domingo, 1 de janeiro de 2017

Fala de solidariedade no Ano Novo, mas quer que os pobres paguem pela crise



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Fala de solidariedade no Ano Novo, mas quer que os pobres paguem pela crise

Leonardo Sakamoto

01/01/2017 10:30

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Para muita gente, solidariedade é uma palavra que significa ''entrega de calças velhas para vítimas de enchente”, “brinquedos usados repassados a orfanatos no Natal”, ''uma moeda entregue no semáforo'', “um doc limpa-consciência feito a algum orfanato” ou ''doação dos restos da ceia da virada do 31/12 para o 01/01 a algum morador de rua''.

Nada sobre um esforço coletivo de buscar a dignidade para todos o ano inteiro de forma estrutural.

Existe maior hipocrisia do que desejar fraternidade a um país atolado em uma gigantesca crise econômica e ficar em silêncio quando apenas os mais pobres pagam para sairmos do atoleiro? Ou, pior: defender abertamente que os ricos sejam poupados?

A já aprovada limitação dos gastos públicos por 20 anos, o que afetará a educação e a saúde públicas, e as reformas previdenciária e trabalhista, propostas de forma draconiana e sem discussão com a sociedade, inundam a casa dos brasileiros e das brasileiras via milionárias propagandas oficiais. Querem te convencer que é legal ficar mais pobre ainda.

Mas nada se fala sobre a necessidade de passar a fatura da crise também aos mais ricos, por exemplo, com a volta de um imposto sobre os dividendos recebidos de empresas, taxação de grandes fortunas e grandes heranças e uma reforma decente da tabela do imposto de renda – isentando a maior parte da classe média e cobrando faixas de 35% e 40% junto aos mais ricos.

Isso não resolve os problemas econômicos. Mas seriam ótimas ações para que o governo federal e o Congresso Nacional demonstrassem que suas prioridades de curto prazo não são apenas com as classes sociais e empresas que os colocaram lá, mas também com o povão que não foi às ruas, nem a favor, nem contra o impeachment, e assistiu a tudo bestializado.

Democratizar a redução de direitos em um país desigual em Justiça é um ato civilizatório.

O problema é que muita gente – no governo e fora dele – não consegue ser fraterna com os mais pobres porque não os enxerga como irmãos. Nem solidária, por não reconhecer neles semelhantes com direitos iguais. Aliás, para muitos, o deficit de empatia é tão grande que já seria uma vitória se percebessem naqueles que nada têm algum traço de humanidade.

Enfim, um Feliz 2017.

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