segunda-feira, 12 de setembro de 2011

'Vamos cobrar grandes investimentos'

 Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo , o grande desafio do setor é ter uma infraestrutura em todo o País, com fibra óptica e outras tecnologias
A meta do governo de conectar 40 milhões de domicílios com banda larga até 2015 já consta do Plano Plurianual (PPA), que estabelece os programas e projetos de longa duração. Além desse objetivo, oriundo do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o governo também quer que, até lá, 32% das residências tenham acesso ao serviço de TV paga. Esse objetivo consta do PPA, e também a meta de conectar todas as escolas públicas rurais com banda larga, como foi feito com as escolas urbanas. "Temos de começar a quitar essa dívida que temos com o campo", destacou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao Estado.

Outra frente de atuação é a construção de uma rede integrada na América do Sul para, entre outros objetivos, baixar o custo do roaming internacional e o fechamento de parcerias para que o continente tenha novos cabos submarinos para os Estados Unidos e Europa. Durante a Futurecom, que começa hoje, haverá uma rodada de negociações do Brasil com as delegações dos países vizinhos para discutir a proposta, que deve ser apresentada durante o encontro da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), no fim de novembro. Abaixo, os principais trechos da entrevista.


Como o senhor avalia o setor de telecomunicações daqui para a frente?
Colocamos no Plano Plurianual o que nós estamos projetando para os próximos anos. Nós queremos chegar a 40 milhões de domicílios conectados à banda larga até 2015, que é o fim do PPA. Hoje, só 17 milhões de casas estão conectadas. Também queremos atender todas as escolas públicas rurais com banda larga, ter 70% da população fazendo uso da internet e atingir 32 assinaturas de TV paga por 100 domicílios.

Quais são os caminhos para alcançar essas metas?

Acho que o grande desafio que temos para atingir esses objetivos é ter uma infraestrutura presente em todo o País, em alguns casos de fibra óptica e em alguns casos de outras tecnologias, como rádio. Mas a verdade é que temos de ter oferta e disponibilidade de serviço com preço módico em todo o território nacional. É por isso que o governo adotou algumas medidas e está adotando outras. A partir de 1.º de outubro, as empresas vão começar a oferecer internet a R$ 35, dentro do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), conforme o termo de compromisso que fizemos. Isso é só o ponto de partida. A nossa previsão é de que, em 2014, vai haver um porcentual expressivo dos internautas conectados com 10 ou mais megabits por segundo de velocidade. Só os leilões de 4G (telefonia celular de quarta geração) que vamos fazer vão colocar aparelhos no mercado que podem funcionar com velocidade de 100 megabits por segundo.

Como resolver a deficiência das telecomunicações nas áreas rurais?

Uma coisa importante que queremos fazer é internet e telefonia rurais, que nesses anos todos ficaram para trás. Vamos fazer uma licitação no ano que vem. Temos de começar a quitar essa dívida que temos com o campo. Eu diria que, numa sociedade cada vez mais baseada no conhecimento, ter acesso à informação e conexão rápida com o mundo é absolutamente vital, para o Brasil continuar crescendo e se desenvolvendo. Já conectamos as escolas urbanas (com banda larga), agora vamos conectar as rurais. O Ministério da Educação está com um plano grande de informatização, com uso de tecnologias novas na escola.

 
Como é esse plano?

Por exemplo, vão começar a fazer distribuição de tablets. Isso, gradativamente, vai substituir o livro didático. Hoje são distribuídos livros, com uma logística imensa em todo o território nacional. As crianças têm de andar com um volume enorme de livros, o que é pesado. Com as novas tecnologias, o estudante, então, vai andar com um tablet em uma mochilinha menor e ter muito mais facilidade para usar o material didático.

As empresas serão cobradas para fazer mais investimentos?

Vamos cobrar das empresas grandes investimentos. Tem de ter investimentos para dar conta da demanda, do número de pessoas que querem ter internet e não têm. E, à medida que você atende a demanda de internet, as vendas de computadores, tablets e outros dispositivos aumentam. Também tem de melhorar a qualidade. Vamos votar os regulamentos de qualidade agora em outubro, o que vai ser um avanço significativo nos próximos anos.

Como estão as negociações para a construção de uma rede integrada na América do Sul?

Essa é uma proposta que estamos trabalhando e na Futurecom vamos fazer reuniões com ministros das delegações da Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia e, provavelmente, mais países, porque começamos uma discussão sobre integrar toda a América do Sul com redes de telecomunicações. Houve uma reunião com os ministérios do planejamento, preparando para a reunião da Unasul em novembro. Vamos para essa reunião, propondo também reunir os ministros de comunicações, para tirar de lá uma política para conectarmos com redes de fibra óptica ou com satélite toda a América do Sul.

Em que prazo?

Nos próximos quatro anos. Não dá para ficar esperando. Com a Argentina, Uruguai e possivelmente o Paraguai, vamos fazer uma parceria inclusive para ter novos cabos submarinos internacionais. Queremos fazer uma ligação nova com os EUA e uma ligação com a Europa. Como nós comunicamos a esses países que íamos fazer esses investimentos, Uruguai e Argentina já manifestaram que querem entrar junto conosco. Querem ajudar financeiramente e, evidentemente, ter gestão e compartilhar o tráfego. Todas essas iniciativas vão baratear o nosso tráfego internacional, a transmissão de voz e de dados.

Com essa iniciativa, o preço do roaming internacional será reduzido?

Uma das coisas que nós queremos é baixar esse roaming, que é, na minha opinião, absurdamente alto. Fui para a Argentina, fiquei dois dias, depois fiquei dois dias em Portugal e dois dias na Itália, tudo em um mês só. Quando voltei, como pagar essa conta? Tive de parcelar. Eu não uso mais. Fui para outros lugares e não uso mais. É um absurdo. Temos de baratear para as pessoas usarem. Nós temos de resolver isso. E uma coisa é ter infraestrutura de telecomunicações com esses países. Com capacidade de transmissão, pode ser barato. E uma questão fundamental para a integração dos países é falar e transmitir dados com preços mais módicos. Pode ser um pouco mais caro que a média nacional. Todo mundo vai achar normal, mas não pode ser esse escândalo. Nossa ideia é ir fomentando isso até o final de novembro, fazer uma reunião com todos os ministros da América do Sul e tirar um plano de investimento para o conjunto.

QUEM É

Tomou posse como ministro das Comunicações em 1º de janeiro. De 2005 a 2010, foi o responsável pela pasta do Planejamento. Deputado federal pelo PT do Paraná por três legislaturas, também esteve à frente da Secretaria de Fazenda do Mato Grosso do Sul e da Secretaria de Fazenda do município de Londrina.

Metas

"Queremos chegar a 40 milhões de domicílios conectados à banda larga até 2015. Hoje, só 17 milhões estão conectados."

"Tem de ter investimentos para dar conta da demanda, do número de pessoas que querem ter internet e não têm. E, à medida em que se atende a demanda, tem de melhorar a qualidade."




Autor(es): Karla Mendes
O Estado de S. Paulo - 12/09/2011.

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