sábado, 21 de setembro de 2013

NERUDA, A VACA, E O FED



O poeta Pablo Neruda conta eu seu livro “Confesso que vivi” a hilariante história do seu amigo, o escritor argentino Omar Vignole, que jamais abandonou  suas origens campesinas. Assim, quando veio morar em Buenos Aires trouxe consigo uma vaca que tornou-se sua amiga e confidente.  Vignole era visto frequentemente conversando com a vaca e, de vez em quando, para espanto dos seus amigos, a levava a passear pela largas avenidas da capital portenha, puxando-a por uma corda. A amizade foi tamanha que a vaca foi tema de dois dos seus livros:  “O que pensa a vaca”  e  “Minha vaca e eu”, ambos publicados. Por esse tempo, se realizava em Buenos Aires um congresso mundial de escritores do Pen Club e os organizadores do evento tremiam ante a ideia de ver adentrar ao luxuoso Hotel Plaza, onde aconteciam as conferências, o escritor Vignole e sua vaca. Por isso, explicaram as autoridades o perigo que os ameaçava e a polícia aceitou cercar o local e impedir a qualquer custo a entrada do ruminante e seu dono. Com isso todos se tranquilizaram, mas quando a festa estava em seu apogeu, e os escritores do mundo inteiro examinavam as relações entre o mundo clássico dos gregos e o sentido moderno da literatura, ouviu-se um ruído misterioso, quase intelectual: muuu.  Vignole e sua inseparável vaca entravam no salão de conferências, após ingressar no hotel a bordo de um enorme furgão fechado.
A história do escritor e sua vaca, absolutamente verídica, e que já contei aqui, fez-me lembrar da reunião do FED - Federal Reserve, o banco central dos EUA, que na última quarta-feira avisou ao mundo que manteria os subsídios à economia americana e fez o dólar despencar no Brasil. Antes, havia anunciado que retiraria os mesmos subsídios e o dólar disparou, para gáudio e lucro dos especuladores. No mercado do dólar e da bolsa é assim, sempre tem uma vaca que de repente começa a mugir. Nesse caso, o melhor é não se desesperar e não tomar decisões enquanto a vaca estiver mugindo, pelo menos até que ela resolva invadir o salão.

Armando Avena
Publicado no jornal A Tarde e no BahiaEconômica

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