O Brasil está prestes
a dar os primeiros passos rumo ao desenvolvimento em grande escala da exploração
de gás natural em terra, com a 125 Rodada de licitação que a Agência Nacional do
Petróleo (ANP) faz esta semana. Serão licitados 240 blocos, em sete bacias
sedimentares. Apesar do pouco conhecimento geológico das regiões, o potencial de
gás natural convencional e não convencional (shalegas ou gás de folhelho) indica
a existência de grande volume de recursos, maior até que o do pré-sal, e que
pode levar o Brasil a ficar entre as seis maiores reservas do mundo.
Com base em estimativas preliminares da ANP, considerando fator de
recuperação médio de 70% das reservas, em cinco das sete bacias que terão blocos
ofertados no leilão, o volume a ser explorado pode chegar a 10,1 trilhões de
metros cúbicos de gás natural. Número que só ficaria abaixo de Rússia, Irã,
Qatar, Turcomenistão e Estados Unidos. O salto no ranking é gigantesco. O Brasil
tinha a 32a maior reserva provada de gás no mundo em 2012, com 434 bilhões de
metros cúbicos, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep).
POUCOS INTERESSADOS
E parte desse aumento dos recursos está ligado ao shale gas, hoje a principal
coqueluche nos Estados Unidos. Segundo a ANP, das sete bacias que serão
ofertadas, somente em três — Recôncavo, na Bahia, Sergipe, em Alagoas, e São
Francisco, em Minas Gerais — há chance de conter esse gás natural não
convencional.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), só o
gás não convencional no Brasil pode somar seis triIhões de metros cúbicos com
potencial de recuperação.
Mas, apesar de todo esse potencial, especialistas não esperam muita euforia
dos investidores no leilão. De um lado, há pouco conhecimento geológico das
bacias e, do outro, falta de infraestrutura para escoamento do gás. Os riscos
ambientais, com os cuidados para evitar a contaminação do lençol freático também
aparecem na lista de preocupações. No entanto, todos destacam a importância do
leilão como o primeiro passo para o desenvolvimento de uma gigante indústria de
exploração e produção de gás natural em terra, Magda Chambriard, diretora-geral
da ANP, em evento recente, afirmou que o Brasil está precisando
"desesperadamente" desse gás. Ela lembrou que o gás estimulará investimentos,
podendo ser usado pela indústria química e para fabricação de aço, alumínio e
fertilizantes:
— Não podemos deixar de ir atrás do gás em terra no Brasil. O volume pode ser
maior que o do pré-sal, pois a extensão é muito grande. Temos que separar um
pouco da atenção que estamos dando ao mar para a exploração e produção de gás em
terra.
FALTA POLÍTICA PARA 0 SETOR
Para a 125 Rodada, estão habilitadas para participarem do leilão, na próxima
quinta e sexta-feira, 21 empresas, das quais 11 são estrangeiras. O advogado
Leonardo Costa, do Tauil & Chequer Advogados, disse que, por ter áreas de
novas fronteiras sem infraestrutura para a exploração nem para o escoamento do
gás, o governo deveria ter oferecido algum tipo de incentivo:
— O interesse está menor do que a gente esperava. Vai exigir investimentos na
infraestrutura que poderão não fazer sentido econômico pela falta de sistemas
para escoar o gás.
Magda admite que o interesse no leilão será menor do que na 115 Rodada,
realizada em maio:
— Na li5 Rodada, havia oportunidades para todos os portes de empresas. Desses
118 contratos (assinados), 78 só tiveram um lance. (Em termos de arrecadação)
Vai ser bem menos, né? A gente não pode comparar essa rodada para terra, em
novas fronteiras, com a 115 rodada
Para o advogado Carlos Maurício Ribeiro, da Vieira Rezende Advogados, o
leilão marcará o início do desenvolvimento da exploração do gás em terra no
país:
— A atividade exploratória vai viabilizar o surgimento de uma infraestrutura
para o escoamento, feita pelo setor privado independentemente da Petrobras.
Pedro Dittrich, do Tozzini Freire Advogados, destacou que a falta de
infraestrutura para escoar o gás fez com que seis empresas de energia se
interessassem para o uso do gás em térmicas.
Edmar Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, ressalta
que o uso do gás é um desafio:
— Construir rede de gasodutos é complexo e liquefazer esse gás é muito caro.
Falta política de governo. Hoje não está claro qual é o futuro da indústria de
gás.
O presidente executivo da Abe-gás, Augusto Salomon, defende que o uso do gás
seja voltado para desenvolver a indústria:
— Os segmentos vidreiro, cerâmico e químico certamente demandarão muito mais
gás, e poderíamos expandir essas indústrias no lugar de gerar energia na boca do
poço.
Fonte: O Globo.
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