GE, dona dos reatores de Fukushima, diz que desastres no Japão foram além do que era possível prever
Valor EconômicoJosette Goulart
De São Paulo
John Krenicki, presidente mundial da GE Energy, não lembra exatamente onde estava no dia 11 de março quando um terremoto, seguido de um tsunami, atingiu o Japão. Mas ao saber da magnitude dos tremores e do tamanho das ondas, imediatamente se preocupou com a segurança da usina nuclear
de Fukushima Daiichi, que operava com reatores desenvolvidos pela GE na década de 70, no projeto conhecido por Mark 1. "Um terremoto de 9,0" Absolutamente fiquei preocupado", disse Krenicki ao Valor, ontem em São Paulo, horas depois de a Tokyo Electric Power Company (Tepco, empresa que opera a usina) ter dado indicações de que o acidente da usina de Fukushima pode se igualar a Tchernobil.
"O Mark 1 operou como o desenhado.
Mas não estava preparado para um tsnunami de 15 metros ou um terremoto de magnitude 9,0", afirmou.
O maior conglomerado americano sofreu críticas da imprensa do seu país depois da notícia do vazamento nuclear, alguns dias após o terremoto. Reportagens de jornais importantes nos Estados Unidos, como o "The New York Times", chegaram a afirmar que o reator nuclear da GE é um projeto frágil que sofre críticas há 40 anos.
A grande preocupação diz respeito às usinas americanas que usam esse tipo de turbina e estão localizadas em 16 diferentes cidades do país.
Mas a empresa pondera que em todo esse período nenhum grave acidente foi registrado nos reatores que desenvolveu.
Os investidores também parecem confiar na GE, já que suas ações na Bolsa de Nova York pouco caíram desde o desastre. "Não podemos esquecer que o negócio nuclear é altamente regulado e vinculado a decisões soberanas.
São os governos que estabelecem os padrões de suas usinas", diz Krenicki.
O negócio nuclear representou no ano passado menos de 1% do faturamento global da companhia. Mesmo assim, em valores absolutos, o valor não é desprezível: os reatores da GE foram responsáveis pela geração de US$ 1 bilhão para seu caixa.
Krenicki não conta com faturamento sequer parecido neste ano e diz que o acidente no Japão vai fazer com que essa indústria faça uma pausa para que os governos repensem seus padrões. "O que estamos aprendendo é que apesar de se tratar da indústria mais regulada do planeta, alguns desastres naturais vão além do que os próprios governos estimam", diz Krenicki.
Essa pausa não deve afetar os negócios, na previsão de Krenicki, que vê outros mercados de energia se desenvolvendo, como os de eólica, gás natural e petróleo.
Só neste ano, a GE Energy gastou US$ 11 bilhões para comprar quatro diferentes empresas e com isso poder entregar uma gama maior de produtos a seus clientes.
O último negócio foi anunciado há menos de 15 dias, quando a GE comprou a empresa francesa Converteam por US$ 3,2 bilhões. A Converteam tem boa base no Brasil, mas as compras ainda não podem ser mensuradas por mercado, segundo Krenicki.
De qualquer forma, é no suprimento de equipamentos para geração de energia eólica que a empresa quer crescer no país.
O governo brasileiro, entretanto, já sinalizou que, apesar do desastre japonês, pretende incentivar a energia nuclear. Ontem mesmo, a Eletrobras Eletronuclear fez duras crítica a Eike Batista, que chamou a energia nuclear de 'monstro'. "O bilionário Eike Batista se junta ao coro daqueles que vêem o acidente de Fukushima como uma oportunidade de alavancar negócios, no caso, a geração elétrica a carvão mineral importado de suas minas na Colômbia", diz a nota enviada ao Valor Online. "As necessidades do sistema elétrico brasileiro apontam para um papel a ser desempenhado pela geração térmica na base. Nuclear, carvão e, em menor escala, gás natural, são as alternativas disponíveis".
"As companhias privadas não fazem nada que os governos não queiram", diz Krenicki, da GE Energy. "O Brasil é um país que tem escolhas e opções. O Japão teve um forte programa nuclear porque não tem recursos naturais como tem o Brasil."
O Japão neste momento pós tragédia teve de implementar medidas de racionamento de energia, em função da parada de uma de suas principais usinas nucleares.
O presidente da GE Energy esteve na semana passada no país, junto com o presidente mundial da companhia, Jeffrey Immelt, para estudar a possibilidade de fornecer, extraordinariamente, turbinas movidas a gás para que usinas termelétricas possam suprir a necessidade de eletricidade do país.
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