Nascido na Itália, veio ainda criança para o
Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio
da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.
Com medidas ineptas,
políticos massacram contribuintes soltos
Alan Marques - 6.jan.2017/Folhapress
| ||
| ||
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dá
entrevista sobre o plano de segurança pública
|
08/01/2017 02h00
No último domingo (1º), houve o primeiro massacre
de presos. Já na segunda-feira (2), começou o massacre dos soltos. O processo
de empulhação foi disparado quando o Ministério da Justiça soltou uma nota
oficial referindo-se aos "R$ 44,7 milhões de repasse" do Fundo Penitenciário
Nacional, recebidos pelo governo do Amazonas no dia 29 de dezembro.
Não juntaram lé com cré. O dinheiro que chegou no
dia 29 nada tem a ver com um massacre ocorrido no dia 1º de janeiro. Ademais, o
descontingenciamento desses recursos cumpria uma ordem de agosto, do Supremo
Tribunal Federal.
Dada a senha, o massacre prosseguiu. O governador
do Amazonas disse que entre os 56 mortos "não tinha santo". Santo,
por lá, só ele. Na quinta-feira (5), numa entrevista, três ministros anunciaram
satélites artificiais, sensores, radares, tornozeleiras, mais um milagroso e
ainda inacabado Plano Nacional de Segurança. Os ministros têm idade suficiente
para saber que só neste século, FHC, Lula e Dilma Rousseff coreografaram o
lançamento de três Planos Nacionais de Segurança, todos com esse nome. O truque
é velho e beneficia sobretudo quem vende equipamentos. A fantasia de "Star
Wars" foi colocada no lugar no dia seguinte, com a matança de Roraima,
a quem o governo negara 180 pistolas.
Os dois massacres chocaram pela proporção, mas
neles houve muito de rotina. Roraima já tivera 18 mortos, quatro deles
decapitados. Aconteceram degolas nos presídios dos governadores Sérgio Cabral
(Rio), Ivo Cassol (Rondônia), Roseana Sarney (Maranhão) e Paulo Hartung
(Espírito Santo), onde se guardavam presos em contêineres.
O doutor Alexandre de Moraes, um ministro encantado
com a própria voz, teve dois momentos de fama e remeteu a origem dos males das
prisões brasileiras ao período colonial, como se a privataria do Compaj viesse
das ordenações manuelinas.
O contribuinte foi massacrado três vezes. Na
primeira, quando um bandido assaltou-o, na segunda quando usaram o dinheiro dos
seus impostos para sustentar máquinas privadas e públicas ineptas e na terceira
quando ministros foram ao palco para empulhá-lo.
Leia outros textos da coluna deste domingo:
-
Fonte UOL/Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário