quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Vice-presidente do Bahia revela acordo para ficar com CTs

Qua, 22/10/2014 às 08:00

Vice-presidente do Bahia revela acordo para ficar com CTs

Vitor Villar

  • | Ag. A TARDE
    Valton Pessoa, vice-presidente do Bahia
negociação e o que será feito a partir de agO Bahia assina nesta quarta-feira, 22, um acordo com a construtora OAS para ficar com o Fazendão e ainda adquirir a Cidade Tricolor - novo centro de treinamentos, construído em Dias D'Ávila - pelo valor de R$ 23,6 milhões. Trata-se de uma revisão do negócio original, realizado por Marcelo Guimarães Filho, que visava a permuta do antigo CT pelo novo. Além de entregar o Fazendão como forma de pagamento, o Tricolor arcaria com mais R$ 12 milhões - hoje, corrigido, esse valor ficaria em torno de R$ 15 milhões. A renegociação só foi possível depois que o Bahia alinhou com a prefeitura o recebimento dos Transcons (Transferência do Direito de Construir) referentes à desapropriação da antiga sede de praia do clube. A moeda será usada como parte do pagamento e o restante será parcelado em dez anos. Os detalhes da ora foram revelados pelo vice-presidente do clube, Valton Pessoa, em entrevista exclusiva para o A TARDE.


Qual é a atual situação patrimonial do Bahia?
Não temos nenhum CT e nenhuma propriedade no nome do clube porque o Fazendão pertence à OAS e a Cidade Tricolor, como o Bahia não pagou os R$ 12 milhões, ainda não foi passada para o nome do clube. Ou seja, por conta dos acordos que foram feitos em gestões passadas, o Bahia não tem hoje nenhum título de propriedade.
Por que isso aconteceu?
Na verdade, não houve uma permuta. O Bahia vendeu o Fazendão por R$ 14 milhões e comprou o novo CT por R$ 26 milhões. Restou uma diferença de R$ 12 milhões para ser paga. Além disso, o terreno em Dias D'Ávila seria pago com 25% dos Transcons que receberia. Ficamos sem o Fazendão e também sem condições de pagar os R$ 12 milhões para ter o outro CT. O que nós fizemos foi tentar recuperar isso, refazer esses acordos para ter os dois. Ao mesmo tempo, tentamos viabilizar o recebimento dos Transcons, que era algo que também estava emperrado.
Como foi a renegociação?
Entendemos que a situação não era razoável para o Bahia, já que o clube estava sem patrimônio algum. Decidimos que, se a Cidade Tricolor fosse adquirida pelo clube, o Fazendão seria devolvido. Assim, fizemos uma cotação do CT (R$ 23,6 milhões), pagaremos esse valor e vamos ficar com os dois. Arcaremos com uma parte - 58% (13,6 mi) - em Transcons e o restante (R$ 10 mi) ao longo de dez anos. Serão dez parcelas anuais de R$ 1 milhão. Esse valor inclui o terreno. E o Bahia ainda ganha um terreno que dará acesso ao Fazendão direto pela pista principal de São Cristóvão, o que vai valorizar muito mais o imóvel.
Já que será usado como parte do pagamento, esse recebimento dos Transcons já está fechado com a prefeitura?
Ainda não, mas está bem adiantado. O que precisamos é definir apenas  a dívida do Bahia com a prefeitura, para que isso seja deduzido do crédito de Transcons que vamos receber. Até o final do mês chegaremos a um acordo nesse sentido. Mas esse entendimento com a prefeitura e o com a OAS não dependem uma da outra. Por isso, vamos assinar logo com a OAS nesta quarta.
E de quanto seria esse valor em Transcons e quanto seria descontado de dívidas?
O valor pela desapropriação é de R$ 39 milhões em Transcons. Disso, seria descontada a dívida do Bahia com o município, algo em torno de R$ 9 ou 12 milhões.
E quanto deve sobrar para o clube, afinal?
Eu acredito que algo em torno de R$ 7 milhões, mas vale lembrar que é em Transcons, não dinheiro. Ao negociar com o mercado imobiliário, não vai dar exatamente R$ 7 milhões em moeda corrente. A ideia é tentar esse ano ainda conseguir a negociação para finalizar o ano sem deixar dívida para a próxima gestão.
Qual o estágio atual da Cidade Tricolor?
Não está mobiliada ainda e nem equipada, mas está pronta. A OAS vem fazendo a manutenção durante esse tempo e vai continuar fazendo até março. É um CT de primeiro mundo. Visitei vários outros centros e esse não deixa a desejar para nenhum outro no mundo, não.
O que o Bahia pretende fazer com a Cidade Tricolor e com o Fazendão?
A gente chegou a discutir isso e houve divergência. O ideal, ao meu ver, seria ficar com o Fazendão para o profissional e deixar as outras categorias na Cidade Tricolor. Mas é  tem muita coisa para avaliar.
Como um clube com dívidas e problemas financeiros vai administrar dois CTS?
Como disse, é um desafio do novo presidente. Mas isso pode ser viabilizado sem problemas por um novo gestor. Buscar parcerias, convênios, tem aí a lei de incentivo ao esporte que pode ajudar, tem negociação de naming rights com uma empresa... Pode-se fazer uma parceria com as prefeituras de Camaçari e de Dias D'Ávila por exemplo, para ser um centro de esporte e lazer. É um desafio para uma nova gestão.
Por que a construtora aceitou voltar atrás do acordo?
Tudo na vida pode ser negociado e renegociado. As coisas mudam, a situação de 2012 não é a mesma de agora, seja do Bahia ou da empresa. As pessoas mudam, os dirigentes também. Enfim, houve uma sensibilidade de todo mundo. A empresa entendeu que não adianta fazer acordo com alguém que não pode cumprir.
Você andou afastado das decisões do Bahia e agora voltou com essa informação. Estava trabalhando nos bastidores?
Eu saí da administração para focar nesse assunto, porque é um tema complexo. Imagine que estamos negociando isso desde o ano passado. Eu nunca fui diretor de futebol, o Bahia sempre teve esse diretor. Eu apenas auxiliava, mas não dava mais para conciliar as coisas. Além disso, a função do vice-presidente é apenas substituir o presidente e eu já estava ajudando em mais do que isso.
Mas esse afastamento  lhe rendeu várias críticas...
Às vezes a gente tem que se sacrificar por um bem maior para o clube. Eu estava esse tempo todo com a consciência tranquila, estava fazendo muito mais do que estatutariamente era obrigado, mas sempre por amor pelo clube. As críticas sempre existem, mas o importante é o trabalho que foi realizado.
As eleições no Bahia são em dezembro. Você vai concorrer para a presidência?
Eu não tenho interesse na eleição do Bahia. Eu me disponho a ajudar o clube, mas não quero mais cargo de diretor. Continuarei ajudando qualquer que seja o presidente. Hoje, tenho um conhecimento bom do clube, do futebol, do grupo de jogadores, do patrimônio. Mas não vou concorrer.
Mas a situação já definiu um candidato?
Não. Pelo meu conhecimento, a diretoria atual está preocupada somente em manter o clube na Primeira Divisão.
Você, Sidônio Palmeira e Fernando Schmidt, os três homens fortes da atual diretoria, devem apoiar a mesma chapa?
Como disse, eu estou afastado do dia a dia do clube e nós três não temos nem conversado sobre esse assunto.
Ainda falando sobre a eleição, o clube proibiu recentemente a associação de novos torcedores. Por que essa decisão?
Foi uma decisão do conselho que a diretoria pôs em prática. É para evitar que um torcedor oportunista se associe apenas para votar. Também para evitar que algum interesseiro consiga viabilizar a sua eleição apenas pelo seu poder financeiro.
Mas isso não fere a política de democracia da atual gestão?
Acho que a posição do conselho foi positiva. Logo após as eleições, o torcedor pode voltar a se associar normalmente. É uma questão de ponto de vista.  Eu não participei dessa discussão, mas compreendo as razões da decisão e também compreendo quem acha que não é positiva. O propósito é louvável, de evitar que oportunistas se aproximem do Bahia às vésperas da eleição, mas respeito quem pensa diferente.
A atual gestão sempre diz que pegou um Bahia em situação caótica. Que clube vai ser entregue no final do ano?
Espero que um clube na Primeira Divisão. Entregamos um clube campeão baiano, que recuperou sua credibilidade com funcionários, atletas e empresários. Um clube com patrimônio, porque sem patrimônio um clube não vai vingar. Hoje, além do título estadual, o maior prêmio que a diretoria pode apresentar é a recuperação do Fazendão e a viabilidade de um novo CT. Com isso, o Bahia passa a ser diferenciado no mercado.

Nenhum comentário: