Veículo: O ESTADO DE SÃO PAULO
Caderno: ECONOMIA
Data: 14/06/2011
Caderno: ECONOMIA
Data: 14/06/2011
Bahia terá ferrovia e porto para minério
Início da construção da ferrovia foi autorizado pelo governo federal, mas falta definir o local do Porto Sul; obras causam controvérsias na região
Quando a Bahia Mineração (Bamin) apresentou seu projeto inicial para a exploração da mina de minério de ferro de Caetité, em 2008, ela previa a construção de um minerioduto de 524 quilômetros, na direção leste, e de um terminal portuário exclusivo para o escoamento da produção, no litoral sul do Estado.
O minerioduto, orçado em US$ 1,2 bilhão, faria com que os custos de transportes do minério fossem bastante reduzidos, mas teria de ser abastecido constantemente por água desviada do Rio São Francisco, a 150 quilômetros da mina, na direção oeste. Os mais de 650 quilômetros de tubulações de água correriam o risco, segundo a empresa, de sofrer desvios ilegais, principalmente de pequenos agricultores - em especial por o trajeto atravessar o semiárido baiano.
O governo do Estado, porém, detectou no projeto apresentado pela Bamin uma oportunidade de ajudar a viabilizar economicamente duas das principais obras previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), um projeto que havia sido apresentado pela primeira vez na década de 1950, e o Porto Sul. A proposta foi feita à Bamin - e aceita rapidamente.
As duas obras, porém, causam grande controvérsia nas regiões onde serão instaladas. ONGs ligadas à defesa ambiental, órgãos e associações de fomento do turismo no litoral sul da Bahia e produtores rurais que terão terras desapropriadas para as obras contestam a necessidade e a viabilidade das obras. De acordo com eles, a ampliação do Porto de Ilhéus, a cerca de 50 quilômetros de onde o Porto Sul deve ser instalado, seria suficiente.
O início da construção da ferrovia, de 1,1 mil quilômetros e orçada em R$ 4,2 bilhões apenas no trecho baiano - a via segue até Tocantins -, já foi autorizado pelo governo federal, mas as obras foram atrasadas pela indefinição na localização do Porto Sul.
A obra portuária, orçada em R$ 14,1 bilhões, incluirá, além do terminal ferroviário da Fiol, um porto offshore, o retroporto, uma rodovia e um aeroporto internacional, além do terminal privativo da Bamin. Seu ponto de instalação foi alterado pelo governo em cinco quilômetros, em abril, após recomendação do Ibama, que viu riscos à Mata Atlântica e a formações de arrecifes de corais no plano original. Apesar da alteração, o projeto ainda está em fase de estudo.
Para o secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia, o chamado complexo intermodal de transportes tem potencial para mudar o paradigma de escoamento da produção de toda a região. "Ter uma infraestrutura de logística desse porte vai atrair investimentos em diversas áreas e transformar toda a região", acredita.
"Muitos dos principais empreendimentos ligados à mineração, tanto na Bahia quanto no norte de Minas, serão beneficiados pelo complexo. Temos a expectativa de transportar, em dez anos, 100 milhões de toneladas de minérios pela ferrovia."
Segundo os ambientalistas, a mudança na localização do porto mostra que os argumentos apresentados são válidos - e é preciso dar mais atenção à Fiol. "É preciso iniciar mais estudos, incluindo minuciosa avaliação do impacto que a operação ferroviária na região, principalmente com o transporte de minério de ferro, causará à Mata Atlântica", ressalta o coordenador executivo do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá), Renato Cunha.
O vice-presidente executivo da Bamin, Clóvis Torres, afirma que o transporte de minério de ferro não terá impacto na natureza, por causa da tecnologia que praticamente elimina a dispersão de pó de minério. "Vamos utilizar aglutinantes para o transporte, porque essa dispersão significa perda de dinheiro na operação", garante.
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