sábado, 8 de dezembro de 2012

Pesquisas indicam que a Bahia deve ter a maior reserva de gás do país

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Estimativas da Agência Nacional de Petróleo (ANP) indicam que apenas a Bacia do Recôncavo, na Bahia, possui 20 trilhões de pés cúbicos (TCF) de gás natural em reservatórios não convencionais, que são aqueles retirados das rochas sedimentares de folhelho. Para a maioria dos brasileiros este número não faz muito sentido, mas é absolutamente impressionante, segundo o secretário do Planejamento da Bahia, José Sergio Gabrielli.



“A reserva de gás natural armazenada em reservatórios convencionais de todo Brasil é da ordem de 16 TCF, ou seja, apenas a Bacia do Recôncavo pode conter 25% mais gás natural do que todo gás descoberto até hoje no país, o que daria para suprir a necessidade nacional durante quase 20 anos, desde que mantido o consumo atual”, afirma Gabrielli.



Este foi um dos assuntos que mobilizou, nesta terça-feira (4), no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), em Salvador, cerca de 300 empresários e especialistas da área de petróleo e gás de todo o país. O 1º Seminário Reservatórios Não Convencionais – oportunidades para shale oil e shale gas nas Bacias do Recôncavo e Tucano Sul foi promovido pela Secretaria do Planejamento da Bahia (Seplan) e Fieb, com apoio do Ministério das Minas e Energia (MME), ANP e o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).



De acordo com o secretário estadual do Planejamento, apesar do desenvolvimento da produção de óleo e gás de reservatórios não convencionais assumir proporções significativas em escala mundial, ainda é incipiente no Brasil, onde há atividade de exploração apenas na Bacia do São Francisco (Minas Gerais). “Na Bahia ela é inexistente, porém o estado tem duas bacias (Recôncavo e Tucano Sul) de grande potencial para reservatórios não convencionais, além de contar com expressiva malha de gasodutos”, explica Gabrielli.



Pela similaridade geológica com a Bacia do Recôncavo, a Bacia do Tucano Sul tem grande potencial de também conter grandes volumes de gás natural em reservatórios não convencionais. Além do gás, também são esperados encontrar volumes igualmente significativos de petróleo nas duas bacias.



Desta forma, explica Gabrielli, “a Bahia, que já tem mercado consumidor industrial e infraestrutura de escoamento, tem uma enorme oportunidade para atrair investimentos neste setor e aumentar a produção de óleo e gás em relação ao que hoje é realizado, com ganhos na geração de emprego, renda e arrecadação, seja através do aumento de royalties, das participações ou do Imposto Sobre Serviços (ISS)”, detalha o secretário.



Segundo o titular da pasta do Planejamento, ao menos no período inicial das atividades, de modo a estimular o início das perfurações, seria adequado estabelecer uma política de incentivos, visto que as produções em reservatórios não convencionais contabilizam custos de investimentos mais elevados.



Mercado



Na opinião do secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Marco Antonio Almeida, apesar das projeções animarem o setor industrial, com a possibilidade do custo do gás no Brasil cair dos atuais 16 dólares por milhão de metros cúbicos para algo próximo ao valor praticado nos Estados Unidos, que é menos de três dólares, isto é impossível. “Já se falou em algo em torno de seus dólares por milhão de metros cúbicos, mas nós nunca chegaremos ao custo dos americanos, porque eles têm características particulares, a exemplo de uma legislação que restringe a exportação do gás excedente, fazendo com que ele seja voltado para o mercado interno”, afirma o representante do ministério.



O secretário de Petróleo e Gás do Ministério pontua ainda que atualmente a maior dificuldade é ter o produto. “Mesmo no nosso plano decenal de energia, projeta-se que não haverá sobra de gás e, nesse sentido, o gás não convencional pode alterar esse cenário”, ressalta Marco Antonio.



Ainda durante o evento, Marco Antonio disse que as perspectivas de energéticos não convencionais são as melhores possíveis e cita, como exemplo, outra fonte que precisamos dar atenção. “A nossa reserva de carvão, que está concentrada em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, pode atender a demanda do país por 200 anos e não pode ser desconsiderada”, pontua.



Novos leilões



Segundo o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, o governo federal lançará a 11ª rodada, que licitará blocos para exploração e produção de petróleo e gás natural nas bacias sedimentares do país, em maio de 2013. O edital, que será publicado em janeiro do próximo ano, deverá contemplar, principalmente, a margem equatorial do Brasil e o Recôncavo baiano.



Em novembro de 2013, será a vez da 1ª rodada de licitação da ANP, também para a exploração e produção de petróleo e gás natural, mas agora adotando o regime de partilha, que foi aprovado pela presidenta da República, Dilma Rousseff, na última semana.





Potencial Brasileiro



O Brasil tem potencial para ser o segundo maior produtor de gás proveniente de rocha de folhelho (shale gas) das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos, de acordo com dados da consultoria Instituto de Energia FPMG Global com base em levantamento da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre reservas estimadas dessa fonte energética. Hoje, o Brasil ocupa o 10º lugar no mundo. Os três primeiros líderes em disponibilidade projetada são China, Estados Unidos e Argentina.



No mundo, apenas os Estados Unidos utilizam o gás proveniente das rochas de folhelho em escala comercial, que, apesar de terem o potencial conhecido há décadas, só a pouco tempo a exploração tornou-se viável, fruto da combinação de tecnologia e baixo custo, e impulsionada por incentivos dados pelo governo, como a redução dos royalties. Alguns países do Leste Europeu também têm produzido comercialmente, embora em pequenos volumes. Na América do Sul, segundo o estudo da KPMG, o governo argentino é o que tem dado maior atenção ao assunto e aplicado mais recursos.



A retirada do gás das rochas de folhelho é feita utilizando um mecanismo chamado de perfuração horizontal com a técnica de fraturamento hidráulico. A técnica para extrair gás ou petróleo das formações rochosas de folhelho consiste na tubulação do poço de gás ou petróleo, ao alcançar a camada de folhelho, fazer uma curvatura na horizontal. Uma solução de água, areia e produtos químicos é injetada pela tubulação em alta pressão, fracionando a rocha em torno da tubulação. Então, o combustível fóssil (gás ou petróleo) preso dentro do folhelho é liberado e escoa para a tubulação.



O tema, entretanto, tem fomentado uma discussão global sobre o impacto ambiental do fraturamento. Ambientalistas acusam a técnica de provocar a contaminação dos lençóis freáticos, bem como do ar e possível aumento do risco de terremotos.
SEPLAN

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