Fonte:Bahiaeconômica
.jpg)
Há algo de podre no Império da China, diria Shakespeare. A forte desvalorização sofrida pela moeda chinesa, o yuan, – que terá repercussões sobre o Brasil e a Bahia – reflete a recomposição que vem atravessando o país asiático e o medo das autoridades chinesas de que a meta de crescimento anual de 7% este ano, a menor em 25 anos, não se realize.
Queiram ou não os chineses, o capitalismo é cíclico, marcado por fases de auge e depressão, e, embora muitos acreditassem que o potencial de crescimento da China era inesgotável, o ciclo capitalista está se impondo. Aliás, já há analistas afirmando que os números do crescimento econômico da China não são confiáveis e que muitas províncias já estariam em recessão.
As autoridades monetárias perceberam a redução no crescimento, mas esperavam um pouso suave, uma queda gradual no incremento do PIB. No entanto, os problemas chineses se avolumaram, a demanda no mercado interno está em queda, a produção industrial em baixa, o mercado imobiliário em crise e as exportações caíram 8,3% em julho e 0,8% nos sete primeiros meses de 2015. Com esse quadro, não há hipótese de pouso suave, o mais provável é queda abrupta no crescimento.
Para completar, o governo chinês cometeu o mesmo erro do Brasil e elevou os gastos fiscais em infraestrutura e outros para que o consumo do governo estimulasse o crescimento, mas o resultado foi o aumento da dívida pública.
Num quadro como esse por que desvalorizar a moeda? Para incentivar as exportações, deslocando, pelo menos em parte, o eixo do crescimento, do mercado interno para o mercado externo. Há quem veja outros interesses, e credite a desvalorização – feita através de um novo mecanismo que permite maior flutuação do câmbio, e maior vinculação ao mercado, ao invés de total dependência do Banco Central –.ao desejo de tornar o yuan uma moeda de reserva na cesta de moedas do FMI – Fundo Monetário Internacional, composta do dólar, euro, iene e libra esterlina – e essa condição era exigida pelo fundo.
O problema é que mudanças no câmbio sempre geram stress, ainda mais quando feitas na segunda maior economia do mundo. Por isso, o movimento chinês pode gerar uma guerra cambial, desencadeando desvalorizações nas moedas dos países, como Coreia do Sul, Tailândia e Vietnã, que vão se precaver frente ao gigante que deixou de manter sua moeda valorizada artificialmente. O Brasil também vai sofrer, até porque grande parte de suas exportações são commodities cujo destino é a China e esse produtos vão ficar mais caros e menos competitivos.
Além disso, com a desvalorização, os chineses ficam mais pobres em dólar, o yuan fica mais fraco, os produtos brasileiros ficam mais caros e a demanda pelas nossas commodities pode cair. Ora, o preço das commodities já vem caindo no mercado internacional e, se a demanda da China se reduz, a tendência é de maior queda nos preços. E a desvalorização da moeda ainda vai tornar mais barata as bugigangas chinesas, que devem abarrotar o mercado brasileiro.
Mas esses são efeitos colaterais, o sintoma grave mesmo é um certo desequilíbrio na segunda maior economia do mundo, que parece exigir mais mercado e menos estado. Em suma, mais cedo ou mais tarde a China vai se defrontar com o dilema shakespeariano: Ser ou não ser completamente capitalista, eis a questão.
A CHINA E A BAHIA
A China desvalorizou em quase 5% sua moeda e assim vai estimular suas exportações e desestimular as compras de produtos importados. A medida vai ser um balde de água fria na exportações baianas, cada vez mais dependentes do mercado chinês. No primeiro semestre de 2015, 27% das exportações baianas tiveram como destino a China. Em 2014, eram apenas 18%. Quase 90% das exportações baianas para o gigante asiático são soja, celulose, algodão, catodos de cobre e níquel.
Com o yuan fraco, esses produtos ficam mais caros e menos competitivos e a demanda tende a cair. Caindo a demanda, a queda nos preços dessas commodities tende a cair mais ainda. Em suma: no primeiro semestre do ano as vendas externas da Bahia sofreram uma queda de 18% em relação ao mesmo período do ano passado, só não caíram mais porque a China ampliou sua compras em 21%. Sem as compras chinesas, a situação vai se agravar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário