terça-feira, 14 de junho de 2011

Bahia vira novo polo de mineração do País

Os investimentos em novas minas já anunciados no Estado chegam a R$ 10 bilhões nos próximos três anos, mas podem alcançar o dobro
Ferro, níquel, ouro, bauxita, até o raríssimo tálio, hoje explorado comercialmente em apenas dois pontos do mundo (China e Casaquistão), entre outros 30 minerais, fazem da Bahia o local mais procurado do País pelas mineradoras. Os investimentos já assegurados em novas minas para os próximos três anos chegam a R$ 10 bilhões, mas podem alcançar o dobro, com a conclusão de estudos de viabilidade que estão sendo realizados.
Nos últimos quatro anos (2007-2010), o número de requerimentos de área para pesquisa mineral no Estado, feitos ao Departamento Nacional de Produção Minera l(DNPM),chegaram a 14,5 mil, desbancando Minas Gerais, com 13,2 mil. No mesmo período, a produção mineral comercializada pela Bahia dobrou, passando de R$ 850 milhões para R$1,7 bilhão por ano.
"É o melhor momento da história da mineração do Estado", diz o diretor técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Rafael Avena Neto, há 36 anos na estatal. "Temos o maior potencial em termos de novas minas no País."
Uma conjunção favorável de fatores levou a Bahia ao forte desenvolvimento da atividade de mineração. A alta dos preços das commodities, impulsionada pela demanda da China, fizeram com que reservas conhecidas, mas antes desprezadas por conter concentrações menores de minérios, voltassem a ser comercialmente atrativas.
O esforço do Estado para mapear geologicamente seu solo também contribui. "Temos praticamente toda a Bahia já mapeada, por meio de estudos aerogeofísicos", afirma o secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração, James Correia. A CBPM gasta R$ 6 milhões por ano para estudar potenciais reservas minerais.
Os investimentos previstos fazem a Bahia, que ocupa a quinta colocação no ranking da produção mineral do País, almejar o terceiro lugar, atrás de Minas Gerais e do Pará. "Temos a ideia de chegar a essa posição em, no máximo, dez anos", diz Correia. "No cenário nacional, a grande novidade na mineração é a Bahia."
Investimentos.

A Bahia Mineração (Bamin), responsável pelo maior investimento individual já confirmado no Estado (US$ 2,3 bilhões nos próximos três anos), prepara-se para extrair minério de ferro da região conhecida como Pedra de Ferro, do município de Caetité, a 757 quilômetros de Salvador.
O potencial da área já é conhecido há anos, mas o reduzido teor de minério não justificava o investimento. A região ficou esquecida até que o geólogo baiano João Carlos Cavalcanti fez novos estudos na área em 2004. Com uma cotação do minério mais atrativa, suas análises chamaram a atenção das empresas.
Em 2008, a mina foi assumida pela Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC), empresa com sede em Londres e origem no Cazaquistão, controladora da Bamin. As primeiras análises apontaram um potencial produtivo de 398 milhões de toneladas de minério de ferro, mas já há indícios de que pode ser 50% maior. A estimativa inicial do Projeto Pedra de Ferro é produzir 19,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.
As obras civis da mina, porém, ainda não começaram. Segundo o vice-presidente executivo da Bamin, Clóvis Torres, só serão iniciadas depois que começar a construção do controverso Porto Sul, nos arredores de Ilhéus. "A garantia de escoamento da produção é fundamental", diz. A previsão é que o início das operações ocorra em 2014.
Se o maior investimento em mineração no Estado ainda está na fase de projeto, o segundo maior, de US$800 milhões, feito pela Mirabela Mineração do Brasil, subsidiária do grupo australiano Mirabela Nickel, já está em funcionamento.
A empresa opera, desde 2009, em Itagibá, a 370 quilômetros da capital, a Mina Santa Rita, a segunda maior de níquel a céu aberto do mundo. A Mirabela anunciou recentemente que as reservas são maiores do que as estimadas, devendo chegar a 159 milhões de toneladas (570 mil toneladas de níquel contido).
A descoberta aumentou a vida útil da mina em quatro anos, de 19 para 23. Toda a produção até 2014 já está vendida, metade para o mercado nacional(Votorantim Metais), metade para a finlandesa Norislk Nickel.
Por processo semelhante de arrendamento, a canadense Yamana Gold vai explorar sua primeira mina de ouro a céu aberto no Estado, no município de Santa Luz, no centro-norte baiano. A empresa já opera duas minas em Jacobina e Barrocas, na mesma região.
A construção da mina, que tem previsão de produção de 100 mil onças anuais de ouro, começou em 2009 e a exploração deve ser iniciada no ano que vem. O investimento é estimado em US$ 70 milhões.
Até minerais raros são encontrados em terras baianas

Há minas de vanádio e de tálio, utilizado na alta tecnologia. Extração preocupa porque mineral é muito tóxico
A Largo Mineração, subsidiária brasileira da canadense Largo Resources, prepara-se para começar a extrair vanádio de uma mina em Maracás, cidade da região central da Bahia, a 376 quilômetros de Salvador .O início das operações está previsto para o fim do ano que vem, após investimentos de US$ 200 milhões.
O vanádio da mina de Maracás, além de passar a ser o único explorado no País, é considerado o de maior teor no mundo, com 1,44% de concentração- minas da África do Sul, que têm a maior concentração de vanádio hoje, registram índice de 0,44%. O metal é usado para aumentar a resistência e diminuir o peso do aço. Espera-se que, por ano, a produção da mina baiana seja de 5 mil toneladas anuais.
Há quase três décadas sabe-se da existência do minério em Maracás. A Odebrecht chegou a iniciar o projeto em 1986, mas a falta de um marco regulatório e o temor de contaminação ambiental levaram a uma ação pública contra o empreendimento. Mais de15 anos depois, a empresa venceu a ação, mas a baixa cotação do mineral naquele momento não justificava o investimento. O projeto foi abandonado e retomado apenas no ano passado, já pela Largo Mineração.

Tálio.

A paulista Itaoeste Serviços e Participações, do ex-rei da soja Olacyr de Moraes, anunciou em fevereiro a descoberta de uma jazida de tálio em Barreiras, no oeste baiano. O mineral raro, explorado em apenas dois países, China e Cazaquistão, tem sua aplicação focada em instrumentos de alta tecnologia, como medicina nuclear, supercondutores de alta temperatura e em materiais termoelétricos.
O preço médio do grama do mineral foi de US$ 6 em 2010. Segundo a Itaoeste, análises preliminares apontam que a jazida teria 60 toneladas de tálio-montante suficiente para abastecer o mercado global por seis anos.
Se a descoberta animou investidores , causou apreensão entre os agricultores. Insípido, inodoro e altamente tóxico - a ingestão de um grama é capaz de levar o ser humano à morte -, o metal poderia contaminar o solo de toda a região sem ser notado.
"Se a extração de vanádio é uma operação complexa, a do tálio é mais ainda",admite o secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia. "Existe a necessidade de se estudar a melhor forma para a mineração, que é nova para o país.
Bahia terá ferrovia e porto para minério

Início da construção da ferrovia foi autorizado pelo governo federal, mas falta definir o local do Porto Sul; obras causam controvérsias na região
Quando a Bahia Mineração (Bamin)apresentou seu projeto inicial para a exploração da mina de minério de ferro de Caetité, em 2008, ela previa a construção de um minerioduto de 524 quilômetros, na direção leste, e de um terminal portuário exclusivo para o escoamento da produção, no litoral sul do Estado.
O minerioduto, orçado em US$ 1,2 bilhão, faria com que os custos de transportes do minério fossem bastante reduzidos, mast eria de ser abastecido constantemente por água desviada do Rio São Francisco ,a 150 quilômetros da mina, na direção oeste. Os mais de 650 quilômetros de tubulações de água correriam o risco, segundo a empresa, de sofrer desvios ilegais, principalmente de pequenos agricultores - em especial por o trajeto atravessar o semiárido baiano.
O governo do Estado, porém, detectou no projeto apresentado pela Bamin uma oportunidade de ajudar a viabilizar economicamente duas das principais obras previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), um projeto que havia sido apresentado pela primeira vez na década de 1950, e o Porto Sul. A proposta foi feita à Bamin - e aceita rapidamente.
As duas obras, porém, causam grande controvérsia nas regiões onde serão instaladas. ONGs ligadas à defesa ambiental, órgãos e associações de fomento do turismo no litoral sul da Bahia e produtores rurais que terão terras desapropriadas para as obras contestam a necessidade e a viabilidade das obras. De acordo com eles, a ampliação do Porto de Ilhéus, a cerca de 50 quilômetros de onde o Porto Sul deve ser instalado, seria suficiente.
O início da construção da ferrovia, de1,1mil quilômetros e orçada em R$ 4,2 bilhões apenas no trecho baiano - a via segue até Tocantins-, já foi autorizado pelo governo federal, mas as obras foram atrasadas pela indefinição na localização do Porto Sul.
A obra portuária, orçada em R$ 14,1 bilhões, incluirá, além do terminal ferroviário da Fiol, um porto offshore, o retroporto, uma rodovia e um aeroporto internacional, além do terminal privativo da Bamin. Seu ponto de instalação foi alterado pelo governo em cinco quilômetros, em abril, após recomendação do Ibama, que viu riscos à Mata Atlântica e a formações de arrecifes de corais no plano original. Apesar da alteração, o projeto ainda está em fase de estudo.
Para o secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia, o chamado complexo intermodal de transportes tem potencial para mudar o paradigma de escoamento da produção de toda a região. "Ter uma infraestrutura de logística desse porte vai atrair investimentos em diversas áreas e transformar toda a região", acredita.
"Muitos dos principais empreendimentos ligados à mineração, tanto na Bahia quanto no norte de Minas, serão beneficiados pelo complexo. Temos a expectativa de transportar, em dez anos, 100 milhões de toneladas de minérios pela ferrovia."
Segundo os ambientalistas, a mudança na localização do porto mostra que os argumentos apresentados são válidos - e é preciso dar mais atenção à Fiol. "É preciso iniciar mais estudos, incluindo minuciosa avaliação do impacto que a operação ferroviária na região, principalmente com o transporte de minério de ferro, causará à Mata Atlântica", ressalta o coordenador executivo do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá), Renato Cunha.
O vice-presidente executivo da Bamin, Clóvis Torres, afirma que o transporte de minério de ferro não terá impacto na natureza, por causa da tecnologia que praticamente elimina a dispersão de pó de minério. "Vamos utilizar aglutinantes para o transporte, por que essa dispersão significa perda de dinheiro na operação", garante.
Mineração gera empregos no semiárido

Segundo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), 100 dos 417 municípios do Estado têm, hoje, alguma atividade de mineração. Desses, 90% estão localizados na região conhecida como semiárido-área que atravessa longitudinalmente a Bahia entre a faixa litorânea e o vale do Rio São Francisco. "É uma dádiva que exatamente onde o solo é menos fértil haja espaço para a mineração", avalia o secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia.
Segundo Correia, a mineração é, hoje, o principal indutor de contratação de mão-de-obra no interior. Não por empregos diretos - a atividade registra em torno de 11 mil funcionários no Estado, com a expectativa de atrair mais 5 mil com os investimentos anunciados -, mas pelo impacto causado pela atividade.
"O caso da Mirabela, em Itagibá, por exemplo: a empresa tem 950 funcionários, 80% oriundos da Bahia, mas dezenas de prestadoras de serviços foram criadas com a contratação de mais 2 mil pessoas", diz Correia.
Empresas mineradoras pagam, entre os tributos, a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM),que tem 65% de seu valor repassado à cidade onde a mina está instalada.
Itagibá, município de 15 mil habitantes, em precária situação financeira desde o fim das lavouras de cacau, recebeu R$ 4,1 milhões apenas pelo CFEM - 16% da arrecadação total do município no ano passado, pouco menos de R$ 25 milhões.

Fonte: Estado de São Paulo

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