segunda-feira, 30 de maio de 2011

Complexo da Pequenez


Paulo Ormindo de Azevedo
Arquíteto, professor titular da Ufba
ormindo@terra.com.br

Participei no último dia 5 do seminário "Mobilidade em debate: f1uxos,deslocamentos e alternativas para o sistema de transporte público na RMS", promovido· pela deputada Maria deI Carmem. Fiquei sur­preso com a participação popular e a au­sência das elites. Para resumir, a sociedade pode perder o trem da mobilidade, porque um grupo de empresários já definiu a solução a seu favor. Não temos planejamento público, senão "antiprojetos" privados, todos imedia­tistas e ultrapassados, baseados no diesel, no pneu e minhocões


Juca Kfouri em artigos de 4/2/07 e 11/6/09 na Folha de S.Paulo afirma que só a partir da Copa do Japão/Coreia do Sul, em 2002, a Fifa passou a exigir a construção de arenas, em grande parte porque esses paí­ses e a África do Sul não possuíam estádios em condições. A Alemanha aproveitou 2006 para demohstrar e vender sua alta tecnologia em coberturas de  estádios. A partir desse momento, a Fifa passa a ca­pitanear um complexo industrial-esportivo com a Hyundai-Kia, produtora de trens velozes, metrôs e quarta fabricante mundial de carros, Sony, Continental, Adidas, Coca. Cola, Budweiser e McDonald's

Se as nossas cidades são carentes de in­fraestrutura, não se pode dizer o mesmo do futebol. Somos uma potência mundial, com um rei, o único pentacampeonato e a maior rede de estádios do mundo. Com pequenas obras, nossos estádios poderiam agasalhar a Copa de 2014, sendo destinado o grosso dos investimentos para a melhoria da infraestrutura de nossas cidades.
 O que estamos assistindo na TV é o Contrário, a implosão de estádios novos para à cons­trução de arenas bilionárias, elitistas e ex­cludentes, com camarotes, restaurantes e salões VIPs. Algumas serão elefantes. bran­cos em cidades cujas torcidas não passam de 3.000 pessoas.
 Isto quando se está, em todo o mundo reciclando antigas fábricas para novas funções.

Fiquei também surpreso com alguns ex­positores que saudaram a Fifa como benemérito por exigir transporte de massa para nossas cidades. Não sejamos ingênuos.

A Fifa não está interessada na qualidade de vida, nem na segurança de seus torcedores, senão. no sucesso do evento. Prova disto é o fato de não exigir nada que se refira à questão sanitária e à segurança pública. Nossas urbes são cortadas por rios con­taminados, focos de dengue e leptospirose, rios que as paralisam quando chove. Temos ainda sequestradores, assaltantes de ônibus  e torcidas armadas.

 Muito pouco foi pedido a este respeito e está sendo feito.

Não se conhece, por outro lado, ação da Fifa em favor do esporte amador, dá edu­cação esportiva, da repressão à violência nos estádios, à corrupção e à lavagem de dinheiro pela máfia russa.

 Ela. está inte­ressada, sim, nos direitos de transmissão da TV, nos negócios associados e patrocinios bilionários. Como consequência, incentiva a venda de equipameritos de alta tecno­logia, como TVGs [trens bala], metrôs, cen­trais de comunicações, equipamentos para aeroportos e arenas.

No momento que as instituições. inter­nacionais, como a ONU, FMI e Bird, têm cada vez menos força, é estranha a sub­serviência de nossas autoridades à enti­dade mais mercantilista do sistema.
 A isto  se soma a falta total de planejamento e controle. Coincidentemente a Fifa é  uma associação helvético-brasileira. Sim, porque Havelange reinou nela durante 24 anos e sua família ainda controla grande parte dos negócios da Fifa e de sua afiliada CBF.
 O atual presidente da Fifa, Blatter, seu su­cessor, é sua cria.
Foi designado por ele diretor técnico em 1975, promovido a se­cretário-geral em 1961, indicado presidente em 1998.

Metade das arenas brasileiras foi projetada por escritórios alemães e cerca de oito têm coberturas da mesma origem e deverão ser geridas por consórcios bina­cionais.
Como contrapartida, as obras das arenas foram dadas para as quatro irmãs nacionais. Oito dessas obras têm problemas no TCU e três são insustentáveis. Chega-se ao ridículo de aceitar a destruição das arquibancadas do maior estádio do mundo, monumento na nacional e retirada de "sua marquise, recorde da engenharia nacional, para colocar em seu lugar uma tela, que só irá produzir mormaço.
Onde está o Iphan e o orgulho nacional?

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