Revista Muito entrevista o Secretário Ney Campello
Fonte: Revista Muito
O alerta vermelho piscou há 10 dias nos corredores da Secopa, a Secretaria Extraordinária para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, criada pelo Governo da Bahia para coordenar a preparação da cidade para o Mundial. A partir de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo, a imprensa esportiva brasileira se ouriçou com a notícia de que a FIFA havia definido a cidade de São Paulo para realizar o jogo de abertura da competição. Obtida sem referência à fonte, a informação frustraria a Campanha Abre a Copa Salvador, encampada pelo governo baiano em conjunto com empresários e organizações integrantes do Salvador Convetion Bureau, entidade voltada à atração de congressos e turismo de negócios. Rapidamente, a Confederação Brasileira de Futebol divulgou uma nota desmentindo a decisão e estabelecendo o dia 29 de julho para o anúncio finalmente ser feito. Ao menos até lá, perdura a esperança de Salvador, Brasília e Belo Horizonte, demais cidades candidatas à abertura, de tirar da favorita São Paulo o jogo mais desejado depois da final. Na Bahia, o responsável por tentar conseguir o feito é o Secretário Ney Campello, titular da Secopa, que garante: Salvador continua na disputa. Em entrevista à Muito, ele apresenta os motivos para acreditar na cidade e afirma que o Estado mostrou força política com a candidatura. “Ao ter se posicionado, a Bahia sentou à mesa. Descemos da arquibancada e estamos no campo, jogando o jogo”. Campello também analisa o andamento das obras e toca em dois temas espinhosos: a venda do Barradão caso o Vitória decida mandar jogos na nova Fonte Nova e a pressão dos empresários de ônibus a favor do BRT (sistema de corredores de ônibus): “Claro que há lobby. Mas, o governo não tem relação nenhuma com esses empresários”.
O senhor acredita que Salvador, realmente, tem chances de abrir a Copa de 2014?Acho que temos toda legitimidade para o pleito. Digo que também tem chance , sabendo que é uma decisão da Fifa, que será tomada a partir da análise de diferentes critérios: estádio, mobilidade, segurança, porto, aeroporto, hotelaria, serviços.
Porque não nos vemos num segundo plano?
Primeiro, Salvador e a Bahia possuem uma simbologia de ordem cultural e histórica incomparável, que é o fato de sermos terra-mãe deste País. A Bahia é a cara da diversidade brasileira. Em segundo lugar, tem ligação com a África, que fez a última Copa. Como diz nosso ialorixá mãe Stella de Oxossi, um chute que sai da África para cair no Brasil só poderia cair na Bahia. É a transição perfeita entre a Copa na África e a cidade mais negra fora do continente africano.
Critérios objetivos, como mobilidade e segurança, não dificultariam esta pretensão?A decisão da Fifa não é estritamente na análise disso. Tenho conversado com o staff do comitê de organização, e eles me dizem que, por exemplo, a característica de patrimônio cultural e natural interfere na decisão. Não posso declinar a fonte do staff que me confidenciou, mas há no ambiente de quem vai decidir um apelo importante para esses elementos. Do ponto de vista das ações, nós temos uma situação de avanço: o estádio.
Onde eu enxergo a posição mais crítica?
Na mobilidade urbana. Aeroporto e porto são outros desafios. No caso do aeroporto, quem tem recursos de R$ 45 milhões, acho que precisamos brigar por mais. E isso nós temos feito. Já o porto tem uma grande vantagem, que é estar a um quilômetro do estádio em linha reta. Significaria 23 mil leitos adicionais de alto padrão flutuantes. Se uma intervenção que está nos projetos da Secretaria de Cultura for viabilizada, quem é uma passarela entre o Terreiro de Jesus e o bairro da Saúde, a pessoa sai no porto, pega o Elevador Lacerda, vai ao Terreiro de Jesus, pega a passarela e sai na rua do estádio. Mas o estado tem o pensamento de que, em vez de transformar os dois armazéns em terminal de passageiros e terminal turístico – a proposta da Codeba -, devemos tirar dois desses armazéns, abrir a relação do continente com o mar, formar uma esplanada em toda aquela região.
Aumentaria muito o custo? Foi apresentada uma proposição que faz com o dinheiro assegurado, R$ 36 milhões. Só que foi apresentada como projeto conceitual. Tem de virar projeto básico para confirmar investimento e cronograma.
Observadores apontam que a candidatura de Brasília, Belo Horizonte e Salvador tem sido usada por CBF e Fifa para pressionar São Paulo a definir sua situação.
Não vejo absolutamente nenhuma correspondência. Quem faz esse raciocínio, essa análise política, é espírito comum. O lobby paulista é forte, e Salvador incomoda. Enquanto a Fifa não decidir, estaremos lutando. O governador já pediu também a abertura ou o encerramento da Copa das Confederações, por uma razão absolutamente plausível: não vai ter estádio em São Paulo em junho de 2013. Não temos nenhum compromisso que nos transforme em massa de manobra, vamos é buscar a ampliação da Campanha em nível nacional. Pretendemos mobilizar depoimentos de baianos e brasileiros que consideram justa a nossa causa, ex atletas, como Bebeto, Aldair, Júnior, Vampeta, Dida. Vamos procurar João Ubaldo, Gilberto Gil, Caetano Veloso. O próximo alvo é associar com o São João, que a Bahia vende hoje como produto nacional.
Não vejo absolutamente nenhuma correspondência. Quem faz esse raciocínio, essa análise política, é espírito comum. O lobby paulista é forte, e Salvador incomoda. Enquanto a Fifa não decidir, estaremos lutando. O governador já pediu também a abertura ou o encerramento da Copa das Confederações, por uma razão absolutamente plausível: não vai ter estádio em São Paulo em junho de 2013. Não temos nenhum compromisso que nos transforme em massa de manobra, vamos é buscar a ampliação da Campanha em nível nacional. Pretendemos mobilizar depoimentos de baianos e brasileiros que consideram justa a nossa causa, ex atletas, como Bebeto, Aldair, Júnior, Vampeta, Dida. Vamos procurar João Ubaldo, Gilberto Gil, Caetano Veloso. O próximo alvo é associar com o São João, que a Bahia vende hoje como produto nacional.
Caso a abertura fosse em Salvador, qual seria o custo extra?
Há uma previsão do valor das arquibancadas provisórias que seriam montadas na Fonte Nova?Se a abertura for confirmada, teremos muito mais financiamento do que teríamos. Porque o Rio (de Janeiro) está sendo contemplado?
Por causa das Olimpíadas de 2016. O que tem hoje como condicionante físico são os assentos. Seriam mais 15 mil, pois nosso estádio é para 50 mil. Nós convidamos a empresa que fez os assentos modulares de Durban e Cape Town (África do Sul), eles vieram a Salvador duas vezes, fizeram a análise preliminar e uma proposição de estudo para chegar aos números, porque tem que ver se a fundação na área da ferradura suporta.
Mas não há uma estimativa de valor?A informação que eu tive da Fifa é que, para comprar, o custo é em torno de 30% de um assento fixo. Se for alugar, é menos de um terço.
Agora, qual a orientação do governador?
Só damos o passo seguinte quando tiver a liberação. Não estamos com uma visão de campanha de abertura até a morte. Não aceitamos é tratamento diferenciado, dizer que pode em São Paulo e não pode na Bahia. Se a gente for convencido, estaremos abertos para discutir alternativas: semifinais, disputa de 3º e 4º lugares, a própria abertura da Copa das Confederações, que traz a Seleção Brasileira. Ao ter se posicionada, a Bahia sentou a mesa. Descemos da arquibancada e estamos no campo, jogando o jogo.
Após a Copa, a uma indefinição sobre a sustentabilidade da Fonte Nova, que é o Vitória jogar lá. Há alguma novidade?Não. Sou conselheiro do clube e o conselho não tomou conhecimento de nenhuma oficialização do processo. Fiz uma mediação, mas quem está conduzindo isso é a FNP (Fonte Nova Participações). Há uma proposta de o Vitória assinar um memorando de entendimento, como o Bahia. É como se você dissesse “finalizamos o interesse em conversar sobre uma fórmula econômico-financeira que, se for para nós interessante, submeteremos à instância deliberativa”.
Como mediador, o senhor não percebe pressão da FNP?A FNP quer que isso aconteça e tem razão. Quanto mais cedo, mais você tem a equação da sustentabilidade econômico-financeira resolvida. Mas não é nenhuma pressão que... Qual instrumento que ela teria para pressionar? O Vitória tem seu estádio privado. Se ele não quiser...
Exatamente por ter seu estádio, não seria mau negócios?Não. Falando como conselheiro, torcedor e cidadão, acho que não. Quando estiver construída, e os investimentos forem feitos em torno dela, a Arena Fonte Nova terá enorme atratividade de público. Se mandar seus jogos lá, o Vitória pode acompanhar uma modelagem semelhante à do Bahia. Pode fazer um entendimento com as construtoras que conforma a parceria público-privada, Odebretch e Oas, e, por exemplo, acertar a construção de um centro de treinamento e ceder aquele ativo por um valor elevado.
O ativo é o estádio do Barradão?O estádio e todo aquele equipamento, a área que pertence ao Vitória. Pode ser uma ingestão de recursos importantíssima para por o clube na Primeira Divisão em prazo curto, investir num time mais competitivo e fazer um centro de treinamento moderno. Para o Vitória, a condicionante que eu faria, opinando como torcedor e conselheiro, é não se desfazer do estádio sem um belo centro de treinamento. O Vitória pode fazer as contas e ver se é vantajoso. Claro que terá resistência de conselheiros, torcida, é natural. Aquele patrimônio foi construído com sacrifício e trouxe muitas vitórias, fazem essa associação. Mas tenha paciência. Os resultados dos clubes não tem associação com a qualidade dos estádios. Têm, sim, com centros de treinamento, estruturas de apoio de fisiologia, nutrição, investimento na base.
A escolha das sedes da Copa foi em 31/5/2009, há dois anos. Em Salvador, não há obra fora do estádio. Não é preocupante?Não acho que seja. Os prazos apresentados pelas secretarias são dentro de 2013, 2014. Todas já estão em fase de projeto básico, não está começando do zero. Não tem ainda obra física, e é natural que a população se preocupe. E nós não devemos agir de maneira a achar que está tudo fácil. O prazo é sempre curto. Não vamos ter um calendário folgado de Copa. Mas, neste momento, não há nenhum prazo que, digamos, tenha acendido o sinal vermelho.
Nem na questão de mobilidade?Eu considero que não, pelos prazos da própria Sedur, que diz que entrega em maio de 2013. Eu acho que, se for entregue no final de 2013, não vamos ter problema com a Copa.
Um grande debate tem havido entre adotar o VLT ou o BRT, que seria mais viável. O senhor acha que o VLT tem chance?O governo tomou uma decisão, anunciada pelo secretário Carlos Martins (Fazenda), que considero a mais inteligente: um procedimento de manifestação de interesse, para que essas alternativas de modais sejam apresentadas com prazo, custo e modelagem de financiamento. Se for viável, com prazo de execução até 2014, uma modelagem de metrô de superfície ou VLT, não tenho dúvida de que é a melhor solução. Temos que pensar a cidade na escala de um sistema metroviário. Se a gente articula os 19 Km da Paralela com os 6 Km já construídos e mais 6 Km que até Pirajá, você tem 31 Km e começa a dar ao metrô viabilidade. Temos que acabar com essa discussão entre BRT e VLT como se fosse um Ba-Vi. Tem que ser o melhor modal para o melhor local.
O senhor considera o lobby dos empresários de ônibus a favor do BRT o maior obstáculo para uma definição?Quem vai tomar o dinheiro emprestado é o governo do estado, que não tem relação nenhuma com esses empresários. Eles são empresários de uma permissão, a título precário, da Prefeitura de Salvador. O governo não tem com eles relação contratual e está absolutamente à vontade para tomar a decisão. Claro, ouvindo a prefeitura, pois não pode tomar uma decisão no âmbito de Salvador sem ouvir a prefeitura. Claro que há um lobby, os empresários tem interesses e propõem o BRT. É preciso reconhecer que é um sistema moderno, que traz ônibus articulados, com grande capacidade e deslocamento rápido, é mais barato e de prazo mais curto para a execução. Então não podemos destronar o BRT como uma péssima alternativa. Agora, na lógica de quem tem 6 Km de metrô ainda por funcionar, é preciso que a decisão enxergue isso: o que é melhor para a cidade
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