A companhia aérea Gol
anunciou ontem um investimento de US$ 6 bilhões na compra de 60 aviões da
Boeing. É maior encomenda, em número de unidades, que uma companhia aérea já fez
na América do Sul. Os aviões são do modelo Boeing 737 MAX e começarão a ser
entregues em 2018.
"A decisão de encomendar os Boeing 737 MAX vem em linha com o nosso
compromisso em manter uma frota moderna. O novo avião será um dos equipamentos
com o melhor custo-benefício do mercado, o que condiz com nosso modelo de
negócio low cost (baixo custo)", disse o presidente da Gol, Paulo Kakinoff. A
forma de financiamento dos pedidos ainda não foi definida, afirmou Kakinoff.
Como se trata de uma encomenda de longo prazo, o caixa da empresa não será
afetado imediatamente.
A Gol fechou a compra no mesmo ano em que pisou no freio no seu plano de
expansão. A empresa cortará a oferta de assentos entre 6,5% e 7% durante todo o
ano, segundo Kakinoff. Ele afirmou também que a Gol não definiu ainda se
continuará a reduzir a oferta no próximo ano.
A compra de 60 aeronaves da Boeing, com fluxo de entrega de longo prazo, dará
mais flexibilidade para a Gol administrar sua oferta de assentos. A empresa
ainda não definiu se as aeronaves encomendadas serão usadas para ampliação de
frota ou substituição de aviões mais antigos.
A encomenda de aeronaves logo após uma retração na oferta de voos dá sinais
ao mercado de que a empresa reafirma sua estratégia de longo prazo para o
Brasil, disse Nelson Riet, consultor em aviação e ex-diretor de operações da
Varig. "A empresa precisa de um avião novo e econômico para manter sua
estratégia de baixo custo no futuro."
Segundo o vice-presidente técnico da Gol, Adalberto Bogsan, o anúncio reflete
a decisão da empresa sobre o tipo de equipamento que usará nos próximos 15 anos.
A frota atual da Gol é formada por modelos Boeing 737-700 e 800 Next Generation.
Essas aeronaves não têm autonomia para realizar um voo de longa distância,
como do Brasil para a Europa ou para os Estados Unidos, sem escalas. Apesar de
estudar voos para o exterior, a empresa disse que não pretende comprar aeronaves
maiores. "Vamos continuar fazendo voos diretos no Cone Sul ou para a América do
Norte com uma escala. Vamos manter a padronização do nosso plano de frota com um
tipo de aeronave, o 737", disse Kakinoff.
O plano de frota da empresa, por enquanto, está definido apenas até 2014.
Atualmente, a Gol possui 128 aeronaves; em 2013, serão 135 e, em 2014, 140.
Rumor. A informação de que a Gol convocou a imprensa de última hora para
fazer um anúncio após o fechamento do mercado provocou especulações de que os
executivos poderiam comunicar a venda de uma fatia da empresa. A ação da Gol
subiu 10,63% no pregão de ontem, a segunda maior alta do Ibovespa. O índice
fechou em alta de 0,67%.
"Muitos investidores acharam que se tratava de um anúncio de fusão ou
aquisição. Por isso a ação subiu tanto", disse um analista, que pediu para não
ser identificado.
Kakinoff classificou como "especulação" as notícias de que a venda de parte
da companhia estaria sendo negociada. A companhia aérea negou no início de
setembro que negociasse sua venda para a Qatar Airways.
Os rumores sobre a possibilidade de venda da empresa começaram após a
companhia registrar um prejuízo de mais de R$ 700 milhões em 2011. O presidente
da Gol afirmou que a companhia deve fechar este ano também no vermelho, mas que
esse é um "cenário transitório".
As companhias aéreas estão tentando repassar para as tarifas o aumento de
custos que tiveram desde o ano passado, principalmente com combustível. Mas têm
enfrentado dificuldades neste processo.
O desempenho dos yields (indicador de tarifa) da Gol permanece estável desde
o segundo trimestre deste ano, disse Kakinoff. "Há uma estabilização no mercado
tanto de demanda de passageiros quanto nos yields. Há pequenas variações
positivas, mas nada ainda que possa ser qualificado como uma recuperação de
fato."
Autor(es): SILVANA MAUTONE, MARINA GAZZONI.
O Estado de S. Paulo - 02/10/2012.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário