Em uma iniciativa inédita no Brasil,
duas empresas de setores distintos estão construindo usinas eólicas
próprias para atender parte da demanda de energia das fábricas. A
montadora Honda e a produtora de bebidas Brasil Kirin investiram cerca
de R$ 100 milhões, cada, para viabilizar a construção de seus
respectivos parques eólicos. Além de diminuir os gastos com energia e
garantir o fornecimento contínuo, as companhias ainda vão reduzir a
emissão de gás carbônico na atmosfera. Na avaliação de especialistas,
apesar de incipientes, as ações podem se traduzir em uma tendência.
“A política de energia elétrica está
causando insegurança para as empresas, que buscam alternativas para
diminuir a exposição às decisões do governo. Por conta dessa falta de
confiança, a autoprodução é, sim, uma tendência”, apontou o diretor do
Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
A garantia no fornecimento de energia para 30% da produção foi uma
das três principais motivações que levaram a Brasil Kirin a se unir à
empresa portuguesa Tecneira e investir R$ 125 milhões para possibilitar a
construção do parque eólico com capacidade de produzir 30 MW/ano no
município de Acaraú, no Ceará. “Não depender do governo, diminuir a
emissão de carbono em 30 mil toneladas por ano e otimizar o custo. Esses
são os três principais objetivos do projeto”, disse o gerente de
Desenvolvimento de Operações da Brasil Kirin, Newton Santana.
O Diretor Executivo da FGV Energia,
Carlos Otavio Quintella, acredita que o atual cenário de incertezas no
setor energético, agravado com as mudanças regulatórias da MP 579,
trouxe uma nova perspectiva para o desenvolvimento de fontes
alternativas. Os baixos volumes de armazenamento nos reservatórios e o
consequente acionamento das termelétricas inflaram o preço da energia no
mercado à vista, que deu um salto de 44% nos últimos oito meses,
negociado a R$ 700 o MW/h. Já o custo do MW/h da energia produzida pela
usina da Brasil Kirin, por exemplo, deve ficar “um pouco acima de R$
130”, de acordo com Santana.
A previsão da Honda Energy, subsidiária
da Honda Motors, é reduzir os gastos com energia em 40% após a
inauguração da sua usina eólica, localizada em Xangri-lá, no Rio Grande
do Sul. Construído para abastecer a produção da fábrica de Sumaré, no
interior de São Paulo, com capacidade para produzir 120 mil automóveis
por ano, o parque eólico custou cerca de R$ 100 milhões e vai gerar 95
mil MW/ano. “Com o projeto, a empresa deixará de emitir anualmente 2,2
mil toneladas de dióxido de carbono”, afirmou o presidente da Honda
Energy do Brasil, Eigi Miyakuchi.
O professor do Instituto de Energia e
Ambiente da Universidade de São Paulo José Goldemberg destaca que grande
parte da diminuição de custo se deve ao desconto de impostos na conta
de luz, vantagem dos autoprodutores. “Entre taxas estaduais e federais, a
redução na conta é de aproximadamente 40%. As companhias podem ter de
pagar uma pequena quantia pelo serviço de transmissão. É uma ótima
iniciativa, mas ainda incipiente para sinalizar uma tendência”, avaliou.
A opinião é compartilhada por Quintella,
da FGV. “Temos somente os primeiros projetos de empresas que investem
em usinas próprias no país. Portanto, ainda é cedo para responder de
forma categórica se é uma tendência. O que se sabe é que existe um apelo
de marketing pela utilização de selo de energia limpa e renovável na
fabricação de produtos, o que poderá, em maior ou menor escala,
contribuir para a viabilidade econômica do investimento realizado.”,
avaliou. Vale destacar que a autoprodução representa cerca de 10% de
toda a energia elétrica consumida no Brasil. De acordo com a Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), é esperado que esse percentual chegue a 15%
até 2022.
As duas empresas têm intenção de
expandir o projeto de autoprodução, mas ainda não elaboraram um
planejamento formal. “Não é um segmento fácil de operar. Nossa meta
principal é colocar esse primeiro parque para funcionar e aprender a
trabalhar com a geração de energia de grande porte”, disse Santana, da
Brasil Kirin. A inauguração da usina de Acaraú deve atrasar cerca de um
ano – a nova previsão é para outubro de 2015. “Tivemos de rever o
investimento, que aumentou em cerca de 25%. Além disso, a volatilidade
do mercado de energia afetou alguns processos burocráticos, como a
concessão de outorgas”, justificou Santana.
A Honda, que pretende iniciar a produção
de energia do parque em Xangri-lá na segunda quinzena de novembro,
conforme o cronograma, também tem intenção de ampliar a operação para
atender à demanda de uma segunda fábrica. “Mas agora estamos focados em
implantar este primeiro projeto”, disse Miyakuchi.
Fonte: Brasil Kirin
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