quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A barbárie que dá lucro


Descrição: bernardo mello franco
Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'. Escreve de terça a sexta e aos domingos.
A barbárie que dá lucro
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Marlene Bergamo - 4.jan.2017/FolhapressAnteriorPróximaDescrição: http://f.i.uol.com.br/fotografia/2017/01/04/661376-970x600-1.jpeg
 
Os primeiros corpos dos presos massacrados em rebelião no Presidio Anisio Jobim que aconteceu no domingo começam a ser enterrados no Cemitério Nossa Senhora da Aparecida
Descrição: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/bernardomellofranco/2017/01/1847148-a-barbarie-que-da-lucro.shtml
BRASÍLIA - O governador do Amazonas, José Melo, não é um político muito original. Depois do massacre de 56 detentos no maior presídio do Estado, adotou a velha tática de culpar os mortos. "Não tinha nenhum santo", disse, em entrevista à CBN. "Eram estupradores e matadores que estavam lá dentro", acrescentou.
Ao repetir o discurso brucutu que prolifera nas redes sociais, Melo tenta se eximir de responsabilidade pela matança. Antes que alguém pergunte se existem santos no governo amazonense, é preciso questionar o que as autoridades locais fizeram para evitar o banho de sangue. Ao que tudo indica, não fizeram nada.
O presídio estava superlotado, com quase três detentos por vaga. Armas e drogas circulavam livremente, e os presos usavam celulares para comandar o crime de trás das grades.
Em outubro, o CNJ classificou a unidade como "péssima". A inspeção constatou que os detentos não recebiam assistência jurídica, educacional, social ou de saúde. Tratados como animais, reagiram à altura, como sugerem as imagens de corpos decapitados na rebelião.
Além de evidenciar a falência do sistema carcerário, a barbárie de Manaus lembra que a privatização não é uma solução mágica para todos os problemas brasileiros. O palco da chacina foi terceirizado em 2014, quando Melo assumiu o Estado.
Nesta quarta (4), o Ministério Público de Contas pediu a rescisão do contrato por indícios de superfaturamento. Uma das empresas sob suspeita doou R$ 300 mil à campanha do governador à reeleição. Ao que parece, a desordem nas cadeias amazonenses era um negócio lucrativo.
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O novo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, assumiu com a promessa de cortar despesas. Com três dias na cadeira, mandou trocar a logomarca da cidade. Faltou dizer quanto gastará para aplicar a mudança em letreiros, lixeiras, carimbos, uniformes escolares, ônibus, carros oficiais...

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