quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Entenda como a alta dos juros nos Estados Unidos afeta os brasileiros

Pesquisador da FGV afirma que principal impacto deve ser alta do dólar
por
Agência Globo
Postado na Tribunadabahia
O comitê de política monetária americano está reunido para decidir se eleva ou não a taxa de juros do país pela primeira vez em nove anos.
O pronunciamento desta quinta-feira (17/9) da presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) é aguardado por investidores e políticos de todo o mundo. Analistas, no entanto, se dividem quanto à alta.
Alguns acreditam que a normalização da política monetária começará agora, devido à força da economia americana. Outros apostam que os indicadores dos Estados Unidos ainda dão sinais mistos e que o contexto internacional, principalmente com a desaceleração da China e queda no preço das commodities, fará com que a elevação seja adiada para dezembro.
— É como um unicórnio, uma criatura mítica que anda por aí — disse Maggie Kirchloff, analista da Wisdom Wealth Strategies, à Bloomberg. — Pode ser que exista, pode ser que apareça, mas não se sabe quando.
Se as taxas realmente começarem a subir este mês, em geral, seria uma boa notícia para os poupadores americanos e uma má notícia para os devedores lá.
 E aqui? como isso afeta a vida do brasileiro?
O pesquisador do Ibre/FGV Marcel Balassiano explica essa relação e diz que o principal impacto da alta dos juros americanos no dia a dia das pessoas deve ser sentido por meio da alta do dólar e o consequente reflexo disso no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, que em 12 meses até agosto acumulava 9,53%.

Manter a taxa básica de juros praticamente zerada é uma exceção na economia. Não é a regra. Juro zero é algo atípico, serviu para recuperar a força da economia americana. A elevação sinaliza uma normalização, que a economia se recuperou da crise, que cresce e que o desemprego diminui. E aumenta os atrativos para os investidores financeiros nos EUA. Mas a inflação ainda está muito fora da meta, que é de 2%, e isso pode ajudar a adiar a alta.

A alta dos juros nos EUA pode gerar uma fuga de capitais dos mercados emergentes. Não apenas do Brasil. Isso ocorre porque a elevação da taxa básica americana aumenta a atratividade dos títulos do governo dos Estados Unidos, que são de baixíssimo risco, provocando uma saída de dólares do país para investimento lá. Mas não é uma migração total.
O Brasil, por exemplo, paga juros muito alto e isso mantém o capital especulativo. Apesar disso, com a menor oferta de dólares aqui o real tende a se desvalorizar. Consequentemente, a alta da moeda americana deve ser refletida na inflação, uma vez que os custos de importação e de uma série itens da cadeia produtiva serão elevados.

A forte alta do dólar que tem sido observada é uma resposta do mercado financeiro à crise política e econômica brasileira. Ou seja, tem uma origem doméstica. O rebaixamento do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), que retirou o grau de investimento — um tipo de selo de bom pagador — do país complicou ainda mais o cenário no Brasil. Mas a decisão do Fed pode puxar o dólar um pouco mais para cima.

A expectativa é de que haja uma alta mais forte de imediato, com uma estabilização em seguida. A crise e o rebaixamento já puxaram muito o valor do dólar para cima e, talvez, a elevação dos juros não gere um impacto tão forte.

Provavelmente, o câmbio vai estar pior do que o projetado pela última pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada na segunda-feira, que era R$ 3,70. Neste caso, a alta dos juros nos EUA já está contemplada, uma vez que a elevação ainda este ano já era dada como praticamente certa. Mas, como o valor previsto na pesquisa é uma mediana, pode ser que a cotação seja mais alta no fim de dezembro.

O impacto direto de curto prazo é no câmbio. A Bovespa pode sentir de forma pontual, registrando uma baixa localizada.
A elevação da taxa de juros nos EUA não é um problema. O patamar muito baixo era uma exceção. E já se esperava que isso fosse acontecer. Mas não é o melhor momento para o país. A crise deixa o Brasil muito vulnerável. A forte desvalorização do real é fruto da crise. O risco país do Brasil, medido pelo CDS (Credit Default Swap, na sigla em inglês, uma espécie de seguro contra calote), está caminhando com o dólar.

O Banco Central veio subindo os juros como forma de combater a inflação. A última vez que o IPCA fechou o ano dentro da meta do governo, que é de 4,5%, foi em 2009, com uma taxa de 4,3%. Desde então, está sempre perto do teto da meta, que é de 6,5%. Este ano, a inflação deve ficar na casa de 9,5%, por causa dos preços administrados pelo governo, que têm um peso de 25% sobre o índice.
A alta dos juros pelo Fed deve pressionar ainda mais a inflação neste ano e em 2016, quando deve ficar na casa de 5,5%, mas cujas projeções vêm subindo.

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