“Tinha era que matar mais”: Temer escolhe
assessores entre haters da rede?
Leonardo Sakamoto
07/01/2017 09:06
'Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma
chacina por semana.''
Na sua opinião, essa declaração sobre os presos
mortos no Massacre de Manaus foi dada por:
a) Um perfil falso de rede social criado para
apoiar políticos ou movimentos que querem se vender como novos salvadores da
pátria, mas defendem a tradição, a família e a propriedade, tentando mostrar
que o problema do mundo é a defesa dos direitos humanos;
b) Um hater da internet que, na opinião dos
vizinhos, é um ''homem de bem'', ''pai carinhoso'', ''trabalhador exemplar'',
''pagador de impostos'', ''pessoa tranquila'', mas que, na frente do
computador, torna-se capaz de matar com as próprias mãos com requintes de
crueldade;
c) Um miliciano de um grupo que tomou uma área na
periferia de uma grande cidade das mãos dos traficantes e obriga, com base em
muita violência, o comércio e a população a pagarem por proteção (proteção
contra ele próprio, no caso);
d) Um apresentador de TV ou um locutor de rádio que
ganha dinheiro explorando a história de assassinatos e agressões, difundindo a
narrativa de que a solução para a violência é mais violência e criando uma
sociedade do medo sob a justificativa de ''mostrar a realidade'';
e) O secretário nacional de Juventude, responsável
por elaborar, monitorar e implantar políticas de promoção da dignidade humana
aos mais jovens, um cargo que, por natureza, deve trabalhar ideias novas e
transpirar esperança.
A resposta é a alternativa ''e''.
A declaração foi dada por Bruno Júlio (PMDB),
secretário nacional de Juventude. Aliás, ex-secretário, pois as declarações
dadas ao blog Panorama Político, do jornal O Globo, nesta sexta (6),
tornaram insustentável a sua permanência no cargo, que foi entregue a Michel
Temer.
É inacreditável, mas não passa um dia sem que
alguma autoridade dê uma opinião estapafúrdia sobre o caso. Como José
Melo, governador do Amazonas justificando as mortes, dizendo que ''não tinha
nenhum santo''. Ou Michel Temer, presidente da República afirmando que foi um ''acidente pavoroso''.
Isso não é engano. Na prática, todos sabem que, ao dizer
essas aberrações, externam o que uma boa parcela da população realmente pensa
sobre isso. Alguns, como Bruno, até parecem acreditar nisso.
O ponto é que quem ocupa um cargo público deve
defender a lei e não fazer proselitismo com quem não dá a mínima para ela. O
Estado não pode e não deve agir com os mesmos métodos de bandidos, mas também
seus representantes não podem adotar discursos que não passem pela proteção da
dignidade humana.
Abrir uma exceção a isso é decretar a falência do
Estado de direito. E, repito, isso não é defesa de bandido, mas de nós mesmos.
Porque, sem isso, será a regra do mais forte.
Parte da população, em momentos de comoção, feito
uma horda desgovernada, pede sangue. Afinal de contas, ''aquele bando de
bandidos não são seres humanos porque desrespeitaram a lei''. E mesmo ''os que
não mataram ou estupraram, matariam se pudessem'', não é mesmo? ''Devem
apodrecer por lá''.
Tenho medo desse ponto de vista porque é o mesmo de
turbas ensandecidas, que ignoram a lei e fazem Justiça por conta própria, não
raro matando inocentes. E de uma população com tanto medo de si mesma que acaba
por ignorar as leis e se guiar por discursos que prometem o impossível:
garantir a paz promovendo a guerra. No final das contas, essa guerra com ares
de inquisição se estende a todos sem exceção. Ou você está do lado deles
ou contra eles.
O que me lembra sempre de Oscar Wilde: ''Há três
tipos de déspotas. Aquele que tiraniza o corpo, aquele que tiraniza a alma e o
que tiraniza, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. O primeiro é chamado de
príncipe. O segundo de papa. O terceiro de povo''.
Em tempo, se você chutou ''a'', ''b'', ''c'' ou
''d'' no teste, não duvido que também tenha acertado. O que é desesperador.
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