Acossado,
Legislativo testa limites da República
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Josias de Souza
30/11/2016 16:44
A desfiguração do pacote anticorrupção numa
emboscada contra o intresse público que os deputados executaram de madrugada
deixou o saco nacional perto do limite. Ao adicionar às propostas que visavam
perseguir criminosos uma emenda que intimida os agentes públicos que combatem o
crime, a Câmara levou a desfaçatez às fronteiras do paroxismo. Alguns hálitos a
mais e a coisa explode.
“Pode-se tentar calar o juiz, mas nunca se
conseguiu, nem se conseguirá, calar a Justiça'', escreveu, em nota oficial, a ministra Cármen Lúcia,
presidente do Supremo Tribunal Federal. A “lei da intimidação” foi o “golpe
mais forte desferido contra a Lava Jato em toda a sua história”, lamentou o
procurador Deltan Dellagnol. “Nossa proposta é renunciar coletivamente” à operação se esse ataque for
sancionado pelo presidente da República, ameaçou o procurador Carlos Fernando
dos Santos Lima.
Exercendo impunemente a presidência do Senado como
se nada tivesse sido descoberto sobre ele, Renan Calheiros levou os lábios ao
bico do balão para soprar um pouco mais. Disse que o pacote anticorrupção teve
dos deputados o tratamento que mereceu. As medidas só poderiam ser adotadas “no fascismo”, afirmou, antes de retomar sua cruzada pela
aprovação de uma lei para imprensar juízes que imprensam os corruptos (assista
abaixo).
Protagonista de 12 processos judiciais, Renan dá
lições de ética ao país a poucas horas do julgamento em que o Supremo deve
enviá-lo, nesta quinta-feira, para o banco dos réus. O senador deve responder a
uma ação penal sobre o recebimento de propinas de uma empreiteira para pagar
pensão da filha que teve fora do casamento. O balão ficará ainda mais cheio se
a banda muda do Congresso continuar aceitando em silêncio a anomalia de ser
comandada pelo inaceitável.
A essa altura, Michel Temer deveria nomear para sua
equipe uma criança de cinco anos, dessas que adoram soprar balões em festas
infantis. Ouvindo-a sempre que tiver que decidir sobre a sanção ou veto de
projetos aprovados no Congresso, o presidente talvez evite que o balão estoure
na sua cara. Não convém encher mais o saco.
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