A diversidade foi a marca do Carnaval de Salvador este ano. E a diversidade, já disse o poeta, é o condimento da vida. Foi bom ver a festa tornar-se múltipla e misturar o samba, o axé, o arrocha, o pagode, os blocos afros e todo tipo de manifestação musical. Há quem não goste de tanta mistura, mas afinal, alguém já disse que "o bosque seria muito triste se só cantassem os pássaros que cantam melhor." O carnaval está se misturando, mantendo a participação, mas tornando-se também espetáculo. Foi bom ver a cordas no chão e os trios, seus artistas e patrocinadores vão cada vez mais pô-las no chão. Foi bom ver o povo negro da Bahia agigantar-se no circuito e a ideia de Carlinhos Brown de criar o Afrodómo, sem discriminações, é interessante. E, vale dizer, nada contra um carnaval de alegorias, como, aliás, já foi um dia o carnaval da Bahia com Cavalheiros e Mercadores de Bagdá. Claro, as cordas ainda vão lotear o espaço público por muito tempo, por isso, é preciso que o poder público discipline e localize essa forma de manifestação e que garanta a todos o acesso à festa, mas seria ingenuidade sonhar com um carnaval não capitalista, no caldeirão do capitalismo. Não há como evitar a diferenciação que o poder econômico estabelece no Carnaval, pois essa diferenciação é própria do sistema. Há, sim, que garantir a participação de todos, em todos os circuitos. Foi bom também ver que o governo do Estado e a Prefeitura de Salvador formaram uma parceria e que o resultado foi satisfatório levando-se em conta a grandiosidade do evento. Eu sei, muitos, como eu, sentem saudade dos carnavais do passado, mas, como dizia Cervantes, “seja passado o passado: tome-se outra vereda e basta.” Na verdade, quem deseja resgatar o passado, seja no carnaval ou na vida, está, na verdade, querendo resgatar a juventude, que sempre é o melhor de nós, por isso o passado parece sempre melhor. Mas a juventude não volta, portanto, tome-se outra vereda e vamos construir em 2013 um carnaval diferente, mais criativo e mais diverso ainda.
As eleições municipais deram a Salvador a melhor Câmara dos Vereadores dos últimos anos. Pode não ser a Câmara ideal, mas tem nomes competentes e comprometidos com a causa pública, afinal, são poucas as assembleias brasileiras que podem ter em plenário um político como Waldir Pires – ex governador, ex ministro e que dedicou sua vida à causa pública – ou como Edvaldo Brito, ex prefeito e tributarista respeitado, ou mesmo uma nova liderança, como Paulo Câmara que a preside. Muitos outros nomes poderiam ser citados, mas restrinjo-me aos símbolos da Casa, pois, na verdade, minha intenção é lembrar a responsabilidade dessa assembleia que precisa votar com urgência uma reforma tributária que dê mais autonomia a cidade, um PDDU realista que permita que ela cresça de forma responsável e uma reforma administrativa e urbana que a coloque no século XXI.
A BAHIA E A PONTE
Já tive oportunidade de dizer nesta coluna que sou inteiramente favorável a construção da ponte Salvador-Itaparica e fui o primeiro a dizer que ela custaria em torno de R$ 6 bilhões. Não tanto pela solução no transporte entre o continente e a ilha, isso o sistema ferry-boat pode resolver com a vinda de novas embarcações e com uma gestão eficiente, mas, principalmente, por viabilizar mais um caminho econômico para Salvador, que gera 25% do PIB baiano e precisa amplia suas inter-relações. Salvador é uma península que possui apenas duas saídas terrestres, pela BR 324 e pela Linha Verde, assim a ideia de criar uma terceira via, o chamado sistema viário do Oeste, é economicamente importante. O problema é a engenharia financeira do projeto, afinal qualquer um sabe que um projeto dessa magnitude não se viabiliza com pedágio, ou com recursos públicos. Tome-se, por exemplo, o projeto do Porto Maravilha, que vai modernizar a área portuária do Rio de Janeiro, ao custo de R$ 8 bilhões. Para viabilizar esse projeto, a prefeitura criou um fundo imobiliário e vai permitir, entre outras coisas, a construção, de cinco torres monumentais com 150 metros de altura e 38 andares cada, as chamadas Trump Towers Rio, do magnata americano Donald Trump. Pode o leitor imaginar algo semelhante em Salvador, onde conseguir liberação para construir uma marina é um ato de heroísmo. A ponte Salvador-Itaparica é um projeto grandioso e sua consecução terá de admitir soluções grandiosas. Sua construção, ou não, dirá se Salvador quer permanecer uma cidade bucólica, agradável e provinciana ou torna-se um cidade mundial.
A BAHIA E OS CANTEIROS
A Bahia está perdendo oportunidades de gerar emprego e renda com o atraso na implantação de três canteiros produtores de módulos offshore que foram anunciado pelo governo do estado em 2011.
A demanda é crescente, mas o canteiros não podem ser implantados, pois a licença ambiental não sai. Em 2012, por exemplo, a Petrobras licitou oito plataformas offshore, chamadas de replicantes, e agora mais duas plataformas, ambas para o pré sal, serão construídas, o que significa mais de 200 módulos a serem fabricados ao longo de 2013. Os canteiros de módulos da Bahia poderiam participar do processo, mas a demora na liberação da licença prévia para sua implantação, solicitada há mais de um ano, impede o setor de deslanchar. Esses canteiros estão localizados ao lado da antiga Fábrica de Cimento Aratú, e, quando em operação, vão gerar juntos mais de 3.000 empregos diretos na Região Metropolitana de Salvador e dinamizar toda a região.
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