Nova via servirá para quem sai da Avenida ACM com destino à Paralela. Os outros dois viadutos serão perto do Parque da Cidade
Alexandro Mota
alexandro.mota@redebahia.com.br
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O que esperar do trânsito de Salvador em 2016? Certamente, você não imagina que sairá da Lapa às 18h e chegará às 18h16 no Iguatemi, mas é isso que a prefeitura promete com a implantação de um Sistema Integrado de Transporte que inclui o primeiro BRT da capital e faixas exclusivas para ônibus.
O BRT (Bus Rapid Transit), que em tradução livre significa tráfego rápido de ônibus, trata-se de um sistema de vias exclusivas para ônibus, com paradas apenas em estações que contam com linhas alimentadoras.
Com previsão de que as obras comecem em abril de 2014, o BRT vai ligar a Estação da Lapa à Ligação Iguatemi-Paralela (LIP), passando pelas avenidas Vasco da Gama, Juracy Magalhães Jr. e ACM.
A intervenção, considerada uma das maiores da cidade, contará com investimento de R$ 800 milhões, sendo que R$ 300 milhões são do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade Urbana, do governo federal, e R$ 500 milhões serão tomados de empréstimo pela prefeitura junto à Caixa Econômica Federal (CEF).
“Se for preciso, podemos investir dinheiro do tesouro municipal para acelerar as obras”, afirmou ontem o prefeito ACM Neto, durante apresentação do projeto. Não haverá desapropriações no trecho do BRT.
Ônibus
O sistema vai utilizar coletivos articulados, com capacidade para pelo menos 160 passageiros e circulando em velocidade média de 40 km/h. Os ônibus serão operados por uma concessionária a ser definida durante o processo de licitação, que será aberto ainda este ano para operação das linhas já existentes na cidade.
Haverá linhas expressas (sem nenhuma parada entre a Lapa e o Iguatemi), linhas semiexpressas (com paradas em alguns pontos) e linhas que vão parar em todas as nove estações previstas para o sistema.
O secretário municipal de Urbanismo e Transporte, José Carlos Aleluia, acredita que o investimento em infraestrutura vai fazer com que o sistema renda mais. “Não adianta congelar as tarifas (até dezembro de 2014) sem outras medidas, senão as empresas serão enforcadas. Com as melhorias viárias, o sistema será mais competitivo (para a licitação do transporte em andamento) e isso é bom para a qualidade do serviço”.
Estrutura
Entre a Lapa e o Iguatemi serão nove estações de embarque e desembarque. A promessa é uma redução drástica no tempo de trajeto de 8,6 km entre a Lapa e a Ligação Iguatemi-Paralela (LIP), que será percorrido em 16 minutos. Já o trecho Pituba-Iguatemi será feito em 7 minutos.
Para garantir o tráfego contínuo dos ônibus articulados, novas vias serão construídas à esquerda das avenidas por onde passarão os BRTs, além de cinco elevados e três viadutos.
Um dos viadutos será construído em frente ao Shopping Iguatemi, servindo a quem sai da Avenida ACM com destino à Paralela. A via vai permitir a retirada de semáforos que hoje controlam o fluxo com os veículos que vêm do Acesso Norte.
Os outros dois viadutos serão perto do Parque da Cidade. Um deles levará os veículos que saírem da Avenida ACM à Avenida Juracy Magalhães, tornando desnecessário o retorno antes do Hiperposto. O terceiro viaduto ligará dois trechos da Avenida ACM, evitando que os motoristas tenham que retornar em frente à Ceasa para ir até a Pituba. Segundo o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, esse viaduto vai favorecer a 65% dos carros que trafegam na região.
“Buscamos soluções que pudessem ser complementares e, principalmente, que tivessem impacto em trechos de deslocamento da população que mais depende de transporte público e em uma área que concentra a maior parte do emprego da população”, disse ACM Neto.
No corredor do BRT, que contará com ciclovias, será permitido o acesso de veículos particulares, mas não haverá saídas no caminho. Só poderá utilizar a via quem quiser ir direto da Lapa ao Iguatemi.
Operações
Com uma série de medidas, que incluem a revitalização da Lapa e a licitação do sistema de ônibus, a prefeitura espera amenizar problemas listados pelo próprio Neto, que são enfrentados pela população em relação ao transporte público: linhas desorganizadas, congestionamentos e frota antiga.
O sistema de ônibus da cidade contará com um Centro de Operações e cada empresa que estiver operando as linhas terá seu próprio centro. A ideia é que esses espaços comecem a funcionar já em 2014. “A Central fará o monitoramento com câmeras em tempo real e o controle de semáforos inteligentes”, exemplifica Neto.
“Ele (o BRT) passa em uma área muito mais povoada que o metrô, terá uma quantidade muito maior de passageiros com um investimento menor”, compara Aleluia.
O secretário, entretanto, afirma que não haverá concorrência entre os dois modais, justificando que o BRT tem entre seus objetivos ser uma linha alimentadora do metrô.
A cidade de Bogotá, capital colombiana, foi uma inspiração para Salvador. Em outubro, esteve aqui o ex-prefeito da cidade, Enrique Peñalosa, responsável pela implantação do sistema de transporte que ficou conhecido como Transmilênio.
Na capital baiana, Peñalosa defendeu a implantação das vias exclusivas e a restrição do uso de carros particulares para melhoraria do transporte da população.
Tarifa
Resta saber é quanto os passageiros terão que pagar quando o sistema estiver em pleno funcionamento. A prefeitura ainda não tem uma resposta, mas, no edital de licitação dos ônibus, determina que a tarifa ficará congelada até dezembro de 2014.
O BRT terá, segundo o secretário Aleluia, o mesmo valor do ônibus comum e se integrará ao Bilhete Único que, de acordo com a prefeitura, estará ativo no dia 1º de dezembro deste ano.
Faixas
Enquanto as obras do BRT não começam, as faixas exclusivas de ônibus, à direita de avenidas como a ACM e a Juracy Magalhães Jr., vão ganhar fiscalização. O monitoramento será feito inclusive com câmeras. Quem for flagrado descumprindo a norma, vai pagar multa de R$ 52,31.
A pintura das faixas já começou, inclusive em vias que foram recapeadas recentemente. Haverá, por exemplo, faixa exclusiva na orla, ligando a Pituba ao aeroporto, através de 27 quilômetros.
Outra faixa vai cruzar a Avenida Paralela, saindo do Iguatemi até o aeroporto (13,7 km). A prefeitura ainda estuda implantar uma faixa exclusiva entre o Terminal da França, no Comércio, e o Iguatemi.
Motoristas têm permissão para acessar a faixa exclusiva quando estiverem perto de realizar conversões ou entrar em prédios residenciais ou comerciais.
Traçado do BRT divide opiniões de especialistas
Para o especialista em trânsito e transporte Elmo Felzemburg, o projeto do BRT é bem pensado, principalmente porque o traçado difere da linha do metrô. “Estão em corredores diferentes e se encontram apenas em dois pontos. Ou seja, se complementam”, avaliou o professor da Ufba.
Entretanto, Felzemburg fez um alerta: “É preciso atentar para que o BRT não tenha o mesmo destino do metrô. É necessário que os projetos sejam bem operados e não degradados”, pontuou.
Por sua vez, a também professora da Ufba Ilce Marília Dantas Pinto, doutora em engenharia de transportes, acha que haverá concorrência entre BRT e metrô, que, quando, enfim, estiver pronto, também vai ligar a Lapa ao Iguatemi, mas passando pela Avenida Bonocô.
“A demanda entre o Iguatemi e Lauro de Freitas será atendida pelo metrô, mas a demanda Lapa-Iguatemi vai preferir o BRT, por ter, provavelmente, a tarifa menor”, disse. “Se existisse um acordo entre os governos para uma tarifa única a prefeitura procuraria atender outros lugares com problemas de mobilidade”, opinou.
Prefeitura finaliza projeto de concessão da Estação da Lapa
O prefeito ACM Neto afirmou, ontem, que o projeto de lei que permitirá a concessão da Estação da Lapa está em fase de conclusão. “Ainda este ano, se possível ainda em novembro, enviaremos um projeto de lei à Câmara para a concessão da Lapa”, disse.
A empresa que vencer o processo de licitação vai explorar comercialmente o espaço e em contrapartida será responsável pela manutenção e pelo ordenamento da estação de transbordo, com fiscalização da prefeitura. Segundo o secretário de Urbanismo e Transporte, José Carlos Aleluia, vendedores ambulantes que hoje atuam na Lapa, possivelmente, terão que deixar o local.
“Haverá uma organização, até porque tem muita gente que trabalha de forma ilegal, o que não será permitido. Quem é cadastrado, mas deve à prefeitura, vai discutir com o novo concessionário que vai explorar o comércio e fará a manutenção do espaço como é comum em qualquer país do primeiro mundo”, disse Aleluia.
Enquanto o projeto de lei não chega à Camara Municipal, a Lapa já está passando por obras de revitalização, com custo de R$ 1,6 milhão. A expectativa com a concessão é que haja o aumento do número de lojas do local para tornar viável a exploração pela empresa vencedora.
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