quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sorrir faz bem...




Por Elieser Cesar



Na Ribeira, a passageira acena para o ônibus parar. O veículo para no ponto. A mulher faz sinal para o mo­torista abrir a porta dianteira. Porta aberta, ela pergunta, ansiosa:
- Passa, agora, na Federação?
O motorista a encara com um sor­riso irônico e responde:
- Agora, não, mas, se a senhora ti­ver paciência e ficar, aí, sentadinha, daqui a uns trinta minutos, o carro passa na Federação.



Um passageiro sentado num dos bancos da frente cai na gargalhada.
Em São Joaquim é a vez de um ra­paz pegar o buzu e perguntar para o cobrador:
- E aí, cobra, vai direto pro Campo Grande?

O cobrador não tinha gostado daquele negócio de "e aí, cobra ... ", e responde com um sentimento de quem se vinga:

- Direto não vai não, porque se for direto bate. Vai fazer algumas curvas até chegar ao Campo Grande.

O rapaz, que não tinha a ingenuidade da mulher, sentiu a chacota, chamou o cobrador de "engraçadinho", pa­gou a passagem e foi sentar-se num dos bancos traseiros, com o sem­blante fechado.

No Comércio, uma estudante aproveitou a porta dianteira aberta e indagou ao motorista:

- Vai pro Campo Santo?
Com o mesmo risinho sardônico, o motorista informou:
- Pro Campo Santo quem vai é de­funto, mas o carro passa defronte ao cemitério.



No meio do veículo uma mulher gorda, que tomava um banco e meio, escancarava sua vida, ao prati­camente gritar no telefone celular.

- Você é um descarado, Tavinho. Quando eu chegar em casa, você vai ver só. Gasta de cachaça o dinheiro do gás ...

Pelo viva voz, os passageiros mais próximos podiam escutar o inter­locutor da mulher:

- Que cachaça que nada, Gilsa. Pre­cisei do dinheiro para pagar uma dívida ..
- De jogo, misera. Aposta no dominó e quer pagar com o dinheiro das despesas de casa ... Pode isso?

Um passageiro se antecipa e respon­de, se divertindo com a situação:
-Tem não.
Outro emenda:
- Descarado.
Uma passageira repete a letra de uma música brega:

- Manda esse homem embora. Mete
o pé na bunda dele ...

Muitos passageiros caem na risada. Gilda, esquece o celular e se volta para todos:

- Se metam na vida de vocês, reba­nho de urubu ...
Gargalha geral. Do fundo alguém arrelia:
- Calma, minha tia. E, agora, vai co­zinhar aonde?

Gilsa responde, na bucha:
- Na casa de sua mãe.

- É braba! - Pirraça outro passageiro.
Novas gargalhadas. Gilda retoma a conversa ao celular:

- Tavinho, a gente continua em casa. Tem um monte de retardados atra­palhando, aqui, no ônibus.
Depois, desliga o telefone e prosse­gue a viagem com a cara amarrada.

Tristes e cansados, após o dia de tra­balho, os passageiros aturam ainda toda a sorte de vendedores, das deli­ciosas balinhas de gengibre ao amen­doim Mendorato, sem contar o ser­mão dos rapazes da casa Manassés, abençoados, eu vivi no submundo das drogas ...

E, sacolejante, o buzu - como o ex­presso da vida - prossegue viagem, levando na bagagem um mundo de dores, desilusões, carências e espe­ranças.

Fonte:Salvador em Movimento

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