Em economia não há almoço grátis, por isso o modelo de negócio que hoje controla o carnaval de Salvador nunca deu importância ao justo protesto dos que sempre lutaram pelo fim das cordas, que espremem os foliões nas ruas que são de todos. Não poderia ser de outra maneira, afinal a mais espetacular das orgias humanas transformou-se numa máquina de fazer dinheiro, gerar renda e criar emprego, tornou-se uma indústria que produz e vende bens simbólicos e não simbólicos e dinamiza diversos setores economia. Esse mercado curva-se somente aos apelos do lucro, o verdadeiro rei momo, e é ele que está mudando o carnaval da Bahia. Em artigo no ano passado, este escriba já dizia que o carnaval de Salvador não era mais o tradicional carnaval participação, havia se tornado também um carnaval espetáculo, que apresentava atrações musicais e alegóricas que o transformaram num show que encantava a mídia televisiva e demandava arquibancadas e camarotes para o público que quer a festa com segurança e muito conforto. Esta semana Paulo Miguez, especialista na economia do carnaval, reafirmou essa nova tendência ao perceber que as cordas estão começando a dividir espaço com o trio aberto, que agora desce a avenida sob a égide dos grandes patrocínios. O mercado percebeu enfim que o trio "pipoca" poder ser tão ou mais lucrativo quanto o bloco de cordas e que os camarotes patrocinados podem ser a nova mina de ouro do modelo. Não há motivo para agonias, pois no sistema capitalista tudo é processual, não se destrói nada de imediato, por isso, durante algum tempo ainda vamos conviver com ambos os modelos de exploração da festa. Mas aqui vale lembrar o alerta de Miguez, pois, embora em transformação, o carnaval de Salvador permanece com a mesma lógica concentradora. É inevitável que isso aconteça no âmbito do mercado capitalista, mas é aí que entra o papel do poder público, principalmente da Prefeitura de Salvador, no sentido de ordenar o processo, evitar os excessos, e estimular a diversidade de manifestações e de circuitos, sempre preservando a cultura e a história da cidade da Bahia.

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