Sal é o vilão mas quem está sendo acusado de prejudicar saúde é o iodo
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Naira Sodré - Publicação: Tribuna da Bahia
Quem é o vilão?
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia pondera e diz que o ideal seria estimular o brasileiro a consumir menos sal, e não obrigar a redução do iodo, já que a deficiência do nutriente pode provocar doenças sérias. “A gente se preocupa com a possibilidade de se ter uma suplementação insuficiente. Ao se reduzir os iodos, podem estar predispondo a população a doenças até mais graves”, afirma a médica endocrinologista Maria de Fátima Ferreira Azevedo.
A polêmica está formada: De um lado, médicos endocrinologistas e nutricionistas se colocam contra a diminuição; do outro lado está a Agência Nacional de Vigilância Sanitária que mantém a decisão de diminuir a quantidade de iodo no sal de cozinha. Mas, para acalmar os ânimos, a própria Anvisa diz que a redução não é definitiva. “Se nós percebermos que com a redução dos níveis de consumo de sal da população esse nível de iodo estiver abaixo do preconizado, nós podemos rever toda essa política e alterar essa faixa. Não tem problema”, ressalta a gerente de alimentos da Anvisa, Denise Resende.
Segundo o Ministério da Saúde, o brasileiro consome em média 12 gramas de sal por dia - uma das maiores taxas do mundo. “Hoje, nós temos uma faixa de iodação de 35 miligramas de iodo por quilo de sal. Dá uma média de 400 microgramas por dia, enquanto que a Organização Mundial de Saúde recomenda que para o adulto, o ideal seria 130 microgramas por dia. Então, nós estamos ultrapassando o dobro do que nós deveríamos consumir de iodo por dia”, diz Denise Resende. Ela esclareceu ainda que o acordo com a indústria para a redução de sal nos alimentos vai até 2020.
Substitua o sal e previna doenças
No entanto, especialistas afirmam que o excesso de iodo no organismo dos brasileiros pode se dar por conta da alta ingestão de sal, e não pelos níveis de iodo contidos nele propriamente. Seguindo essa lógica, “o mais eficaz seria educar a população para que ela reduza o consumo de sal”, diz a endocrinologista Elba Santiago. Segundo ela, o consumo do sal é que é preocupante por ser o principal algoz da hipertensão. Dados do Ministério da Saúde apontam que a hipertensão atinge 22,7% do brasileiro em idade adulta e que a população come aproximadamente o dobro de sal do que deveria. Para ela, uma alternativa eficaz seria o incentivo ao consumo dos temperos naturais para reduzir o consumo de sal, afirma.
“Nosso organismo contém normalmente de 20 a 30mg de iodo, com mais de 75% na glândula tireoide e o restante distribuído por todo o organismo, particularmente na glândula lactente mamária, na mucosa gástrica e no sangue. A única função conhecida do iodo é como parte integrante dos hormônios tireoideos. Sua excreção é primariamente pela urina; as pequenas quantidades nas fezes vêm da bile. A deficiência de iodo durante a gestação e crescimento pós-natal pode causar: Cretinismo (deficiência mental), displegia espástica, quadriplegia, surdo-mudez, disastria,bócio simples ou endêmico”, esclareceu.
"Sem sal não quer dizer sem graça"
Segundo a nutricionista Carla Regina da Silva, o sal começou a ser utilizado na culinária não para dar sabor aos alimentos, mas por seu potencial sanitário. Com um forte poder esterilizador, o sal conservava a comida, impedindo a reprodução de bactérias. Mas esse aliado inicial da saúde agora está sob a mira das entidades médicas. Associado a uma série de problemas, entre eles a hipertensão, o sal não é mais considerado como uma substância de consumo seguro.
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