terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Reajustar os conceitos dos que mandam é uma necessidade de ética e de moral


 
 
Alan Marques/Folhapress
Descrição: O ministro da Saúde, Ricardo Barros, que havia inicialmente optado pela candidata menos votada
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, que havia inicialmente optado pela candidata menos votada
GUSTAVO URIBE
NATÁLIA CANCIAN
DE BRASÍLIA
03/01/2017 18h03
Em meio a protestos de servidores e de representantes da comunidade científica, o presidente Michel Temer recuou nesta terça-feira (3) e decidiu nomear a pesquisadora Nísia Trindade para o comando da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Mais votada em eleição interna, a socióloga tem o apoio de dirigentes da OMS (Organização Mundial de Saúde) e sociedades científicas para ocupar o cargo, embora o governo federal pretendesse nomear a médica Tania Araújo-Jorge, segundo lugar na disputa interna. A situação gerou um embate entre Fiocruz e o Ministério da Saúde.
Com a repercussão negativa da decisão, que gerou protestos na sede da instituição, o presidente chamou ambas para uma conversa nesta terça (3) no Palácio do Planalto para chegar a um consenso.
"Houve um entendimento com as duas candidatas que disputaram para que seja nomeada a pesquisadora Nísia Trindade, que foi a mais votada na lista", disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
O ministro, porém, não deixou claro do motivo de ter optado inicialmente por Tania. "As duas tinham mais de 30% de apoios exigidos conforme o estatuto e estavam habilitadas a serem nomeadas. Não há prejuízo dentro das regras estabelecidas se qualquer uma fosse escolhida", disse Barros.
Segundo ele, houve uma "solução conciliadora". "Haverá uma união em torno dos objetivos. A presidente será a Nísia e haverá da parte do ministério e da chapa da Tânia a possibilidade de interlocução e participação no processo de busca dos objetivos estabelecidos pelo ministério para a Fiocruz", afirmou.
Nísia obteve 2.556 votos como primeira opção à presidência e 534 votos como segunda opção. Tania recebeu 1.695 votos como primeira opção e 656 como segunda.
Na semana passada, o atual presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, avaliou que o desrespeito à votação interna poderia ser considerado uma "afronta". Nísia faz parte da atual gestão.
"Ela criou uma comoção intensa em todas as áreas em que a Fiocruz trabalha. Deveria ser um processo natural do presidente e do ministro de reconhecer que a Fiocruz tem demonstrado maturidade no processo de seleção da presidência", disse.
A Fiocruz é uma instituição ligada ao Ministério da Saúde e sua história teve início em 1900. Além da missão inicialmente estabelecida de fabricar soros e vacinas, também tem importante atuação na área de saúde pública (em pesquisas sobre febre amarela, zika, Aids e dengue, por exemplo).
A instituição, que tem mais de 5.000 servidores, é composta de diversas unidades (institutos) distintos, em diversos Estados brasileiros, mas a maioria se encontra no Rio de Janeiro, onde tem presença marcante.
"Espero que os dirigentes atuais da Fiocruz tenham bom senso e preservem a nossa instituição centenária. Os ocupantes de cargos passam, a Fiocruz é patrimônio do povo brasileiro", declarou Tania em nota, antes da decisão ter sido divulgada.
Colaborou GABRIEL ALVES, de São Paulo
Pedro Ladeira/Folhapress
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O presidente Michel Temer (PMDB) fala sobre as reformas de seu governo no Palácio do Planalto
03/01/2017 02h00
Sorrateiramente, Michel Temer e aliados tentaram aplicar um dos maiores golpes contra o patrimônio público e o povo: mudar a Lei Geral das Telecomunicações e transferir aproximadamente R$ 100 bilhões de bens públicos a empresas privadas.
Isso ocorre no momento em que o país atravessa grave crise econômica. O governo congela ações e programas públicos e penaliza trabalhadores e aposentados exatamente sob o pretexto de eliminar gastos públicos. Ou seja, para o povo, sacrifícios; para as teles, R$ 100 bilhões de generosidade. Quanto despautério!
O caráter entreguista do Projeto 79/2016 é evidente. Transfere ao patrimônio das empresas vasta infraestrutura pública: rede de cabos de cobre e fibras ópticas, dutos subterrâneos, edifícios, lojas, centrais de comutação, centros de controle, etc., que estão sendo utilizados por elas desde a privatização em 1998, e que deverão retornar à União em 2025 com o término da concessão.
A pretensão era transformar as concessões em autorizações, repassando esses bens definitivamente para as empresas privadas, sem qualquer contrapartida.
Ficaria a cargo da Anatel definir, com elas, as eventuais regras de investimentos. Mero exercício de abstração e subjetividade.
As empresas ficam desobrigadas da universalização do serviço e asseguram a possibilidade de transferência e renovação das autorizações e de usar satélites brasileiros indefinidamente.
Em entrevista a esta Folha, o presidente da Anatel confirma o repasse, só questiona o valor. Diz que "naquela época (privatização de 1998), o valor desses bens era de cerca R$ 100 bilhões. Hoje não valem nem R$ 20 bilhões".
Isso é ilegal e imoral. Um crime de lesa-pátria! Agravado pela suspeita levantada de que o governo age para ajudar uma das operadoras em situação pré-falimentar.
A tramitação do projeto no Senado foi "the flash" e quase clandestina. Oriundo da Câmara, ele chegou e foi lido no plenário na noite de 30 de novembro. Depois foi remetido a uma única comissão (temporária), presidida pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que se autonomeou relator e, pasmem, entregou o relatório já no dia seguinte.
Sem qualquer respeito aos prazos regimentais, um projeto complexo e estratégico à nossa soberania foi votado na comissão sete dias depois.
Contra essa manobra, restou-nos apresentar recurso e recorrer à Justiça, uma vez que o projeto não poderia tramitar apenas na comissão especial, sem avaliação do plenário. Um verdadeiro acinte contra a nossa instituição e o Brasil.
Felizmente, pelo menos esse golpe foi barrado, devido à imediata reação de parlamentares da oposição e de entidades do movimento social

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