Roberta Cerqueira - publicado na Tribuna da Bahia
O impasse sobre o destino de nove carretas contendo material radioativo que estiveram retidas no pátio da Polícia Militar do município de Guanambi, sudoeste do estado, chegou ao fim na noite de ontem. Após reunião da comissão criada para discutir o assunto, a carga foi liberada para seguir para Caetité, onde está instalada a unidade responsável pelo material, a INB (Indústrias Nucleares do Brasil).
Condições de transporte e manipulação da carga radioativa foram definidas no acordo. Técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) chegaram a examinar o material e concluíram que não se trata de lixo radioativo, mas de produto semelhante ao fabricado na cidade.
MOBILIZAÇÃO - A carga com 90 toneladas de concentrado de urânio saiu de São Paulo com destino a Caetité, a 757 km de Salvador, mas cerca de 2 mil moradores e ambientalistas impediram a entrada do material na cidade, dando início ao impasse.
Na manhã de ontem, foram os moradores de Guanambi que promoveram um protesto em frente ao posto da PM. Ostentando faixas, cartazes e alguns utilizando máscaras, eles exigem a retirada imediata das carretas do local.
“Estamos tentando acalmar os ânimos da população e manter as manifestações de forma pacifica, afinal, trata-se de material radioativo e nós tememos ação de radicais”, disse Pedro Torres, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
As carretas tinham como destino a unidade de beneficiamento de urânio, no sudoeste baiano, onde fica a única mina de urânio do país, foram interceptadas pelos manifestantes na última segunda-feira.
De acordo com a INB, as carretas são de propriedade da Marinha brasileira e o objetivo seria reembalar a carga em Caetité (como o ocorrido após acordo de ontem) e depois enviá-la, junto à produção local, para a Europa, onde seria enriquecida. A meta final é o abastecimento das usinas nuclares de Angra 1 e Angra 2, que ficam no Rio de Janeiro.
De acordo com a INB, o plano de transporte foi comunicado ao Ibama e recebeu aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, porém o prefeito da cidade de Caetité tinha dito não ter sido comunicado da ação.
O presidente da INB, Alfredo Tranjan alegou que a chegada da carga de urânio à cidade não foi informada ao prefeito por questões de segurança, atendendo a regras internacionais. “Eu não posso dizer dia e local por onde isso vai passar porque daria possibilidade a sabotagens ou ação terrorista”, disse.
O Ministério Público Federal em Guanambi chegou a instaurar, ontem, um inquérito civil público a fim de apurar as supostas irregularidades na recepção, transporte e comercialização de carga radioativa.
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