
A prefeitura municipal está a preparar um plano urbanístico
–boa parte já concluído- que, presume-se, se não houver empecilhos inesperados,
irá mudar o perfil da cidade em diversos bairros, repaginando Salvador para
dotá-la de características modernas e atrativas. Os projetos de ACM Neto,
condicionados, naturalmente, a recursos já negociados, estabelecerão,
especialmente nas suas orlas Atlântica e da Baía de Todos os Santos,
inicialmente, a sensação de uma nova cidade litorânea. O que se espera é a
conjugação desses esforços com os projetos já anunciados pelo governo Wagner,
que dará à velha Salvador a mobilidade que ora inexiste, com a reestruturação do
setor norte – avenida Paralela, ligações por metrôs, ampliação de pistas,
construção de novos viadutos e avenidas que cortarão a cidade transversalmente,
na direção da BR-324, dos subúrbios ferroviários, tudo a partir de mudanças
estruturantes que se iniciarão na Avenida Octávio Mangabeira, ou
proximidades.
O importante é que os projetos municipais e do governo do
estado se casam perfeitamente, coincidência ou não, facilitando a mudança da
concepção de uma “nova” Salvador. As informações partem, ainda coincidentemente,
dos dois chefes das Casas Civis da prefeitura e do governo, respectivamente
Albérico Mascarenhas e Rui Costa. Em separado, os dois falaram com o mesmo
direcionamento. O diferencial é que cada esfera tem os seus projetos e seus
momentos de ação, que também, devem ter início de forma concomitante.
Neto pretende iniciar a sua revolução urbana a partir do
Porto da Barra, seguindo na medida em que as etapas sejam vencidas, em direção a
Ondina, recuperando o belo bairro boêmio do Rio Vermelho até a Praça da
Mariquita. O governo cuidará do trecho que parte de Amaralina, avançando pela
Pituba até o Jardim de Alah, que será reurbanizado pela prefeitura, assim como o
novo shopping da Boca do Rio, que se unirá ao Parque Atlântico que terá
continuidade com as obras já iniciadas na Boca do Rio (o antigo aeroclube que
irá ao chão) na antiga sede do E.C Bahia. Daí em diante até Stella Mares em
alguns trechos prefeitura e governo estadual trabalharão, senão em parceria,
pelo menos no mesmo sentido.
Como o metrozinho, que teria sido objeto de deslavada
corrupção, indo até Pirajá e, de lá, cortando o populoso bairro de Cajazeiras
para chegar até Águas Claras, a mobilidade ficará fácil para encontrar a orla da
Baía de Todos os Santos. Nas praias de Paripe e de Tubarão, a prefeitura de
Salvador projeta um reforma semelhante à do Porto da Barra. Na Barra (Porto e
Farol) as mudanças serão profundas. A começar com a transformação da área do
Porto num espaço digno, onde hoje pontuam pousadas usadas para a exploração da
prostituição. Isto acabará, assim como as casas degradadas do Farol da Barra que
são utilizadas exclusivamente para alugueis durante o Carnaval, quando são
transformadas em camarotes caríssimos. Tais espaços receberão da prefeitura
tratamento que impedirá esse processo, através de taxações tributárias
altíssimas, ou até desapropriação pelo valor que valem, ou seja, quase nada, de
modo a inviabilizar aquilo que hoje se vê e que dá à cidade, num dos seus pontos
tidos com cartão postal de Salvador, uma imagem de desprezo e abandono, o que na
verdade é.
O governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto, através
de projetos urbanos preconcebidos entre ambos ou por acontecer sem que se
imaginasse o encontro e entrosamento urbano, poderão até o final de o próximo
ano contemplar Salvador com uma identidade moderna sem que haja perda de um dos
seus atrativos mais importantes, que é o fato de ser uma cidade histórica. Resta
saber o que acontecerá com os casarões da Praça Cairu, no corredor do Elevador
Lacerda, que estão sendo, lentamente, destruídos por desmoronamentos ou por
incêndios. Hoje, em bom número, estão escoradas para não desabar. Esta resposta
deve ser dada pelo Iphan, que receberá, segundo se anuncia, recursos para cuidar
do Centro Histórico, ora degradado.
As perspectivas para Salvador, abandonada que foi, além de
espoliada em todos os sentidos, remetem a esperanças. Espera-se que os projetos
do governo e da prefeitura da cidade não demorem. Porque já tardam, na medida em
que a velha urbis de Thomé de Souza tem sido maltratada ao longo do tempo por
administrações caóticas, despreparadas, senão indecentes. Com exceções,
obviamente.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A
Tarde deste domingo (25)
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