sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ARMANDO AVENA - A BAHIA ENFRENTA A RECESSÃO

Fonte:Bahiaeconômica

 


Agora é oficial, a Bahia está em recessão e, no primeiro semestre de 2015, o PIB baiano registrou queda de 1,5% em relação ao primeiro semestre de 2014. Mas a recessão baiana é menor que a registrada em nível nacional, pois o PIB brasileiro recuou 1,9%, no mesmo período.

Quem impediu uma queda maior na economia do estado foi a Agropecuária, que cresceu 7,4%, mais que o dobro da economia nacional. Aqui vale destacar a produção de soja que será da ordem de 4,5 milhões de toneladas, um crescimento de 40% em relação ao ano de 2014, e representando quase 5% da produção nacional.

A Agropecuária cresceu porque a Bahia vai ter uma safra de grãos recorde em 2015, de cerca de 9 milhões de toneladas. Infelizmente, a produção agropecuária só reponde por cerca de 8% do PIB e o setor que mais gera produto, o setor serviços, responsável por 66% do total, caiu 1,3% e é essa queda que explica a alta taxa de desemprego na Região Metropolitana de Salvador, de 12,3%, a maior entre as seis principais regiões do país.

O setor serviços é capitaneado pelo comércio, que caiu 3,4% no primeiro semestre de 2015, e pelo turismo que, medido pelo desempenho do item alimentação e alojamento, apresentou uma queda de 4,1%. A situação no varejo baiano é tão grave que o dia da mães, tradicionalmente o segundo melhor período de vendas do ano, foi um dos piores da história. No primeiro semestre de 2015, as vendas de veículos caíram 11%, o item móveis e eletrodomésticos sofreu um baque de -12,7% nas vendas, e vestuário caiu quase 10%, sempre em relação ao mesmo período de 2014. E quem pensa que não se pode cortar no item alimentação se enganou, o setor de Hipermercados e Supermercados teve queda de quase 1,5% nas vendas.

Se o setor Serviços não foi bem, a Construção Civil foi pior e o PIB do setor registrou queda de 4,7%,  no primeiro semestre de 2015, o que resultou na eliminação de 20 mil empregos com carteira assinada, e aí está um bom pedaço da taxa de desemprego da RMS. Até junho só foram lançados em Salvador 294 unidades habitacionais, o que mostra o tamanho do problema, mas, apesar disso, a perspectiva é que o mercado imobiliário possa ter uma leve melhora no segundo semestre. A Indústria de transformação caiu 8,6%, queda maior que a nacional, com forte redução na produção de petróleo, petroquímica e metalúrgica. Mas houve crescimento na produção de automóveis e de papel e celulose, e aqui também as expectativas são melhores no segundo semestre por conta do aumento das exportações, vitaminadas pela alta do dólar. Esse é o quadro da economia baiana, com dados da Superintendência de Estudo Econômicos e Sociais, e peço que o leitor não mate o economista, ele é apenas o mensageiro.

                                      
                                  HÁ LUZ NO FIM DO TÚNEL

Perguntam-me se vejo luz no fim do túnel.  Respondo que sim, há alguma luz, vinda das exportações que começam a deslanchar, do preço dos produtos importados que estão explodindo, fazendo o consumidor voltar-se para os produtos nacionais, do dólar alto, que afugentou os brasileiros do exterior, e pode fazer crescer o turismo interno. A inflação, por outro lado, dá sinais de redução, mas será preciso ver o impacto da alta do dólar nos preços internos.

Há também o perigo de um retorno à política anterior de intervenção do estado para forçar o crescimento, que está no desejo e no DNA da Presidente Dilma, e a possibilidade do Ministro da Fazenda cair, o que só não aconteceu ainda pelo medo da perda do grau de investimento. Há luz no fim do túnel, mas por enquanto ela é tênue, mais por conta da incerteza política, do que pelo cenário econômico que, de uma forma ou de outra, começa a desanuviar
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                                  FRISCHTAK E A INDÚSTRIA FORTE      
 Um dos pontos altos do Seminário Indústria Forte,  uma promoção do Correio e Federação das Indústrias do Estado da Bahia, realizado está semana auditório da FIEB, foi a palestra do economista Claudio Frischtak. Sem afetação ou retórica desnecessária, Frischtak disse que o Brasil está no fio da navalha. Referia-se ao modelo de crescimento descrito por Harrod/Domar que produzia um fio de navalha, obrigando o pais a caminhar no limite. No Brasil de hoje esse limite é a possibilidade de um processo recessivo e com inflação em alta.

Frischtak afirmou que, sob o ponto de vista político, houve no país uma depredação do chamado Presidencialismo de Coalização e o colapso da confiança, gerando a possibilidade de perda do grau de Investimento. Segundo ele, num quadro como esse, existe até o risco de depressão e não adianta cortar 10 ministérios e acabar com mil cargos em comissão, é preciso muito mais que isso. Frischtak  está pessimista, disse que a tendência é o ajuste se estender por 2015 e 2016 e haver uma retomada frágil em 2017.

Lembrou que o mercado já está precifcando a perda do grau de investimento quando projeta o rendimento da NTN – Nota do Tesouro Nacional de 7% mais inflação, uma remuneração que inibe investimentos. Segundo ele, só existem duas possibilidades de recuperação: o setor externo, pois está havendo queda nas importações e crescimento das exportações e o Investimento de Infraestrutura, derivado do programa de concessões, especialmente em transporte e energia
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                                                        O QUE FAZER FRENTE À CRISE

E o que fazer frente à crise? Bom, em relação ao consumidor é preciso racionalizar as despesas, e fazer o que o governo não faz: só gastar o que o salário permite.  Mas, atenção, nos momentos de crise as vezes surgem oportunidades imperdíveis, especialmente para quem tem alguma disponibilidade de recursos. É o caso por exemplo  dos imóveis, cujo preço médio em Salvador nunca esteve tão barato. O preço médio dos imóveis nos bairros mais ricos de Salvador chega ser três vezes menor do que no Rio de Janeiro. É um convite ao investimento.

O mesmo se dá, por exemplo, em algumas concessionárias, onde existem promoções que reduzem em até 10% o valor dos automóveis vendidos. Já com relação ao empresário, é preciso dizer que empresário que tem medo de crise não pode viver no Brasil, afinal, há 30 anos o Brasil vive em crise, umas mais graves, outras menos. O que o empresário precisa fazer é se posicionar bem, reduzindo o custeio, mas preservando a mão-de-obra de qualidade, e se diferenciando, buscando novos mercados e fazendo promoções que atraiam o consumidor.

                                           A QUEM INTERSSA ENFRAQUECER A UFBA?
A Universidade Federal da Bahia está em greve há cem dias. Milhares de jovens estão em casa, adiando o futuro. Discute-se a inoportunidade da greve, mas a discussão deveria ser outra, focada na seguinte questão: a quem interessa enfraquecer a UFBA?  Que o governo federal tem pouco interesse em apoiar as universidades públicas e, ao invés de cortar recursos de ministérios inúteis, prefere cortar no orçamento do ensino superior, já se sabe. Que a greve, como instrumento de pressão política é, no caso especifico da universidades, ineficaz, já se sabe também, e, nesse sentido, ela tem o efeito de fortalecer as propostas para sua privatização.

Que o aparato político sindical que controla as assembleias que decidem a greve extrapolam os interesses de docentes e funcionários, ao colocar como reivindicações do movimento temas como a política econômica do governo e outros, ao invés de concentrar-se nas questões salariais e orçamentárias da universidade, já estamos cansados de saber.  Ora, se é assim, os dois lados parecem estar jogando no intuito de enfraquecer a Ufba e fortalecer  as teses que pregam a privatização total do ensino superior.  Enquanto isso, os jovens que desejam estudar e os professores que desejam ensinar, assistem a uma luta onde todo mundo perde
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