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Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'. Escreve de terça a sexta e aos domingo
Divulgação e Pedro Ladeira/Folhapress
Saudades da
Guanabara
Divulgação e Pedro Ladeira/Folhapress
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Tancredo Neves (à esq.) e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes
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01/01/2017 02h00
BRASÍLIA - Villas-Bôas Corrêa, o velho repórter que morreu em dezembro, nunca engoliu a transferência da capital para Brasília. Veterano da cobertura política no Rio, dizia que a mudança cortou os laços entre os políticos e a vida real do país.
No livro
"Conversa com a Memória" (Objetiva, 2002), ele lembra os tempos em
que a classe dirigente era vigiada de perto. O Congresso funcionava de segunda
a sexta, e os cariocas lotavam a Câmara e o Senado para acompanhar os debates.
"A presença
espontânea de populares, a participação do que se podia qualificar como opinião
pública, não sobreviveu ao trauma da mudança da capital", escreveu.
"Em Brasília, foi substituída pela pressão organizada de claques (...) que
viajam de ônibus fretados."
Antes de se isolarem
no cerrado, os congressistas eram obrigados a gastar os sapatos na rua, sem a
proteção de marqueteiros. Isso permitiu a Villas lançar os Comandos
Parlamentares, que marcariam época no jornal "O Dia" a partir de
1951.
Toda semana,
deputados e senadores eram recrutados para incursões de surpresa em escolas,
hospitais ou presídios do Rio. Os convidados só conheciam o itinerário ao
deixar a redação. "Nunca ninguém protestou. Viramos a cidade pelo
avesso", contava o jornalista.
Numa das reportagens,
o então ministro da Justiça, Tancredo Neves, foi levado a um abrigo em que
meninas eram submetidas a maus-tratos. Na saída, os visitantes flagraram
instrumentos de tortura. O ministro transferiu as internas, demitiu a diretora
e fechou a espelunca.
Acostumado a Tancredo, o velho repórter se espantaria com as bravatas do
atual ministro, Alexandre de Moraes. Há pouco tempo, ele se deixou filmar em
trajes de samurai enquanto desferia golpes de facão em pequenos pés de maconha.
Depois da façanha, prometeu erradicar a droga no continente —algo mais
improvável que ir a pé à lua. Seria melhor voltar ao gabinete refrigerado.
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