. Marcelo Nilo, portanto é nome, e não é fraco, pelo contrário, para ser uma das estrelas do processo sucessório da Bahia.



* Coluna de Samuel Celestino publicada no Jornal A Tarde deste domingo (17)

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