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Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.Desejar 'feliz 2017' é uma extravagância cômica
Marcelo Carnaval - 2.out.2016/ Agência O Globo
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O prefeito Eduardo Paes (centro), que deixa o
cargo neste domingo, em comemoração após o 1º turno das eleições
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01/01/2017 02h00
Michel Temer e Donald Trump são sócios em uma
excentricidade que nos onera com alcance, pode-se dizer, unânime. A voz geral é
o pessimismo sobre o 2017 com Temer e seu grupo de aturdidos e corruptos. A
essa desesperança convicta Trump anexa uma inquietação medrosa do quanto pode
piorar as desgraças do mundo, entre as quais a nossa. E então, com fogos e
beijos, bebidas e delícias, de 31 de dezembro para 1º de janeiro festejamos
–como 200 milhões de tresloucados– tanto o fim de um ano desprezível quanto a chegada
de um ano que prevemos igual ou ainda pior.
Nesse encontro do passado perdido com o não futuro,
desejar "feliz 2017" é uma extravagância cômica. Ou sádica. Haveria
alternativas adequadas. "Salve-se". "Cuidado com 2017". E a
minha preferida: "Sorte". Neste país, só duas coisas levam adiante:
ou ter sorte ou não ter caráter. No primeiro caso, o mérito é um coadjuvante,
mas não indispensável. No segundo, isso não interessa.
Eduardo Paes, prefeito que hoje é ex, diz que
"teve sorte, por conseguir o que mais queria: ser prefeito da minha
cidade". Se isso foi mais por sorte do que por mérito, nos anos de
realização o mérito foi igual ou maior do que a sorte. O Rio visível recebeu,
em oito anos, uma quantidade de obras de porte muito superior à soma do que lhe
deu a fileira de prefeitos do último meio século. A cidade pulou sem intervalo
da decadência melancólica para as modernidades do urbanismo, de transporte, da
tecnologia. Foram quase R$ 40 bilhões em investimentos. A Olimpíada teve, sim,
participação nisso, mas não foi a maior nem a mais importante das que couberam
à prefeitura. E poderia ter sido a mesma junção de imoralidade e incompetência
que foram as obras da Copa.
A confirmar-se com o tempo, deu-se uma exceção
histórica: com tamanho montante de gastos e de obras nos dois mandatos, não
houve um só caso de escândalo financeiro. A propósito, mesmo no Rio, e no
jornalismo, persiste a confusão entre o desastre do Estado e a situação do
município. A cidade do Rio pagou aos funcionários sempre em dia, deixa com
sobra o necessário para restos a pagar, fez redução expressiva da velha dívida
municipal. Em saúde e educação, o Rio gastou bem mais do que o exigido por lei.
Emprestou dinheiro ao Estado e até absorveu dois hospitais estaduais.
Explicação de Paes: "Foi possível porque, sem
aumentar impostos, aumentamos a arrecadação com recadastramento do IPTU, venda
de imóveis públicos e renegociação de dívidas ativas. E fizemos associações com
a iniciativa privada". O que todo prefeito e governador poderia fazer. Como
também esta outra ajuda aos cofres públicos: foi raríssima a publicidade da
prefeitura, sempre uma torrente de desperdício (e desvios) nas administrações
brasileiras.
O político Eduardo Paes não teve os mesmos êxitos.
Pouco cuidadoso no que diz, nada dedicado a se valer da posição para
articular-se politicamente, sua situação não reflete o êxito administrativo.
Jogou mal, e reconhece, na sua sucessão perdida para Marcelo Crivella. Da
corrente peemedebista que foi liderada por Sérgio Cabral, hoje Paes é quase um
livre-atirador no partido. Seu destino lógico –a candidatura ao governo
estadual– tem outros pretendentes bem situados na máquina do PMDB. E Crivella,
com o poder na mão, poderá apressar o plano dos evangélicos de ainda maior
ascensão política.
Mas Eduardo Paes tem sorte. E o Rio teve com ele.
Agradeço, com franqueza, a divulgação e os
comentários, mesmo não sendo poucos os discordantes, do que pude publicar na
Folha, ao longo do ano, com total liberdade e frequentes divergências com o
próprio jornal. A todos, os votos de que a sorte lhes alivie o 2017.
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