terça-feira, 26 de novembro de 2013

Reserva de gás põe Brasil entre os seis maiores produtores mundiais








Após leilão da ANP, previsto para essa semana, o Brasil pode sair do 32º lugar para ficar entre os primeiros países do ranking de detentores de reservas de gás natural

O Brasil está prestes a dar os primeiros passos rumo ao desenvolvimento em grande escala da exploração de gás natural em terra, com a 125 Rodada de licitação que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) faz esta semana. Serão licitados 240 blocos, em sete bacias sedimentares. Apesar do pouco conhecimento geológico das regiões, o potencial de gás natural convencional e não convencional (shalegas ou gás de folhelho) indica a existência de grande volume de recursos, maior até que o do pré-sal, e que pode levar o Brasil a ficar entre as seis maiores reservas do mundo. Com base em estimativas preliminares da ANP, considerando fator de recuperação médio de 70% das reservas, em cinco das sete bacias que terão blocos ofertados no leilão, o volume a ser explorado pode chegar a 10,1 trilhões de metros cúbicos de gás natural. Número que só ficaria abaixo de Rússia, Irã, Qatar, Turcomenistão e Estados Unidos. O salto no ranking é gigantesco. O Brasil tinha a 32a maior reserva provada de gás no mundo em 2012, com 434 bilhões de metros cúbicos, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
POUCOS INTERESSADOS
E parte desse aumento dos recursos está ligado ao shale gas, hoje a principal coqueluche nos Estados Unidos. Segundo a ANP, das sete bacias que serão ofertadas, somente em três — Recôncavo, na Bahia, Sergipe, em Alagoas, e São Francisco, em Minas Gerais — há chance de conter esse gás natural não convencional.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), só o gás não convencional no Brasil pode somar seis triIhões de metros cúbicos com potencial de recuperação.
Mas, apesar de todo esse potencial, especialistas não esperam muita euforia dos investidores no leilão. De um lado, há pouco conhecimento geológico das bacias e, do outro, falta de infraestrutura para escoamento do gás. Os riscos ambientais, com os cuidados para evitar a contaminação do lençol freático também aparecem na lista de preocupações. No entanto, todos destacam a importância do leilão como o primeiro passo para o desenvolvimento de uma gigante indústria de exploração e produção de gás natural em terra, Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, em evento recente, afirmou que o Brasil está precisando "desesperadamente" desse gás. Ela lembrou que o gás estimulará investimentos, podendo ser usado pela indústria química e para fabricação de aço, alumínio e fertilizantes:
— Não podemos deixar de ir atrás do gás em terra no Brasil. O volume pode ser maior que o do pré-sal, pois a extensão é muito grande. Temos que separar um pouco da atenção que estamos dando ao mar para a exploração e produção de gás em terra.
FALTA POLÍTICA PARA 0 SETOR
Para a 125 Rodada, estão habilitadas para participarem do leilão, na próxima quinta e sexta-feira, 21 empresas, das quais 11 são estrangeiras. O advogado Leonardo Costa, do Tauil & Chequer Advogados, disse que, por ter áreas de novas fronteiras sem infraestrutura para a exploração nem para o escoamento do gás, o governo deveria ter oferecido algum tipo de incentivo:
— O interesse está menor do que a gente esperava. Vai exigir investimentos na infraestrutura que poderão não fazer sentido econômico pela falta de sistemas para escoar o gás.
Magda admite que o interesse no leilão será menor do que na 115 Rodada, realizada em maio:
— Na li5 Rodada, havia oportunidades para todos os portes de empresas. Desses 118 contratos (assinados), 78 só tiveram um lance. (Em termos de arrecadação) Vai ser bem menos, né? A gente não pode comparar essa rodada para terra, em novas fronteiras, com a 115 rodada
Para o advogado Carlos Maurício Ribeiro, da Vieira Rezende Advogados, o leilão marcará o início do desenvolvimento da exploração do gás em terra no país:
— A atividade exploratória vai viabilizar o surgimento de uma infraestrutura para o escoamento, feita pelo setor privado independentemente da Petrobras.
Pedro Dittrich, do Tozzini Freire Advogados, destacou que a falta de infraestrutura para escoar o gás fez com que seis empresas de energia se interessassem para o uso do gás em térmicas.
Edmar Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, ressalta que o uso do gás é um desafio:
— Construir rede de gasodutos é complexo e liquefazer esse gás é muito caro. Falta política de governo. Hoje não está claro qual é o futuro da indústria de gás.
O presidente executivo da Abe-gás, Augusto Salomon, defende que o uso do gás seja voltado para desenvolver a indústria:
— Os segmentos vidreiro, cerâmico e químico certamente demandarão muito mais gás, e poderíamos expandir essas indústrias no lugar de gerar energia na boca do poço.
Fonte: O Globo.

Nenhum comentário: