Marcelo Nilo está na briga para ser o governador da Bahia a partir de 2014
por
Fernanda Chagas e Osvaldo Lyra
Tribuna da Bahia
Tribuna da Bahia – O senhor possui apoio de todos os partidos da base governista para viabilizar seu quarto mandato na Assembleia. Resta apenas a oposição. Pode ter problemas?
Marcelo Nilo –
Tribuna – O PT deixou claro que não é favorável à renovação de mandatos, mas resolveu lhe apoiar. Como o senhor vê isso? É uma ameaça a entendimentos futuros?
Nilo – Eu respeito muito o PT. É o maior partido da Bahia e da Assembleia Legislativa. Cada um tem suas posições políticas. Eu sou favorável à reeleição. Mesmo não sendo candidato em 2015 a deputado estadual - provavelmente, porque eu tenho outros objetivos -, eu sou favorável à reeleição. Reeleição é um direito em que os bons continuam e aqueles que não são aprovados não continuam. Eu sou presidente da Assembleia – repito – pelas relações políticas e minhas posições políticas, minhas relações com os políticos. Eu respeito muito o PT, mas eu sou favorável à reeleição.
Tribuna – O senhor quer dizer, então, que seu nome está no páreo para a sucessão estadual?
Nilo –
Tribuna – Já chegou a ser falado que o PT estaria condicionando o apoio ao quarto mandato agora a sua desistência de pleitear uma vaga na chapa de 2014. O senhor ganharia uma vaga no Tribunal de Contas do Estado. Tem algum fundamento esse tipo de articulação?
Nilo – Fundamento zero. Ninguém do PT conversou comigo isso. Segundo, não passa pela minha cabeça ir para o Tribunal de Contas do Estado. Se fosse, talvez seria nessa vaga que tem agora, que seria teoricamente mais fácil. Eu sou candidato a governador ou a deputado estadual. Não passa, sob hipótese, na minha cabeça, ir para o Tribunal de Contas. Acho que é uma honra ser conselheiro, mas eu gosto é de fazer política.
Tribuna – O senhor acha que o PT pode amadurecer a ponto de apoiar um candidato ao governo dentro da base, mas fora do PT?
Nilo
Tribuna – Seu alvo é a vice-governadoria?
Nilo – Olha, meu alvo hoje é ser presidente da Assembleia. Depois da presidência da Assembleia, eu vou lutar para ser candidato a governador, respeitando o tempo e respeitando a coordenação do processo que é feita pelo governador Jaques Wagner. Eu sou candidato a governador se o povo da Bahia quiser e se o governador Jaques Wagner me apoiar.
Tribuna – Diante da possibilidade de o PT lançar ao governo um nome que não seja do próprio partido, o atual vice Otto Alencar sai na frente?
Nilo – Eu acho que o governador Jaques Wagner tem sete nomes e ele vai escolher um. E todos os sete aceitarão a decisão do governador. Do PT, Rui Costa, Gabrielli [José Sérgio Gabrielli], Walter Pinheiro e Caetano [Luiz Caetano]. Dos aliados, Lídice da Mata, Marcelo Nilo e Otto Alencar. Esses sete é que, se o governador tomar uma decisão política de apoiar um deles, será candidato. Agora cada um tem seu perfil. Eu digo que sou candidato a governador. Muitos são mais candidatos a governador do que eu, mas não dizem. Eu sou diferente. Eu aprendi com meus pais que tudo aquilo que você quer na vida, você tem que lutar. E aprendi – aliás, todos os dias quando acordo, eu digo a minhas três filhas – sempre procure subir um degrau na vida sem passar por cima de ninguém. Se eu estou no segundo cargo mais importante no estado, eu quero subir mais um degrau. E depois desse cargo só tem governador da Bahia. Agora só serei candidato se eu tiver o apoio do governador e se o povo da Bahia quiser.
Tribuna – A demora na apreciação das contas da Assembleia pelo TCE é uma coisa que vem se arrastando há vários anos. A que o senhor atribui isso e por que tantas contas não foram julgadas?
Nilo – As duas contas que foram julgadas foram aprovadas. Inclusive a que foi aprovada agora essa semana, com apoio do Ministério Público. Agora, esse pergunta tem que ser feita ao Tribunal, que é composto por conselheiros imparciais e sérios. Mas eles têm muito trabalho. Eles julgam as contas do estado, as contas das empresas, das secretarias. É óbvio que eu fico torcendo e pedindo que julguem minhas contas. Mas essa é uma pergunta que tem que ser feita ao Tribunal.
Tribuna – Faltam quantas contas para serem julgadas?
Nilo – 2008, 2010 e 2011. Faltam três.
Tribuna – O senhor anunciou que não vai pedir suplementação de verbas este ano e, no ano passado, deixou claro que a Assembleia passava por uma crise financeira. Como conseguiu contornar isso?
Nilo – A Bahia é o 25º pior estado em receita per capta. Ou seja, se você pegar a receita e dividir pela população. Então nós fizemos um esforço enorme e apertamos o cinto. E, pela primeira vez na história do parlamento, não se pede suplementação. Eu consegui equilibrar minhas contas com o apoio dos parlamentares e dos funcionários.
Tribuna – De um orçamento de quanto?
Nilo – O orçamento da Assembleia é de R$ 370 milhões.
Tribuna – O que é que foi cortado? Teve alguma medida que a Casa sentiu?
Nilo – Pelo contrário, eu dei bons aumentos aos servidores. Não houve medidas drásticas, apenas eu contive as despesas. Nós não fizemos novas despesas. Até cartão de Natal, por exemplo, eu preferi este ano não dar aos deputados. Ou seja, eu comecei cortando energia, cortando telefone, bloqueamos os telefones de todos os funcionários, de todos os deputados, diversas economias. Você faz uma economia aqui, vai somando com outra... Fizemos licitação de veículos onde foram reduzidos os preços. Enfim, tendo em vista a redução do IPI, os preços foram reduzidos e nós fizemos licitação. Nós pagávamos R$ 3.400 e agora vamos pagar R$ 2.500.
Tribuna – O PDT quer brigar por mais cargos e mais espaço no governo, com a justificativa que cresceu nas últimas eleições. O senhor é favorável à disputa por mais espaço?
Nilo – Quem fala pelo PDT é o presidente do partido. Eu prefiro falar como presidente da Assembleia.
Tribuna – E o senhor vai querer brigar pelo comando do PDT?
Nilo – Nesse momento não passa pela minha cabeça lutar pela presidência do PDT. Eu acho que o presidente Alexandre Brust está fazendo um bom trabalho.
Tribuna – Como presidente da Assembleia, qual sua expectativa sobre os destinos de Salvador? Acredita que a gestão do DEM vai conseguir, sem o alinhamento dos governos estadual e federal, fazer um bom trabalho para atender o que a sociedade está esperando?
Nilo – Eu trabalhei muito para Nelson Pelegrino ser prefeito. Mas perdemos. O lado bom dessa história de Salvador é que, mais cedo ou mais tarde, ACM Neto seria prefeito da cidade ou governador. Porque ele fala muito bem na televisão e ser deputado de oposição é fácil. A partir de 1º de janeiro, ele vai ser julgado pela gestão, pela sua administração. Então, daqui a um ano, nós vamos ver como ACM Neto se comportou como prefeito. Eu acho que ser oposição é fácil. Eu sou o único deputado na história da Bahia que ficou 16 anos na oposição. Ser oposição é fácil. Ser estilingue, ser badogue é fácil. Difícil é você ser o vidro. Então, a partir de janeiro ele vai ser julgado pela gestão. João Henrique, que fala muito bem na televisão e nas rádios, está sendo julgado pela gestão dele. Eu hoje estou sendo julgado por ser presidente da Assembleia. Antigamente eu era julgado como deputado de oposição. Portanto, eu desejo sucesso a ACM Neto e podem ter certeza de que o governador Jaques Wagner fará as parcerias que Salvador precisa. Jaques Wagner é o maior democrata que eu já conheci na vida. Ele respeitará a decisão do povo da cidade.
Tribuna – O senhor acredita que o início de uma gestão do DEM em Salvador vai obrigar o governo do Estado a azeitar mais a máquina, dar um ritmo de maior celeridade neste final de gestão?
Nilo – O governador Jaques Wagner faz muitas obras na Bahia, principalmente Salvador. A nova Fonte Nova, a Via Expressa, fez agora o Complexo Viário da Rótula do Abacaxi, o Complexo Viário 2 de Julho. Agora é óbvio que você quando tem um prefeito mal avaliado, isso realmente sobra para o próprio governador. E nós esperamos que essas parcerias sejam feitas – e com certeza serão feitas, porque o governador Jaques Wagner respeitará a decisão do povo que elegeu ACM Neto. Ele vai administrar o município e o governador vai administrar o estado. E os dois farão parcerias necessárias para Salvador. Nós temos um ano importante, que é o ano da Copa das Confederações, e depois o ano da Copa do Mundo de 2014. Com isso, nós teremos recursos para fazer a mobilidade urbana e priorizar o metrô - o sonho de todo cidadão que mora em Salvador.
Tribuna – O senhor acompanhou de perto a insatisfação dos policiais e professores estaduais. Acha que o desgaste gerado pelas últimas greves pode ter atrapalhado na sucessão da capital?
Nilo – Claro que as greves atrapalharam, mas não foi o único motivo. Nós perdemos porque ACM Neto ganhou as eleições. Agora com relação aos servidores, eu desafio qualquer servidor do estado da Bahia. Pegue o contracheque de 31 de dezembro de 2006, ou seja, na véspera de Jaques Wagner tomar posse, e pegue o contracheque hoje. Veja quanto eles receberam de aumento acima da inflação. Eu digo, em alto e bom som: foi o governador que melhor deu aumento salarial aos servidores públicos no últimos 22 anos que eu estou como deputado. Agora é óbvio que o servidor sempre quer ganhar mais e, só para lembrarmos, o governador Jaques Wagner quando recebeu o estado, salvo me engano, 60% dos servidores da Bahia recebiam menos que um salário mínimo como salário-base. E hoje todos os servidores ganham acima do mínimo. Então, servidor sempre quer ganhar mais. Servidor não quer saber se tem. Servidor que o seu aumento. E o governador Jaques Wagner teve um ano onde a receita foi duramente reduzida, fruto das reduções da receita do Fundo de Participação dos Estados. Nós somos o 25º pior estado de receita/ despesa. Se você pegar o Rio de Janeiro hoje, tem um orçamento de R$ 70 bilhões para uma população de 17 milhões de habitantes. A Bahia tem uma receita de R$ 25 bilhões para uma população de 14 milhões. Além de sermos um estado extenso, além de termos convivido com a pior seca dos últimos 50 anos. O governador para fechar seu orçamento está tendo que fazer um planejamento estratégico porque a receita foi reduzida e as despesas nós não conseguimos reduzir o tanto quanto imaginávamos.
Tribuna – O senhor é aliado inconteste do governo, mas de forma bem imparcial, qual o maior erro e o maior acerto da gestão Wagner?
Nilo – O maior acerto do governo Wagner é fazer um governo democrático. E o maior erro é ser republicano demais. Qual o melhor acerto dele? Fazer um governo para todos.
Tribuna – O senhor acredita que o crescimento, o inchaço da base, dificulta os trabalhos na Casa, por fragilizar tanto a bancada de oposição?
Nilo – Nós temos uma bancada de oposição muito reduzida. Nunca na história do parlamento a oposição teve 14 deputados, 15 deputados como tem hoje. Agora é uma oposição muito aguerrida. A base do governo é consolidada com 48 a 14, salvo me engano. E a oposição é muito aguerrida. Os deputados de oposição são para criticar e os deputados de governo são para votar.
Tribuna – A Assembleia tem uma TV que está tentando ir para o canal aberto. Há alguma expectativa do sinal da TV chegar para a capital e interior através do sinal digital?
Nilo – Com certeza. Eu recebi um telefonema do senador Walter Pinheiro, que está me ajudando muito na consolidação da TV aberta, informando que o ministro vai assinar nos próximos dias e acredito que, no fim do primeiro semestre do próximo ano, nós teremos a TV Assembleia como canal aberto aqui na Assembleia porque eu sei que o papel da mídia é um papel crítico. Se o avião chegar no horário, vocês não noticiam, agora se chegar atrasado, aí é primeira página. Então a gente tem que ver a Assembleia para que a sociedade acompanhe o trabalho parlamentar.
Tribuna – Como viu a decisão da presidente Dilma de vetar parte do projeto que redistribui os royalties do país? Os políticos baianos deveriam brigar mais pelo Estado?
Nilo – A Bahia está lutando. Agora, o que me deixou muito triste foi ver um cantor respeitado na Bahia e no Brasil (Caetano Veloso) defender o Rio de Janeiro em detrimento da sua terra natal, a Bahia. Nascer na Bahia é uma dádiva de Deus. A Chapada Diamantina, o Pelourinho, do Vale do Jequiriçá, no Vale do São Francisco. Daí vem um baiano ilustre defender o Rio de Janeiro em detrimento do próprio estado. O Rio de Janeiro tem R$ 70 bilhões de orçamento, o Rio é menor que a Bahia. A população, proporcionalmente, é maior, são 14 milhões aqui e 17 milhões lá. Portanto eu acho que todos os baianos deviam se unir, o que não aconteceu. O governador Jaques Wagner assinou um manifesto que saiu nos jornais do sul defendendo a manutenção do que foi aprovado no Congresso Nacional. O governador Jaques Wagner, como todo mundo sabe, nasceu no Rio de Janeiro, mas como governador do estado ele defendeu a Bahia. Assinou pedindo à presidente Dilma que mantivesse o que foi aprovado no Congresso Nacional.
Colaborou: Fernando Duarte
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