quarta-feira, 29 de junho de 2011

Happyend na Paralela

Paulo Ormindo de Azevedo Arquiteto, professor titular da Utba
ormindo@terra.com.br

Mais que analisar a solução apon­tada para a ligação Acesso Nor­te-Lauro de Freitas, quero aqui analisar o processo. A primeira lição episódio é que Salvador já não é a mesma de 2007, quando a Câmara de Vereadores aprovou na calada da noite o PDDU vigente. Apesar de não ter havido audiências pu­blicas, foi intensa a mobilização da socie­dade em torno da escolha do sistema de transporte na RMS, através de jornais, blogs, rádios e reuniões promovidas por instituicões como o Crea-BA ou convocadas por veradores e deputados estaduais. Esta acão cidadã foi decisiva na definição do modal de mobilidade.

Aquilo que parecia impossível, \vencer o poderoso consórcio do BRT, acabou acon­tecendo. Recorde-se que o projeto do Setps, iniciado em 2003, foi um dos vinte ofe­recidos por investidores privados e encam­pados pela prefeitura no pacote Salvador Capital Mundial. O Setps e a construtora consorciada realizaram o levantamento to­pográfico da rota e financiaram os estudos preliminares da TTC-Engenharia de Trafego e Transportes na certeza de ganhar a con­cessão e impor o BRT como paradigma para a RMS. Para isso publicaram revistas. trou­xeram jornalistas, promoveram viagens e investiram em um lobby milionário.

Não se pode ignorar o papel que tiveram movimentos populares como "Salvador so­bre Trilhos", "Eu quero VLT em Salvador", "A Cidade Também é Nossa" e "Associacão de Ferroviários". Esta foi uma grande vitória desses movimentos, já que a elite manteve o tradicional silêncio obsequioso, mas haverá de gritar quando não puder mais sair da garagem. O povo não está interessado em eventuais jogos a que não poderá assistir. Ele quer é passar menos tempo dentro de um õnibus com chassi de caminhão superlotado, com curral e torniquete kafkiano. Sua pa­ciência já se esgotou e os protestos, blo­queios de avenidas e estações ameaçam re­petir o "quebra bonde" de 1930.

Mas não se pode deixar de reconhecer o papel desempenhado por Zezéu Ribeiro. Po­lítico hábil, ele tem sabido utilizar estes movimentos para contrabalançar a pressão de poderosos lobbies, como Já havia de­monstrado ao mudar a localização do Porto Sul, que ameaçava destruir uma das mais sensíveis APAs do Estado. No caso presente, além da fazer ecoar as manifestações con­tra o péssimo sistema de "buzus", explorou as contradicões do capitalismo, ao abnr o PMI a outros grupos e exibir suas propostas no site da Seplan. Isto destruiria o mito do BTR como única solução possível.

Zezéu pegou o bonde andando e tenta dar tecnicidade a uma secretaria desaparelhada. Mas uma andorinha só não faz verão. E preciso se criar um processo  institucional de gestão planejada e participativa. O atro­pelo dessa escolha demonstra que não ha­via no governo nenhum pensamento sobre a RMS e transporte de massa. Não se sabe como descongestionar a capital, nem como infraestruturar a RMS.
Precisamos restaurar a função do planejamento, reduzido pelos políticos a um instrumento,a pos­teriori, de legitimar decisoes autoritárias. Este não é o caso em pauta. De que vale fazer audiências públicas e atualizar pes­quisa de origem e destino a esta altura?

A decisão adotada foi acertada, dlstiguin­do vias "troncais", de transporte de massa sobre trilhos, e vias transversais capilares, operadas por BRT e ônibus comuns, No meu entender, o monotrilho está descartado. Seu impacto visual e difícil acessibilidade a uma plataforma de 35 metros de altura o des­qualifica. O metrô de superficie com peque­nos mergulhos nos cruzamento é  perfei­tamente viável no prazo estabelecido e aten­de à exigência da presidente de conclusão do metrô. Ele elimina desapropiações e os 27 viadutos da consorciada do BRT. Os carros do metrô já estão aqui. A grande questão é quem administrará este sistema misto, mas para isto temos tempo.

Em resumo, o episódio da escolha do modal da ligação Acesso Norte-Lauro de Freitas mostrou a força dos movimentos populares e que o planejamento da RMS e da Bahia não pode ficar a mercê da eventual titularidade da Seplan por um tecnico. com­petente e íntegro. Deve ser uma politica de Estado com quadros idôneos. dispostos. a ouvir a comunidade, que devena ser o principal objetivo da política.
Publicado no jornal A Tarde 

Um comentário:

A.S.C. disse...

Fico otimista pela postura do jornal - A Tarde -.
Essa é a Salvador que queremos.
Busca-se os interesses coletivos e o desenvolvimento.
É a participação cidadã em ação e a concepção de novas posturas em prol da cidade.
Espero que Salvador continue nesse processo.
Neste momento registro as minha felicitações à Salvador