Jornalista, assina a coluna Brasília.
Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.
Escreve de terça a sexta e aos domingos.
A barbárie que dá lucro
9 de 23
BRASÍLIA - O governador do
Amazonas, José Melo, não é um político muito original. Depois do massacre de 56
detentos no maior presídio do Estado, adotou a velha tática de
culpar os mortos. "Não tinha nenhum santo", disse, em entrevista à
CBN. "Eram estupradores e matadores que estavam lá dentro",
acrescentou.
Ao repetir o discurso
brucutu que prolifera nas redes sociais, Melo tenta se eximir de
responsabilidade pela matança. Antes que alguém pergunte se existem santos no
governo amazonense, é preciso questionar o que as autoridades locais fizeram
para evitar o banho de sangue. Ao que tudo indica, não fizeram nada.
O presídio estava
superlotado, com quase três detentos por vaga. Armas e drogas circulavam
livremente, e os presos usavam celulares para comandar o crime de trás das
grades.
Em outubro, o CNJ
classificou a unidade como "péssima". A inspeção constatou que os
detentos não recebiam assistência jurídica, educacional, social ou de saúde.
Tratados como animais, reagiram à altura, como sugerem as imagens de corpos
decapitados na rebelião.
Além de evidenciar a
falência do sistema carcerário, a barbárie de Manaus lembra que a privatização
não é uma solução mágica para todos os problemas brasileiros. O palco da
chacina foi terceirizado em 2014, quando Melo assumiu o Estado.
Nesta quarta (4), o
Ministério Público de Contas pediu a rescisão do contrato por indícios de
superfaturamento. Uma das empresas sob suspeita doou R$ 300 mil à campanha do
governador à reeleição. Ao que parece, a desordem nas cadeias amazonenses era
um negócio lucrativo.
*
O novo prefeito do
Rio, Marcelo Crivella, assumiu com a promessa de cortar despesas.
Com três dias na cadeira, mandou trocar a logomarca da cidade. Faltou dizer
quanto gastará para aplicar a mudança em letreiros, lixeiras, carimbos,
uniformes escolares, ônibus, carros oficiais...
Nenhum comentário:
Postar um comentário