quarta-feira, 24 de abril de 2013

UM PORTO PARA O BRASIL CENTRAL

Fonte:BahiaEconômica



No momento em que o país colhe os resultados de uma safra de mais de 180 milhões de toneladas de grãos, ficam expostas as imensas desigualdades regionais e a existência de uma disputa no tema infraestrutura, historicamente compreendida como um dos mais fortes instrumentos propulsores do desenvolvimento econômico e social.

Esse movimento de concentração dos recursos pôde ser percebido na elaboração do plano de concessões ferroviárias, que direcionou para Campos (RJ), o ponto final da Ferrovia de Integração do Centro Oeste–FICO. A FICO se aproximará do porto de Açu, pertencente ao “Grupo X”, cujo projeto de implantação é hoje motivo de destaque na mídia. Assim, no sentido exportação, toda a carga de minério e grãos originária do Centro-Oeste poderá ser movimentada pelo Estado do Rio de Janeiro ou, como segunda opção, pelos portos de Itaqui(MA), ou Vila do Conde(PA). Estas duas últimas alternativas incorrerão em aumento do custo logístico, em função da maior distancia percorrida.

Uma vez efetivada, as implicações dessa decisão política produzirão desastroso efeito para a Bahia e Nordeste, na medida em que essas cargas poderiam representar um extraordinário incremento na economia desta região. Para isto bastaria que a conexão da Ferrovia Norte-Sul com a Ferrovia de Integração Oeste Leste - FIOL deixasse de ser no município de Figueirópolis (TO) e passasse a se dar em Campinorte (GO). Como vantagem, esta solução implicaria ainda em redução da distância de transportes da região produtora ao porto de escoamento em cerca de 300 km.

A concretizar-se a situação hoje posta, o adequado planejamento do sistema logístico brasileiro estará comprometido, pois reforçará a solução Sul/Sudeste, onde a concentração das infraestruturas já concorre para congestionamentos relacionados à exportação, gerando atrasos no embarque/desembarque de produtos e o consequente aumento do frete e do pagamento de sobreestadia. O setor portuário da Bahia também restará prejudicado, pois o traçado estabelecido renderá a formação de um cordão de isolamento entre os portos baianos e o interior do país.

A solução ferroviária ligando o Brasil Central a um porto no estado da Bahia vem sendo há muito estudada. Há 50 anos o engenheiro Vasco Neto preconizou a necessidade da construção da Ferrovia Transulamericana, cujo traçado cortava o continente no sentido Oeste Leste. Além de uma eficiente solução logística, tal proposição permitiria uma maior integração da América do Sul, facilitando as relações políticas e de comércio entre países vizinhos.

O trecho brasileiro da Ferrovia Transulamericana poderá ser materializado na ligação FICO-FIOL em Campinorte. Este trecho ferroviário poderá escoar grande parte das cargas do centro-oeste brasileiro até Ilhéus(BA), onde o Porto Sul - um porto moderno e de alta capacidade, estará apto a atender à demanda. Esta alternativa logística de menor percurso tende a ser mais atrativa em custo e eficiência.  Somado ao Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos e ao Porto do Malhado, em Ilhéus, a conexão FICO-FIOL-Porto Sul permitirá um extraordinário incremento econômico e social na área de influência dessas infraestruturas, viabilizando a realização de novos empreendimentos.

Entendendo que a Bahia ocupa posição geográfica estratégica que lhe possibilita ser o caminho natural para a implantação da infraestrutura que incrementará o fluxo comercial e o intercâmbio entre as regiões centrais do País e o mundo, o Governo do Estado vem fazendo gestões para modificar o traçado ferroviário ora estabelecido, seja pela necessidade de melhor adequação logística e distribuição mais equilibrada da infraestrutura entre regiões do Brasil, seja pela relevância geopolítica de que o fato se reveste. Uma vez que o traçado da FIOL está sendo rediscutido, haja vista as questões ambientais existentes no traçado original, o Governo da Bahia propõe a ligação da FIOL com a FICO em Campinorte(GO). Trata-se de uma ação capaz de gerar transformações significativas, com resultados extremamente positivos para o estado e a região Nordeste.
 
Otto Alencar
Vice-Governador e Secretário de Infraestrutura do Estado da Bahia
Artigo publicado no jornal a Tarde em 24/04/2013

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