segunda-feira, 20 de junho de 2011

 Há dinheiro. Mas não para o Pelourinho José Queiróz
Publicado no Jornalbahiaonline


A forma equivocada e desequilibrada - ou má intencionada - de administrar o turismo no Brasil, tem gerado distorções que precisam ser corrigidas imediatamente, sob pena desse país desperdiçar o potencial, o talento e a competitividade! Turismo é a mais nova fonte de dinheiro fácil do capitalismo mundial para empresas e governantes que, além de não conhecerem devidamente a atividade, o que os coloca a mercê de empreendedores gananciosos, se aproveitam da desregulamentação irresponsável e catastrófica do neoliberalismo para explorar atrativos como o Pelourinho, cidades como Salvador, e outras que dependem do turismo. Além de milhões de pessoas.

Não há uma indústria turística no Brasil!

Há um negócio das operadoras que vendem viagens através dos milhares de postos de vendas, que são as agências que estão nas esquinas, nos shoppings, nas faculdades e nas empresas, com a participação ativíssima do governo, contrariando completamente o objetivo do neoliberalismo, que é o governo longe dos negócios e o mercado livre para funcionar. O mercado não está livre, o governo não organizou nem instituiu a representação política do turismo interno na maioria dos municípios turísticos, como Salvador e Rio, não regulamentou a profissão de turismólogo - que estuda, paga, gera impostos, mas não existe - e não aprova instituições de classe que administrariam o turismo com conhecimento e profissionalismo. E ainda assumiu a responsabilidade pela promoção, incentivo e fiscalização do turismo na Constituição de 1988, mas só cuida das operadoras.

E é muito dinheiro! Muito dinheiro que está sendo manipulado apenas pelas operadoras, companhias aéreas, grandes hotéis, agora os cruzeiros, e pelo governo. As cifras estratosféricas, encantadoras – humilhantes para o turismo interno! - e que eles usam para dizer que o turismo está uma maravilha, são só deles. Os milhões de brasileiros que trabalham nas centenas de localidades turísticas desse país vivem na informalidade, que eles mascaram com cursos de capacitação de leigos, para pagar pouco, e que está complicando mais o turismo, pois estas pessoas não têm condições culturais e técnicas para atender o nível de pessoas que costumam viajar. Confundem propositalmente desregulamentação com desorganização e desunião, dificultando a formação de instituições, a profissionalização e o desenvolvimento do turismo interno.

Nesse momento a Bahiatursa está na França, num giro por cinco cidades, Lyon, Marseille, Nantes, Toulose e Paris, em parceria com a Embratur e com as operadoras Héliades e Latitude 30º, que não são agências de receptivo e irão terceirizar o atendimento aqui. A operação consiste em divulgar o vôo charter XL Airwais, Paris/Salvador/Paris, de outubro/2011 a maio/2012.

Maravilha!

Mas essas parcerias não envolvem diretamente o turismo receptivo, nem o remuneram dignamente, apesar de ser ele que tem o conhecimento que o cliente compra. E pior, toda essa operação e gasto têm um destino, Salvador, e um atrativo conhecido mundialmente que facilita a captação de clientes, o Pelourinho, que não vem recebendo cuidados, e o governo e as operadoras estão direcionando a maioria destes clientes para o Litoral Norte. Será de propósito que o Pelourinho está abandonado?

O negócio das operadoras, resorts e cruzeiros é bilionário!

Há poucos dias uma operadora se queixava de que só havia faturado R$ 32 milhões no ano passado, cem mil reais por dia, POR DIA!

Os investimentos em resorts se sucedem nesse país, nos lugares mais inusitados e contra os interesses das cidades turísticas, e mesmo dos turistas, que viajam por símbolos concretos e abstratos consagrados, famosos, seculares e até milenares, mas estão sendo privados pela má exploração do turismo. O turismo no Brasil não tem um conselho federal, vive atrelado à Administração, a formação de profissionais está cada vez pior porque a fragmentaram completamente, formando separadamente para turismo, hotelaria, eventos, gastronomia, publicidade, etc, mas ninguém sabe, ou não quer saber, como conectar isto com os interesses do cliente e os da sociedade. E isto acontece por culpa da própria academia do turismo do Brasil, que é dominada por uma minoria que formula políticas através da FGV.
Nada contra os resorts que estão ajudando alguns lugares, mas que não seja à custa de outros!

Está em andamento há três anos a construção de um mega empreendimento em Baixios, Praia de Inhambupe, Litoral Norte, que vai custar R$ 215 milhões, e seguramente terá participação do Ministério do Turismo e da Secretaria de Turismo da Bahia. Em maio foi anunciada uma Missão de Identificação do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento – para a inclusão do estado no Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), e investimentos de U$ 86 milhões de dólares na Baía de Todos os Santos. É sempre assim, milhões, milhões e milhões, do Brasil, da Bahia, da UNESCO, do BIRD, do BID, do BNDES, pagos pelo contribuinte, para viagens de promoção, para feiras e workshops, para a publicidade, para todo tipo de investimentos e financiamentos, mas nada para o Pelourinho!

No último dia 14, foi aprovado por maioria folgada na Assembléia Legislativa, o Projeto de Lei 19.177/11, que autoriza o Governo a contratar operação de crédito junto ao BID de U$ 50,82 milhões, CERCA DE 80 MILHÕES DE REAIS. Segundo o deputado estadual Cacá Leão, relator do parecer favorável, será para consolidar a Bahia como um dos principais destinos turísticos do Brasil, e ainda segundo ele “muitos avanços foram obtidos na infra-estrutura com o Prodetur II, que se encerrou há um ano, mas ainda há carências, principalmente de mão de obra”.

Essa mão de obra tem sido um dos maiores ralos de dinheiro público do Brasil, exatamente por causa dessa resistência da academia e do governo em profissionalizar os turismólogos, criar o Conselho que uniria guias de turismo e turismólogos, e credenciar ou atualizar os guias que já tem prática e experiência para atender os turistas. R$ 440 milhões serão gastos com capacitação de camareiras, mensageiros, garçons, taxistas, atendentes, recepcionistas sem formação superior, e guias com meses de formação. O Brasil precisa de profissionais para atender bem ao turista sempre, e não apenas na Copa ou na Olimpíada. Aliás, a indústria dos estudos, projetos e cursos para o turismo e outras atividades no Brasil, já é caso para discussão. O dinheiro para os eventos ficou todo com o governo e com as operadoras, que nem sequer consultaram o receptivo!

O Pelourinho precisa de uma parte desses R$ 80 milhões! O povo, as empresas que pagam impostos, e as instituições envolvidas com o Pelourinho precisam saber o que será feito com esse dinheiro, afinal, será pago por eles. E porque o Pelourinho é o atrativo que atrai turistas e dinheiro, sustenta a cadeia do turismo e parte da economia do município, e tem sido apenas explorado. Há leis que o protegem, mais que estão sendo acintosamente violadas, inclusive o Código Mundial de Ética.

O Brasil precisa da reforma política, partidária e eleitoral para crescer! O país, o povo e as riquezas estão inteiramente à mercê de partidos que são extensões das empresas. O país não evolui socialmente porque o político não permite. Não é fatalidade, crise, nem Deus que quer assim, é o político! O Pelourinho, pela importância histórica, cultural, turística, econômica e social, precisa ter governo independente, ou um representante através do voto distrital, ou de uma Secretaria de Turismo com um ocupante técnico, competente e sério.

O autor é guia e estudioso do turismo interno do Brasil, assessor de imprensa da ACOPELÔ

Pelourinho, na Bahia
Crédito: Ascom

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