Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos
mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e
econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Massacres expressam a
realidade mal conhecida de perigos que nos rondam
Alfredo Maia - 6.jan.2017/Folhapress
Presos carregam corpos de detentos mortos durante um motim
na penitenciária agrícola de Monte Cristo, em Roraima. Leia mais
08/01/2017 02h00
As matanças nos presídios de Manaus
e Boa Vista
não refletem apenas o criminoso sistema carcerário e as indiferenças perversas
das classes média e alta, que servem de anteparo para a omissão dos governos em
seus deveres penais. As explosões da violência encarcerada, crescentes em
frequência e em Estados atingidos, expressam também a realidade mal conhecida
de perigos que nos rondam a todos.
Degolados e degoladores, outros assassinados e outros
assassinos, que hoje nos horrorizam, até há pouco estavam entre nós. Há
estimativas de quantos estão nos presídios, quantos são os prováveis presos de
tal ou qual facção –mas quantos entre nós? Os presos integrantes do PCC, do CV
e de outras iniciais não são mais do que amostras, não só numérica, de uma
força que se desconhece. E, para sorte geral, talvez ainda desconheça a si
mesma.
O PCC e o CV expandem-se pelo país. Paulistas do PCC
infiltram-se no Rio do CV para dominar os serviços de favelas, como está
constatado na Rocinha. Há sinais de presença das duas facções já
além-fronteira, na Bolívia, no Paraguai e no Peru. Dão assim uma ideia, a
única, da dimensão que têm.
Com incontáveis milhares de jovens disponíveis, na
marginalidade e no desemprego, para mais arregimentação. Seu arsenal, soube-se
pela perícia de uma ação nas primeiras terras bolivianas, entrou no nível das
metralhadoras pesadas, armas de guerra.
O MST lembra, na internet, uma ponderação de Darcy Ribeiro em
1982: "Se não construirmos escolas agora, daqui a 20 anos faltará dinheiro
para construir os presídios necessários". PCC, CV e outras, por sua
dimensão, não são mais aprisionáveis.
As facções cuidam de tráficos e do domínio das áreas chamadas
"de baixa renda" (como se salário mínimo e desemprego fossem renda).
E deixam por sua conta de cidadã ou cidadão algumas reflexões sobre o que será
se, um dia, as facções quiserem mais do que tráfico e domínio de áreas humildes.
Afinal, força é poder.
Fonte UOL
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